Um fio pra te convencer que Tóquio🗼🇯🇵 tem o melhor urbanismo do mundo, com inúmeras práticas para inspirar grandes cidades brasileiras. Vem comigo:
No séc. 18, Tóquio já tinha mais de 1 milhão de habitantes. Ao longo da sua história, a cidade sofreu com terremotos e bombardeios, possuindo hoje uma estrutura urbana complexa e diversa, com diferentes camadas históricas, usos mistos e diferentes tipologias arquitetônicas.
Os episódios destrutivos foram utilizados como oportunidade para abertura de vias largas e espaços públicos via Land Readjustment, transformando a antiga e estreita estrutura viária que, caso fosse mantida, poderia ter sido um gargalo ao seu crescimento urbano.
Lotes pequenos, sendo muito comuns áreas de 60 a 100m2, ausentes dos afastamentos obrigatórios quase unânimes nas legislações brasileiras, geram uma ocupação intensa e eficiente do solo urbano. Na imagem, edifício de 12 andares em Ginza em um terreno com ~50m2.
"Sobras" de áreas entre vielas estreitas, que seriam no máximo um canteiro ajardinado em cidades brasileiras, dão espaço para mini-edificações de ~4m de profundidade que permitem pequenas lojas e restaurantes, neste caso em Omotesando.
Algumas situações são ainda mais radicais: nesta foto podemos ver 2 edifícios tão próximos que parecem apenas 1. O edifício branco, à frente (com outdoor escrito KARE) ocupa uma área que, em cidades brasileiras, seria apenas mais um recuo de jardim mal utilizado.
Apesar da baixa altura de muitos edifícios, são compactos e fazem bom uso do solo. É uma das cidades que + constrói moradia do mundo: enquanto SP constrói ~30 mil unidades/ano, Tóquio constrói ~140 mil, permitindo ampla acessibilidade à moradia.
A cidade continua se transformando em uma velocidade incrível. Mesmo em frente ao Palácio Imperial sobem grandes edifícios, e diversas regiões da cidade passam por um processo de verticalização e ocupação ainda mais intensa do uso do solo.
O carro definitivamente não é prioridade de planejamento. É comum ver edifícios de rendas mais altas com elevadores para carros a fim de fazer bom uso do espaço construído.
Nos espaços públicos é raríssimo ver espaços de estacionamento como conhecemos nas cidades brasileiras: a rua serve, de fato, para uso público. Nesta foto um exemplo de vagas reservadas para carga e descarga em locais específicos -- mas nunca para permanência.
Isso não significa que a cidade não teve um investimento forte em viadutos no passado. Mas eles são extremamente integrados no ambiente urbano, quase sempre com um espaço comercial ocupando as áreas inferiores.
Tendo até exemplos de ruelas "boêmias" junto a elevados, áreas que, em grandes cidades brasileiras, são inóspitas e perigosas.
O espaço público é vivo e humano. O que ocidentais chamam de "espaços compartilhados" (onde diferentes modos de transporte usam a rua) como um ineditismo urbanístico, é praticamente a regra nas ruas de bairro de Tóquio, apenas com marcações de piso para orientar os pedestres.
Com vida e segurança nos espaços públicos, crianças utilizam a cidade em intensidade semelhante aos adultos. Faz parte da cultura crianças andarem sozinhas desde muito pequenas, a partir de 5 ou 6 anos, e praças são utilizadas com frequência para o intervalo das escolas.
A vida urbana permite uma cidade que funciona 24h, com destaque para áreas como Akihabara. A preocupação com "limpeza visual", frequente no Brasil talvez pela herança europeia, como enterramento de fios elétricos ou banimento de propagandas, é incomum: o "caos" define a paisagem
O foco em infraestrutura e espaços públicos é evidente: enquanto terrenos privados tem relativa liberdade para diferentes usos, tipologias e ocupações, o poder público investe em medidas como a requalificação de riachos urbanos...
...serviços de limpeza urbana (a cidade é extremamente limpa e mini-caminhões dão conta de acessar ruas estreitas)...
...a chamada "catedral subterrânea": uma obra de infraestrutura gigantesca para captação de água para mitigação de enchentes...
...e, como não poderia faltar, o cruzamento de pedestres mais movimentado do mundo, em Shibuya.
A rede de metrô é das mais sofisticadas e complexas do mundo, com 2 empresas concorrentes operando de forma interligada. Subsídios operacionais são mínimos. Embora a rede seja ampliada com recursos públicos, o custo é mitigado com desenvolvimento imobiliário ao redor das estações
Este mapa para passageiros, por exemplo, mostra o acesso a diferentes estações em 5 andares de subsolo. Também é possível ver no topo do diagrama que as principais estações são normalmente conectadas com grandes empreendimentos, edifícios à esquerda e à direita da imagem.
E, ao contrário do que normalmente é divulgado, as estações não são abarrotadas de gente o dia todo.
Como complemento à rede, ônibus de tamanhos variados transitam na superfície, em destaque nessa foto para o microônibus que faz rotas de maior capilaridade.
A realidade "caótica" de Tóquio tem muito a ensinar às cidades brasileiras. Para saber mais e ter acesso às referências desse fio, leia a série especial sobre a urbanização de Tóquio aqui: caosplanejado.com/dos-samurais-a…
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