Em relação ao fecho das centrais de #carvão , as barragens vazias e a alegada relação com a subida das #importações de eletricidade de Espanha⚡️, gostaria de complementar o excelente artigo do @mpradoexpresso com alguns bonecos e info adicional.
Fica aqui a THREAD.
#energiapt 1/
Tem sido recorrente o argumento de que "fechámos as centrais a carvão e agora importamos eletricidade produzida com carvão de Espanha".
É verdade que uma parte da eletricidade importada de Espanha é produzida com carvão.
No entanto também na Espanha a contribuição do carvão tem descido consistentemente nos últimos anos.
Em 2017, o carvão representou em Espanha 17% da eletricidade produzida e em 2021 apenas 2%, como mostra o gráfico da esquerda. 3/
As importações de eletricidade em Portugal em 2021 corresponderam a 10% do consumo. Isto significa que consumimos em Portugal apenas ~0.2% de eletricidade produzida com carvão (2% carvão de 10% importações) 4/
Comparando a eletricidade produzida através de carvão que é importada com a que era produzida em Portugal em Sines e no Pego, nota-se que não houve substituição do "carvão nacional" com "carvão importado". 5/
Outro argumento que tem aparecido consiste na incapacidade de Portugal alimentar o consumo quando não há vento e sol e em situação de seca.
Apesar de Portugal ter um sistema produtor com muitas renováveis variáveis no tempo, possui ainda hoje quase 10 GW de potência firme. 6/
Mesmo não contando com as barragens não reversíveis (1500 MW), são um total de 8100 MW de potência despachável de backup às renováveis.
A somar à interligação com Espanha c/ capacidade superior a 3 GW, Portugal consegue manter o abastecimento do consumo máximo (ponta). 7/
Aliás durante as horas de consumo máximo (ponta) PT tende a não necessitar de importar e a conseguir satisfazer o consumo com produção própria.
O gráfico mostra o perfil de importações por hora, mostrando que só se importa durante a madrugada🌃(vazio) e em períodos de cheias☀️8/
Estes períodos de importação são coincidentes com:
🌃 Vazio: Península ibérica importa energia nuclear de França em "excesso" e barragens com armazenamento aproveitam para bombear água para a albufeira.
☀️Cheias: preços + baixos devido a abundância de energia solar de Espanha. 9/
Dadas as importações no período de cheias, a melhor maneira de as reduzir é aumentar a quantidade de potência solar fotovoltaica nacional.
Cada MWh de eletricidade solar que Portugal produzir neste período é um MWh que não será importado e que permitirá reduzir o preço. 10/
Durante a madrugada, não faz sentido tentar reduzir as importações. De facto, se Portugal importa eletricidade é porque é + barato fazê-lo do que produzir domesticamente.
Esta energia barata armazenada durante o período de vazio pode ser + tarde utilizada quando é necessária. 11/
Isto gera mais concorrência em períodos de maior consumo, reduzindo o preço e evitando as centrais poluentes a gás natural de produzirem, reduzindo também as emissões de CO2 e as importações de gás natural. 12/
E por falar em emissões de CO2, o fecho das centrais de carvão permitiu Portugal em 2021 nunca exceder o milhão ton CO2 emitidas/mês pelo seu sistema eletroprodutor.
Mesmo importando eletricidade de Espanha produzida com gás e carvão, as emissões têm vindo sempre a descer. 13/
Têm se colocado também questões em relação à soberania Portuguesa e excessiva dependência das importações de Espanha para o nosso fornecimento de eletricidade.
Num mercado ibérico único de eletricidade faz pouco sentido em falar de importações/exportações.
Estas trocas de ... 14/
... energia permitem quer Portugal e Espanha obter o melhor preço da eletricidade. Isso comprova-se com os momentos (raros) em que a capacidade de interligação está saturada. Nestes instantes o mercado divide-se nos dois países e resulta em preços diferentes p/ cada país. 15/
Nestas situações o país que importa paga um preço superior ao exportador, pois tem de acionar capacidade de reserva, que caso a interligação não estivesse saturada, não seria competitiva.
É portanto benéfico para todas as regiões estarem bem ligadas entre si. 16/
Sobre o fenómeno das albufeiras secas, como a do Castelo de Bode e Cabril no rio Zêzere e o Alto Lindoso no rio Lima, não tem que ver com o fecho das centrais a carvão, mas sim com a situação de seca extrema em que o país se encontra. 17/
Estas três barragens até reduziram a sua produção face ao mesmo período do ano passado (Setembro a Janeiro), mas não foi suficiente para evitar a descida dos níveis abaixo do normal. 18/
Comparando a situação de seca do ano de 2021 com outros anos, constata-se que no passado recente, em particular os anos de 2015 e 2017 foram bem mais graves. 19/
Apesar disso, o armazenamento de energia em albufeiras nunca teve tão baixo nos últimos 7 anos, pior que 2015 e 2017. 20/
Nas figuras em baixo comparam-se os níveis das albufeiras de Castelo de Bode e do Alto Lindoso nos anos de 2017 e 2021. Notam-se também hoje em dia níveis muito mais baixos que num ano de seca extrema como 2017. 21/
Comparando a geração total das hidroelétricas de 2017 com 2021, nota-se que no ano passado estas produziram 3.4x mais eletricidade que em 2017, apesar de se tratarem de dois anos de seca. 22/
Uma explicação para esta geração em demasia poderá ser os elevados preços do gás e licenças de emissão de carbono, que levaram os operadores das barragens a produzir mesmo com as reservas baixas. 23/
Mesmo ofertando energia a um preço mais alto, as hidroelétricas acabam por ser competitivas pois as centrais a gás ofertam a sua energia a um preço ainda mais elevado. 24/
O mesmo não ocorreu com as albufeiras com bombagem, como por ex. o Alqueva com níveis de água ainda dentro do normal.
É claro que Portugal precisa de apostar não só no solar fotovoltaico, mas também em converter barragens existentes em centrais com bombagem. 25/25
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