Segundo novo relatório do INE, a taxa de pobreza, após transferências sociais, aumentou para 17%, um valor superior ao dos últimos anos. Isto é um retrocesso civilizacional e é inconcebível o OE não responder a vários problemas. Mas a desigualdade ñ se fica por este indicador. 🧵
A taxa de risco de pobreza é determinada pelos rendimentos líquidos, sendo que se considera como limiar 60% do rendimento mediano, valor que em PT é de 591€/mês. Em 2022 criamos 81 mil novos pobres – a pobreza atinge mais de 2 milhões de cidadãos. 2/
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A distribuição salarial em Portugal é bastante desigual: a média é manifestamente superior à mediana, o que mostra que a maioria ganha um salário bastante baixo, havendo salários muito elevados que puxam a média para um valor significativo. 3/
A desigualdade salarial não só aumentou como atingiu valores não vistos desde 2017. O índice de Gini aumentou (que indica que a distribuição salarial é mais desigual), assim como os dois rácios mais comuns - a diferença entre os dois decis em extremos aumentou mais de 15%. 4/
A diferença S90/S10 é bastante visível no gráfico abaixo: grosso modo, a disparidade salarial aumentou entre as camadas mais baixas e mais altas, mas também entre o topo e a mediana. Ou seja, a diferença entre os mais ricos e a “classe média” é cada vez maior. 5/
Como é perfeitamente óbvio, mas alguns tentam ignorar, a desigualdade é interseccional: o aumento da taxa de risco da pobreza foi duas vezes superior nas mulheres do que nos homens, foi dez vezes superior no caso das crianças e inversamente proporcional às qualificações. 6/
Particularmente chocante é o facto da taxa de risco de pobreza ser cerca de 10% para trabalhadores, o que mostra que ter um trabalho não é suficiente para tirar as pessoas da miséria, assim como 1 em cada 6 reformados, dos estratos mais frágeis, está abaixo desse limiar. 7/
Em termos geográficos, a taxa de risco da pobreza afecta todas as geografias do país, com particular crescimento na AMLisboa, decorrente, também, de uma crise de rendimentos, de contratos de trabalho mais precários e dos custos da habitação serem cada vez mais incomportáveis. 8/
Também é bastante chocante o dado de que antes de qualquer transferência, incluindo pensões, mais de 4 em cada 10 cidadãos está em risco de pobreza. Mesmo com pensões, mais de 1 em cada 5 portugueses está em risco de pobreza. De isto se infere que os salários são muito baixos. 9/
Nem tudo é desolador. Temos visto uma diminuição gradual da taxa de privação material e social, incluindo a severa. Continuam, ainda assim, a ser valores demasiado elevados para um país ocidental e digo avançado. 10/
A taxa de pobreza em Portugal está 1.5 pp abaixo da média europeia, que se encontra muito elevada devido à desigualdade estrutural da Roménia da Bulgária. Sem estes dois países, cada um com a sua especificidade, Portugal ficaria acima da média europeia. 11/
Isto também serve para os ilustres, como João Miguel Tavares ou o @LiberdadeMais, que costumam dizer que a Roménia é um paraíso porque nos ultrapassou em PIB pc. Sucede que 1 em cada 3 romenos vive em pobreza. Não é, definitivamente, o exemplo que queremos. 12/
@LiberdadeMais Há muito que se pode fazer pela igualdade dos rendimentos. A começar, aumentar o poder dos trabalhadores através dos sindicatos e da negociação colectiva e a obrigatoriedade da inclusão de representantes dos trabalhadores nos conselhos de administração. Mas isto não chega. 13/
@LiberdadeMais Não se concebe este OE quando temos estes dados. A não-alteração do regime de especialização da nossa economia, baseada em serviços e produções de baixo valor acrescentado, é uma sentença de baixos salários. O desinvestimento e falência de serviços públicos em nada ajuda. 14/
@LiberdadeMais Há muito a fazer a nível da conformidade estrutural do nosso sistema político e económico. Este OE mantém todo o status quo desigualitário. Depois, não nos podemos queixar quando a população, cada vez mais atirada para o fosso da desigualdade, optar por soluções extremistas.15/15
*o risco de pobreza atingue pouco menos de 2 milhões de cidadãos, como se lê na fonte.
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