Thread by @ccostah

Geralmente, o comprimento da cauda de uma #serpente nos diz um pouco sobre seus hábitos. Cobras arborícolas tendem a ter cauda longa; as aquáticas e as que se enterram (fossoriais) têm cauda curta; as terrícolas têm cauda de tamanho intermediário. Vou mostrar aqui uma exceção. +

'Dendrophidion dendrophis' é uma espécie amazônica, não-peçonhenta. 'Dendro' significa 'árvore' e 'ophidion'/'ophis' é 'serpente'. Ou seja, 'cobra-d'árvore', por assim dizer. A longa cauda, que pode chegar a 50% do comprimento total, denuncia hábito arborícola. Só que não. +

As 'Dendrophidion dendrophis' se deslocam mais é pelo chão. A longa cauda na verdade esconde uma forma defesa, a urotomia.
Se agarrada pelo rabo, a cobra se contorce e literalmente quebra a cauda, para sair viva da enrascada. +

Foto: scielo.iec.gov.br/scielo.php?scr…

Muitos já viram lagartos fazerem urotomia. Só que enquanto a cauda deles se regenera, com ossos substituídos por um bastão de cartilagem, nas poucas espécies de serpentes que fazem urotomia, a cauda não se regenera. Daí temos autotomia (lagartos) e pseudoautotomia (cobras). +

Estudo de #cientistas do @museugoeldi e @mzusp de 2013 investigou a pseudoautotomia nesta e outra espécie, a jararacuçu-do-brejo ('Mastigodryas bifossatus'), indicando que ñ há nenhuma especialização morfológica que facilite a quebra da cauda. É 'roots'. +
dx.doi.org/10.1643/CH-12-…

Em 2015 publicamos um estudo parecido com 2 espécies do gênero 'Drymoluber'. Entre 26 e 40% dos exemplares de coleções de museus tinham a cauda fraturada e cicatrizada. Quanto maior (e mais velha) a cobra, maiores as chances dela precisar da urotomia. |

nrcresearchpress.com/doi/abs/10.113…

PS: Tive a ideia dessa sequência após o pedido de identificação de uma espécie pelo @vitornasc. :-)