Sabem o que é que falta na questão das touradas? Análise de classe. Acho incrível como o PCP ignora isso, bem como certas concelhias do Bloco, como é o caso de Vila Franca, Salvaterra, Azambuja, entre outras.
Os eventos tauromáquicos não são do povo. E sai uma thread!
Comecemos pelos toureiros, a pé ou a cavalo. Na sua grande maioria vêm de famílias abastadas da aristocracia rural, como é o caso dos Ribeiro Telles. São os únicos que apenas dependem da corrida de touros para obterem o seu rendimento, mas não são meros assalariados.
Depois temos os ganadeiros. Famílias como os Palha que vivem da exploração do latifúndio ribatejano para a criação do touro e obtêm rendas a partir de dinheiros públicos de autarquias como a de Vila Franca de Xira. No fim de contas são elas que lucram com o negócio da tourada.
Historicamente, a corrida de touros sempre foi um evento de uma minoria aristocrata. As tentativas de a popularizar apareceram no século XX com festas como o Colete Encarnado, a Feira de Maio ou o Barrete Verde, que ainda guardam uma certa dose de marialvismo.
Festas essas que muitas vezes apelam aos trabalhadores rurais, como é o caso dos campinos no Colete Encarnado, numa espécie de homenagem para fingir que não são os marialvas os verdadeiros beneficiados de todo aquele aparato.
Com a popularização vieram as garraiadas, as largadas e as esperas. Interessava ao capital rural manter o povo encantado, divertido e alienado com álcool, festa e barbárie animal. As ruas da vila passaram a arenas e todos podiam ser toureiros. Oh, quanta democracia!
Mas no meio da "democracia tauromáquica" reinam ainda os maiores da aldeia: os forcados, que se sentem na condição ideal para distribuir pancada a quem lhes apeteça, os toureiros, que gozam de um estatuto heróico quase divino e os ganadeiros, que ainda não saíram do feudalismo.
Convém não esquecer os Luíses Capuchas desta vida: intelectuais defensores da manutenção de todo este lobby. Louvados pelos apoiantes mais acérrimos e elemento fundamental das trocas de galhardetes ridículas que são os debates sobre a tourada.
Por fim, é preciso não esquecer que há uma fatia considerável do orçamento de estado para a cultura que vai para financiar tudo isto, sendo que nas autarquias ribatejanas é especialmente gritante. Tudo para encher os bolsos dos ganadeiros, dos toureiros e restantes marialvas
A tourada não é simplesmente a crueldade animal como entretenimento. É um negócio gigante e um lobby poderoso do qual se tem medo. É a exploração dos trabalhadores rurais e, mais do que tudo, é o ópio das massas ribatejanas (e não só).
Por isso, serei sempre contra a falta de noção do PCP ao colocar-se do lado dos ganadeiros e contra certas concelhias do Bloco por ignorarem a questão. De nada nos vale a análise do PAN se ela simplesmente remete para a ética de defesa dos animais e passa por cima de tudo o resto
Quem cresce no Ribatejo sabe o duro que é ter-se uma posição demarcada e controversa relativamente a este assunto. Que nunca nos falte a coragem. Anti-tourada, sempre!
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