Conexão Fut Profile picture
Aug 13, 2019 33 tweets 11 min read Read on X
[THREAD] O QUE ESPERAR DE ROGÉRIO CENI NO CRUZEIRO?

Suas ideias de jogo preferidas são claríssimas, mas o poder de adaptação que demonstrou no Fortaleza o credencia com sobras para a nova missão. Análise de @PasseEPosse

Para mais conteúdos, clique aqui: bit.ly/2TtO373
"Eu vou me adaptar ao elenco que tiver", disse Rogério Ceni em sua apresentação no São Paulo, no final de 2016. "A minha intenção é jogar ofensivamente, pressionando e buscando o gol, mas é claro que às vezes poderão ser feitos ajustes. Tudo irá depender das opções que tenho".
E é interessante notar que a trajetória de Rogério Ceni como técnico possui uma tendência crescente neste seu poder de adaptação, desde um início cheio de dificuldades no São Paulo, passando por uma fase de construção no Fortaleza até chegar à sua consolidação nos últimos meses.
Um bom resumo do trabalho de Rogério Ceni no São Paulo pode ser feito com um atalho chamado Jorge Sampaoli, que, ao lado de Osorio, talvez seja a sua principal referência futebolística atual. Ele bebeu da fonte desta escola mais ofensiva e agressiva e simplesmente se apaixonou.
Com a bola, Rogério Ceni organizava um 4-3-3 para facilitar a criação de triângulos nas trocas de passes, a base de seu jogo. Os laterais avançavam para abrir defesas adversárias e quem mais recuava para ajudar os zagueiros era o primeiro volante, dando vida a uma saída de três.
Existiam certas adaptações, mas tudo ainda era um tanto ortodoxo, muito menos híbrido do que passou a ser depois – e isso nos remete às dificuldades de alguém que está descobrindo um mundo novo, moldando o seu estilo, enfrentando problemas todos os dias e adquirindo experiência.
Como diz Pep Guardiola, "há alguns princípios que são intocáveis, mas tudo é uma questão de se ajustar continuamente". O futebol é feito pelos jogadores, e Rogério Ceni não precisou de muito tempo para entender isso.
No Fortaleza, em 2018, um sonho que talvez nem os torcedores mais otimistas imaginavam estar tão perto. O vice estadual não abalou as estruturas de um trabalho promissor e assim tornou-se possível a campanha de destaque na Série B, o primeiro título nacional da história do clube.
Dentro de campo, embora tenha sido líder no quesito trocas de passes, Rogério Ceni entendeu o contexto em que estava e se adaptou. O time da posse de bola, então, também foi o time de Gustavo, o "Gustagol". Foi assim que o Fortaleza liderou a Série B de ponta a ponta, sem sustos.
Gustavo é um 9 típico, que se destaca mais por seus duelos físicos dentro da área do que pelo que faz fora dela. Muitos não veem isso com bons olhos num time que preza pela bola, mas Ceni deixou o equilíbrio falar mais alto entre os seus princípios e as necessárias adaptações.
Por característica, a Série B sempre foi um torneio marcado por muitas disputas físicas, com mais transpiração do que inspiração. É por isso que grandes times do torneio na última década se destacaram mais por um jogo baseado em transições, ritmo e cruzamentos.
Rogério Ceni percebeu isso e foi buscar um atacante perfeito para tal cenário. Ele deveria abrir mão desta arma para encaixar em seu time mais um jogador que valorizasse a posse? Os 30 gols de Gustavo em sua passagem pelo Fortaleza talvez respondam que a escolha foi acertada.
O Fortaleza de 2018, portanto, tinha o seu poderio ofensivo nesta busca pela valorização da posse para construir ataques com bola no chão, mas também com Gustavo dando sentido a jogadas por fora e sendo uma solução para o jogo direto quando a troca de passes não encaixava.
Os laterais davam amplitude ao jogo do Fortaleza, os pontas se movimentavam por dentro e a dupla de volantes formava um quadrado com os dois zagueiros na saída de bola, deixando Dodô com mais liberdade tanto para recuar e organizar quanto para avançar e finalizar.
Em 2019, a continuidade do trabalho trouxe um grau de exigência naturalmente maior. Sem Gustavo, apareceram novos desafios, com uma necessidade de manter uma base vencedora e entrosada para facilitar a compreensão com ainda mais rapidez do contexto que se apresentaria na Série A.
Para a vaga específica do camisa 9, já que seria difícil encontrar alguém melhor do que Gustavo para aqueles fins, Rogério Ceni voltou a acionar o seu poder de adaptação, desfazendo-se de um centroavante e um meia para dar lugar a uma dupla de ataque mais móvel.
Júnior Santos, Kieza, Wellington Paulista e André Luís foram usados no ataque. Alguns mais fortes fisicamente, outros menos, mas, em suma, todos bem diferentes em suas características. E nenhum como Gustavo.
Os laterais se mantinham abertos, os homens de lado continuavam cortando para dentro, a busca incessante pela recuperação da bola era a mesma e o recuo para formar duas linhas de quatro quando isso não acontecia também estava lá, mas Ceni sempre fazia os ajustes necessários.
Neste sentido, os números do Fortaleza na Série A são categóricos: foi apenas o 14º que mais trocou passes e o 15º no ranking de posse. Nada mais natural diante de times bem mais valiosos e com um desgaste tão grande após viagens quase sempre excessivamente longas a cada rodada.
Ao Fortaleza, porém, competitividade raramente faltou. E não há provas maiores do que os seus três títulos (à Série B de 2018 somam-se o Estadual e a Copa do Nordeste de 2019) e o fato de deixá-lo fora da zona do rebaixamento – com uma diferença que hoje é de seis pontos.
Os princípios de jogo preferidos de Rogério Ceni continuam na sua cabeça. O que ele quer é um futebol ofensivo, controlando a partida com a bola nos pés e obrigando o adversário a reagir às suas ações. Mas, se essa não for a melhor estratégia para determinado jogo, sem problemas.
Esse Raio-X de Rogério Ceni certamente é animador para o torcedor do Cruzeiro. O momento político conturbado e a má fase que já dura meses são fatores preocupantes, mas o elenco de alto nível tende a suavizar os obstáculos que inicialmente serão encontrados pelo novo treinador.
Das suas obrigações como técnico do Cruzeiro, destacam-se especialmente duas: 1. convencer futebolistas já experientes de que o seu estilo de jogo intenso é o melhor caminho; e 2. demonstrar que esse poder de adaptação realmente foi algo que se incorporou à sua personalidade.
Esse segundo desafio é ainda mais delicado pelo fato de o Cruzeiro dos últimos anos ter se caracterizado muito mais pela ordem defensiva do que pela elaboração ofensiva. O segredo está em manter a solidez lá atrás ao mesmo tempo em que aumenta o poder de fogo mais à frente.
Embora ainda falte pelo menos um reserva de alto nível, Dedé e Léo formam uma das melhores duplas de zaga do país. Com Orejuela, Edílson, Egídio e Dodô, as opções de laterais que jogam por fora estão aí – e especialmente o último também pode se arriscar nas construções por dentro
No meio de campo, Henrique deve assumir um papel importante na saída de bola, com critério nos primeiros passes e segurança na circulação – sem contar as ótimas opções que são Ariel Cabral e Jadson, ambos com capacidade tanto para jogar ao seu lado quanto substituindo-o.
Robinho tem tudo para ser um ponto-chave do trabalho de Rogério Ceni, a depender se será utilizado como um meia mais avançado que centraliza para organizar ou como segundo homem, ao lado de Henrique ou Ariel Cabral, encorpando a saída de bola desde a intermediária defensiva.
Thiago Neves e Rodriguinho são ótimos nos últimos metros como aliados de Sassá ou mais provavelmente Fred – que é menos alto do que Gustavo, mas também tem presença de área e finaliza ainda melhor, além de ser dono de um requinte técnico maior na hora de recuar para fazer o pivô.
Pedro Rocha é um destaque quase certo ao se alternar entre receber por dentro, nas costas dos volantes adversários, ou por fora, buscando diagonais mais incisivas ou jogadas de linha de fundo. Marquinhos Gabriel e David também serão importantes neste aspecto.
Por fim, será curioso ver Fábio, um goleiro já consagrado e prestes a completar 39 anos, trabalhando com os pés. Para muitos isso pode significar uma dose de perigo desnecessário, mas tanto Rogério Ceni quanto Fábio parecem ser do tipo de pessoas que dão a isso o nome de evolução
A temporada já se encaminha para a sua reta final e, como qualquer outro profissional do mundo, Rogério Ceni precisará de tempo. Haverá certa urgência devido à situação na tabela, mas o ideal é que o ano de 2019 seja visto como uma espécie de aperitivo antes do prato principal.
Em 2020, com pré-temporada e um mercado de transferências sob as ordens de Rogério Ceni, tudo deve melhorar. Até porque ele é um estrategista muito melhor do que antes e – essa é a boa notícia – muito pior do que ainda será. Quando lhe deu tempo, o Fortaleza não se arrependeu.
Para receber mais conteúdos como esse, você só precisa clicar neste link e se cadastrar gratuitamente. Há muito mais análises a caminho e assim você garante que não perderá nenhuma delas: conexaofut.com.br/?src=tw-thread…

• • •

Missing some Tweet in this thread? You can try to force a refresh
 

Keep Current with Conexão Fut

Conexão Fut Profile picture

Stay in touch and get notified when new unrolls are available from this author!

Read all threads

This Thread may be Removed Anytime!

PDF

Twitter may remove this content at anytime! Save it as PDF for later use!

Try unrolling a thread yourself!

how to unroll video
  1. Follow @ThreadReaderApp to mention us!

  2. From a Twitter thread mention us with a keyword "unroll"
@threadreaderapp unroll

Practice here first or read more on our help page!

More from @conexaofutcombr

Nov 23, 2019
[THREAD] Afinal, que Flamengo é esse que se tornou protagonista no Brasil e no continente? Qual é a era que o clube está vivendo atualmente? Quais são os ingredientes que tornam esse sucesso absoluto algo tão especial?

Clique aqui para receber muito mais: bit.ly/33atqAd
A maior reunião de talentos individuais do futebol brasileiro na atualidade, um técnico extremamente competente que os potencializa jogo após jogo e um poderio financeiro que lhe permite sonhar ainda mais alto para o futuro. Tal mistura chega a ser quase imbatível.
Porém, embora esse crescimento vertiginoso também tenha tudo a ver com técnico e jogadores, o início se deu em dezembro de 2012, com a chegada do grupo liderado por Eduardo Bandeira de Mello à presidência. Trata-se de uma nova era na história do clube.
Read 19 tweets
Nov 4, 2019
"Muitos laterais são mais rápidos do que Filipe Luís, mas quase nenhum oferece tanta velocidade ao jogo quanto ele. Afinal de contas, quem corre é a bola" — @PasseEPosse
Não se deve esperar que Filipe Luís vá até a linha de fundo para cruzar, como exige a cultura de quem já teve Cafu e Roberto Carlos, mas não existe um lateral mais capaz do que ele para oferecer passes que fazem o seu time ganhar campo.
Enquanto as vitórias se multiplicam, tudo é festa. Ninguém nem percebe tal característica. Porém, quando e se a fase rubro-negra perder um pouco do seu brilho, não tenham a menor dúvida de que críticas vazias como essa começarão a surgir.
Read 4 tweets
Aug 23, 2019
[THREAD] No dia 23 de agosto de 2008, Messi foi campeão olímpico com a Argentina. E o que Guardiola fez antes do seu desembarque em Pequim é uma das grandes explicações para os anos dos sonhos que vieram depois.

Clique aqui para ler a história completa: bit.ly/2Noj0IZ
O primeiro sinal de que Messi poderia confiar de olhos fechados em Guardiola veio com a postura de seu novo comandante durante a primeira pré-temporada juntos, em 2008, às vésperas das Olimpíadas de Pequim.
O Barça vivia um momento complicado, com a recente demissão de Frank Rijkaard, especulações sobre as saídas de Deco e Ronaldinho e um tremendo mal-estar devido aos problemas de ego que afetavam boa parte do elenco.
Read 13 tweets
May 1, 2019
[THREAD] Há exatos dez anos, na noite de 1º de maio de 2009, um encontro secreto entre Messi e Guardiola daria início a uma nova era do futebol mundial.

Clique aqui para ter acesso à íntegra do "Dossiê Especial: Messi". É totalmente grátis: bit.ly/2V932aH
Eram 22h de uma sexta-feira, feriado de Primeiro de Maio, e Guardiola estava fazendo o que sempre faz às vésperas de qualquer partida: fechado em sua sala, ao som de música suave, passava algumas horas estudando mais a fundo as virtudes e fraquezas de seu próximo adversário.
Desta vez, o tal adversário seria um Real Madrid que, sob a batuta de Juande Ramos, não perdia há 17 rodadas. Naquela ocasião, o que estaria em jogo na prática era nada menos do que o título do Campeonato Espanhol de 2009.
Read 16 tweets

Did Thread Reader help you today?

Support us! We are indie developers!


This site is made by just two indie developers on a laptop doing marketing, support and development! Read more about the story.

Become a Premium Member ($3/month or $30/year) and get exclusive features!

Become Premium

Don't want to be a Premium member but still want to support us?

Make a small donation by buying us coffee ($5) or help with server cost ($10)

Donate via Paypal

Or Donate anonymously using crypto!

Ethereum

0xfe58350B80634f60Fa6Dc149a72b4DFbc17D341E copy

Bitcoin

3ATGMxNzCUFzxpMCHL5sWSt4DVtS8UqXpi copy

Thank you for your support!

Follow Us!

:(