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Aug 18, 2019 13 tweets 2 min read Read on X
Excertos do livro "De Como fazer Filosofia Sem Ser Grego, Estar Morto ou Ser Gênio", do Dr. Gonçalo Armijos Palácios (Editora da UFG, 1997):
"O especialista que tenho em mente é o erudito europeu que disseminou uma praga no Brasil, a de confundir comentar com filosofar, que poderia muito bem ser chamada de 'peste do comentador'."
"Não vou aborrecê-lo [o leitor] com pedantismos, citações intermináveis em português ou em línguas estrangeiras - certamente nada de grego ou de latim. (...) [V]ou dizer o que penso, não o que a academia espera que eu diga."
"A filosofia converteu-se em assunto obscuro, chato, incompreensível, afastado dos assuntos que interessam à maioria, inatingível pelos mortais comuns."
"Se fosse a língua que determinasse a possibilidade ou impossibilidade de refletirmos filosoficamente [como pensam Heidegger e seguidores], por que então os gregos contemporâneos não filosofam? (...) Afirmo que é a atitude perante as coisas que nos permite ou não filosofar."
"Por que [gregos antigos], então, faziam tanta filosofia, e tão boa? Porque se sentiam capazes de pensar por si sós. Os bárbaros eram os outros. Nós, como poderíamos fazer filosofia, se partimos do pressuposto contrário, que os bárbaros somos nós?"
"[H]á lugares onde os estudantes são forçados a admirar excessivamente a tradição e não se lhes permite ousar afastar-se dela. Esse lugar é a academia."
"Eu queria ver se alguém poderia receber um título de doutor em biologia com um trabalho cujo tema fosse 'O conceito de dor em Galeano' ou 'A noção de diarréia em Hipócrates'."
"[V]amos nomear os departamentos de 'Departamentos de Comentariologia', se a única coisa que fazemos, ou nos achamos em condições de fazer, é comentar textos filosóficos. [...] O especialista é o dono das opiniões sobre as ideias dos outros."
"Assim como o crítico de arte não é artista, nem o historiador da ciência é cientista, o mero comentador de textos filosóficos não é filósofo. (...) Hoje, em muitos lugares, parece que é proibido ter problemas filosóficos próprios."
"O ser humano tem, naturalmente, a tendência a filosofar. Isso está baseado na sua própria curiosidade natural, naquele afã por saber que se mostra nas pessoas desde muito cedo. Há razões culturais, religiosas, ideológicas e históricas que impedem que essa curiosidade seja...
orientada para a produção de filosofia e de ciência. Ou uma sociedade possui as instituições que estimulam a produção de cultura, como a dos mecenas da Renascença, ou as que a coíbem, como a intolerância religiosa e o autoritarismo acadêmico."
[Vou parar por aqui antes que eu cole o livro inteiro do Professor Gonçalo nas redes sociais. Bravo, Professor!]

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May 7
Começou a audiência sobre o Brasil no @Weaponization, o Subcomitê sobre a Instrumentalização do Governo Federal (americano), a audiência que Bolsonaro apontou como esperança. Acompanhem alguns pontos que chamarem a minha atenção neste fio.

Ao vivo:
@Weaponization A deputada Wild (democrata) pergunta "onde estava o comitê quando Bolsonaro tentou um golpe militar em 2022? Durante o ataque de 8 de janeiro?"
@Weaponization Wild traz o relatório final da CPI do 8 de Janeiro e o aniversário de 60 anos do golpe militar. "Que tenhamos uma parceira como iguais", ela diz. "Teremos diferenças, mesmo como parceiros e aliados próximos."
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May 5
Bolsonaro finalmente apareceu no Spaces do @MarioNawfal. "Passei quatro anos aqui no Brasil acusado de buscar a censura, o que não aconteceu."

"Durante a campanha eleitoral, quase todas as páginas derrubadas ou desmonetizavam me apoiavam."
@MarioNawfal "A censura quer destruir a direita no Brasil."
@MarioNawfal "Ainda bem que apareceu uma força vindo dos Estados Unidos, porque o governo Biden não cumpriu com seu compromisso de fazer a liberdade de expressão valer aqui no Brasil."
Read 39 tweets
Apr 27
Este artigo do Pablo Ortellado pode parecer à primeira vista um mea culpa de um arrependido por ter dito que ivermectina era "comprovadamente ineficaz" contra Covid (ou, se não disse, demorou a resistir à besteira). Mas não é tanto isso. Ainda tem muita teimosia de quem errou e tenta se justificar apelando para o antibolsonarismo psicótico do público presumido.

Ele está comentando um artigo do Olavo Amaral no Nexo, que eu elogiei aqui, dando boas-vindas ao Olavo para o clube contra as falsas certezas. Puxando um pouco a sardinha, bastava o Pablo ter lido minhas reportagens na Gazeta do Povo desde 2021. Se eu não sirvo, havia também o Daniel Tausk do IME-USP lá no Facebook este tempo todo, fazendo análises de cabeça fria, técnicas, corretas. Ignoraram por quê? Porque ele não podia ser comparado facilmente a personagens cientistas de um filme da Netflix?

Pablo começa assegurando o leitor que ele levanta o mindinho ao pegar a xícara do café. Não é como esses brutos que votam em Bolsonaro, essa ralé, essa súcia! Não vejam nisso sinalização de membresia na beautiful people. É só questão de defesa da democracia, da ciência, de tudo o que há de civilizado: de usar talheres para partir o seu bife Angus escocês.

Mas não quero ser muito implicante com o Pablo. Ele diz, já no primeiro parágrafo, que a oposição ao Bolsonaro "tomou a forma de uma negação automática". Eu só gostaria que ele me explicasse por que, então, o termo "negacionista" (seja lá o que isso for) só se aplica ao outro lado (mas notei suas aspas cautelosas, se é só menção tudo bem).

O articulista diz que "não havia nenhum estudo sólido provando sua ineficácia". Não havia, não há, nem haverá, porque o trabalho da ciência empírica não é provar coisa nenhuma, mas acumular evidências ("indícios" talvez seja termo melhor) que pendam a favor desta ou daquela hipótese. Além de ter evidências majoritariamente a seu favor, a melhor hipótese também deve fazer um bom trabalho de explicar o fenômeno. Pode procurar um só artigo científico em áreas empíricas como medicina que afirme "estamos provando X terminantemente". Não existe. Por isso, na dúvida, que é codificada pela estatística com rigor, não saímos usando a palavra "prova" por aí irresponsavelmente.

Pablo diz que o Bolsonaro começou tudo (é sempre culpa do coleguinha que bateu primeiro), que "não dispunha de evidências científicas para recomendar ivermectina (ou cloroquina)". Aí vou ter que protestar: essa afirmação é falsa. O que Pablo provavelmente quer dizer é que ele não dispunha de evidências suficientes. Mas é ingênua essa imagem da ciência em que hipóteses falsas nunca têm evidência nenhuma a favor delas. O caso geral é justamente o oposto, geralmente as hipóteses falsas têm evidências a favor, e é por isso que estão sendo discutidas e propostas. O estudo do Didier Raoult (HCQ) tinha muitos problemas, mas o que ele apresentou era evidência científica. "Científico" não é sinônimo de "verdadeiro". Pensar o contrário é um preconceito bajulador da ciência chamado cientificismo. Existe evidência insuficiente, evidência fraca, evidência ruim, e ciência ruim também.

O resto do texto do Ortellado está muito bom, me dá até um pouco de remorso por provocar. Quero deixar claro que acima de tudo eu o recebo com gratidão por finalmente isso aparecer nas páginas d'O Globo. Lembrando que eu tenho tido essa postura na Gazeta do Povo, que alguns tratam como a ralé do jornalismo (basta abrir e ler pra ver que é falso, como eu mesmo fiz antes de me aproximar do jornal), já há mais de três anos.

Mas não posso passar a oportunidade de lembrar que, se alguém perdeu a cabeça e se irracionalizou como reação a Bolsonaro, a culpa não pode ser do Bolsonaro, já que a cabeça não é dele. Cada um de nós tem responsabilidade pela nossa própria cabeça. Fazer birra infantil que tudo o que Bolsonaro falava tinha que ser falso (ou Lula, agora) foi patético, foi ridículo, tanto quanto uma parcela dos bolsonaristas que me enche o saco diariamente aqui porque eu não vou na onda de afirmar que a vacina da Pfizer causou uma onda de mortes súbitas sem evidências suficientes disso.

Meu sonho é que as pessoas sem interesse real por um assunto o largassem para que os interessados debatam entre si. O que aconteceu foi que o que parecia debate sobre eficácia ou ineficácia da ivermectina, ou hidroxicloroquina, era na verdade uma disputa a respeito de Bolsonaro ser ou não um bom presidente. Ora, isso é o que posso chamar de falsidade ideológica de debate: parece ser um assunto, mas é outro. E essa falsidade ideológica chegou até às páginas de revistas de medicina, lamentavelmente, como mostrei aqui:

Revistas médicas adotam viés político e prejudicam a própria reputação científica


Leiam também esssas matérias minhas:

“Racismo estrutural”, “teoria queer”: Infiltração ideológica põe em risco pesquisa científica


Revistas científicas afrouxam padrões e abraçam modas intelectuais de esquerda


E eu vou fundo na discussão da ciência, tenho também esta matéria crítica à revisão por pares, só implementada no pós-guerra, mas tida por muitos como obrigatória na publicação científica:

Censura, fraude e competição: processo de aprovação em revistas científicas atrapalha a ciência


Existe vida inteligente fora da imprensa progressista mainstream. E está entre os cinco maiores jornais do país. Basta ter uma dieta informacional variada para não cair nas principais armadilhas da mente politizada em excesso.

Link para o artigo de Ortellado, que é bom, apesar das minhas provocações: gazetadopovo.com.br/ideias/revista…
gazetadopovo.com.br/ideias/racismo…
gazetadopovo.com.br/ideias/revista…
gazetadopovo.com.br/ideias/censura…
oglobo.globo.com/opiniao/pablo-…Image
Só como amostra, acabo de bloquear mais um progressista que me chamou de "ivermectiner que se diz biólogo" (a pior parte do insulto, pra mim, é o anglicismo brega). O Ortellado e O Globo têm um longo caminho pela frente para desfazer a desinformação que seu lado fez na pandemia.
Só que, quando eu digo que a desinformação deve ser corrigida, em momento nenhum eu peço que seja pela via autoritária, da censura. Já o lado supostamente "pró-ciência"...
Read 4 tweets
Apr 20
O relatório da Polícia Federal contra Twitter Files Brasil mandado para Alexandre de Moraes tem certas coisas interessantes. Por exemplo, a conta do @Rconstantino está banida no Brasil, mas a PF printou. Então a PF se dá o privilégio de acessar o que Moraes baniu via VPN. Image
@Rconstantino Uma coisa central na retórica da PF é o abuso da palavra "ataque" para descrever críticas e comentários irritados COMPLETAMENTE DENTRO DA LEI. Alguém anda assistindo Globo News. Como eu disse antes, vocabulário infantil e imaturo de autoritários que não sabem lidar com crítica.
Que relatório bizarro. Só manda prints de tweets da repercussão dos Twitter Files e da ação do Subcomitê Jurídico da Câmara dos EUA, sem acusar ninguém de crime no começo, depois junta de forma louca com acusações contra Allan dos Santos e Barbara Destefani por coisas que interceptaram em 2019 e 2020. É um nothing burger, como diziam na era Trump.
Read 7 tweets
Apr 17
🚨BREAKING NEWS: comitê do Congresso americano confirma que o "governo brasileiro" forçou o X (Twitter) a censurar. Há um apêndice com 86 documentos, parecem ser as ordens judiciais que Elon Musk prometeu tornar públicas.
O comitê diz que mostrou, no caso americano, que "a censura do governo que começa com o propósito declarado de combater alegada 'desinformação' inevitavelmente se transmuta para o silenciamento de oponentes políticos e opiniões desfavorecidas por aqueles que estão no poder."
O comitê se diz muito preocupado com a situação do governo Biden ter feito pressão pela censura, mas que os problemas domésticos deles empalidecem frente a como "alguns governos estrangeiros, incluindo Canadá, França e Brasil buscaram censurar a expressão online".
Read 15 tweets
Apr 12
O Felipe Neto acabou de dizer que Noam Chomsky (grande defensor da liberdade de expressão dentro da esquerda) é um "grande filósofo", mas que os argumentos dele só servem para livros, não para tweets.

Basicamente, o argumento dele é o mesmo da Cármen Lúcia, estamos em situações de exceção. Agora falta saber quem é que está criando a exceção e por quê.
A Fabíola Cidral (UOL) perguntou qual é o limite da expressão, então. Felipe Neto alega que "nós temos que ter, para o ambiente digital, o mesmo grau de complexidade em relação à liberdade que nós temos no mundo físico".

Será que ele vai pedir para o Condomínio do Allan dos Santos expulsá-lo também? Talvez marcar uma conversa com o síndico, nos bastidores?
"Me desculpa, mas o Allan dos Santos não tem condição de frequentar a Internet" - Está dobrando a aposta, então. Não bastou fazer lobby pela censura dele no Twitter, ele quer bani-lo da Internet inteira.

Alegou que as fake news do Allan são "assassinas".

Do mesmo jeito que "piadas matam"? gazetadopovo.com.br/ideias/progres…
Read 5 tweets

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