Excertos do livro "De Como fazer Filosofia Sem Ser Grego, Estar Morto ou Ser Gênio", do Dr. Gonçalo Armijos Palácios (Editora da UFG, 1997):
"O especialista que tenho em mente é o erudito europeu que disseminou uma praga no Brasil, a de confundir comentar com filosofar, que poderia muito bem ser chamada de 'peste do comentador'."
"Não vou aborrecê-lo [o leitor] com pedantismos, citações intermináveis em português ou em línguas estrangeiras - certamente nada de grego ou de latim. (...) [V]ou dizer o que penso, não o que a academia espera que eu diga."
"A filosofia converteu-se em assunto obscuro, chato, incompreensível, afastado dos assuntos que interessam à maioria, inatingível pelos mortais comuns."
"Se fosse a língua que determinasse a possibilidade ou impossibilidade de refletirmos filosoficamente [como pensam Heidegger e seguidores], por que então os gregos contemporâneos não filosofam? (...) Afirmo que é a atitude perante as coisas que nos permite ou não filosofar."
"Por que [gregos antigos], então, faziam tanta filosofia, e tão boa? Porque se sentiam capazes de pensar por si sós. Os bárbaros eram os outros. Nós, como poderíamos fazer filosofia, se partimos do pressuposto contrário, que os bárbaros somos nós?"
"[H]á lugares onde os estudantes são forçados a admirar excessivamente a tradição e não se lhes permite ousar afastar-se dela. Esse lugar é a academia."
"Eu queria ver se alguém poderia receber um título de doutor em biologia com um trabalho cujo tema fosse 'O conceito de dor em Galeano' ou 'A noção de diarréia em Hipócrates'."
"[V]amos nomear os departamentos de 'Departamentos de Comentariologia', se a única coisa que fazemos, ou nos achamos em condições de fazer, é comentar textos filosóficos. [...] O especialista é o dono das opiniões sobre as ideias dos outros."
"Assim como o crítico de arte não é artista, nem o historiador da ciência é cientista, o mero comentador de textos filosóficos não é filósofo. (...) Hoje, em muitos lugares, parece que é proibido ter problemas filosóficos próprios."
"O ser humano tem, naturalmente, a tendência a filosofar. Isso está baseado na sua própria curiosidade natural, naquele afã por saber que se mostra nas pessoas desde muito cedo. Há razões culturais, religiosas, ideológicas e históricas que impedem que essa curiosidade seja...
orientada para a produção de filosofia e de ciência. Ou uma sociedade possui as instituições que estimulam a produção de cultura, como a dos mecenas da Renascença, ou as que a coíbem, como a intolerância religiosa e o autoritarismo acadêmico."
[Vou parar por aqui antes que eu cole o livro inteiro do Professor Gonçalo nas redes sociais. Bravo, Professor!]
• • •
Missing some Tweet in this thread? You can try to
force a refresh
🚨BREAKING NEWS: artigo usado por oponentes do tratamento precoce da Covid para alegar que hidroxicloroquina matou 17 mil foi RETRATADO, ou seja, rejeitado pós-publicação pela própria revista científica.
A revista Biomedicine & Pharmacotherapy explicou que recebeu muitas cartas com críticas, que planejava publicar as cartas sem necessariamente retratar o artigo. Porém, ao submeter a questão ao Comitê de Ética de Publicação (COPE). A conclusão do comitê foi que era errado manter o artigo publicado. O editor-chefe listou como principais problemas dados não confiáveis, especialmente da Bélgica, e que o pressuposto do artigo de que os pacientes recebiam o mesmo regime de tratamento com HCQ era errado.
A imprensa brasileira quase toda mentiu para você em janeiro. Teve até ex-ministro da Saúde contando vantagem de não ter recomendado a HCQ, achando que este estudo provava que essa droga, que é segura, mataria pessoas. Quem cobriu o assunto do jeito que ele merecia fui eu, na Gazeta do Povo:
Esta coluna do @pedrodoria é uma das coisas mais cínicas que já li na minha vida. E olha que eu já li o livro do Janones.
Mostrar que ele está errado não é difícil. Outro dia ele alegou que devemos obedecer ordens judiciais sem questionar, respondi com um marco do próprio STF em 1996 estabelecendo que ordem judicial ilegal deve ser desobedecida e que isso é um dever de cidadania.
Vamos lá:
"E, no cerne da história que a direita adota, está a ideia de que conservadores são calados pela elite progressista. Por políticos e juízes, professores e jornalistas, pelas redes sociais."
Isso não é uma "história". Isso é uma verdade. Em primeiro lugar, porque os progressistas confessam que querem calar a boca das pessoas. Quem implantou e deu força a uma ferramenta que, em vez de censurar, dá "contexto adicional" às fake news e desinformações foi o próprio Elon Musk. Antes disso, tudo o que o consórcio progressista academia-imprensa-burocracia pregava era REMOVER esse conteúdo. Eu mesmo vi o Instagram removendo conteúdo sobre tratamento precoce da Covid que a seção de checagem da Agência Reuters rotulou como falso (o que ela não tem cacife para fazer, não é uma organização científica).
Enquanto cinicamente alega se opor à polarização (coisa que até o polarizador Jean Wyllys alega que faz), Pedro está imerso numa bolha em que nunca aconteceram os Twitter Files EUA.
Eis um resumo do que Bari Weiss, Matt Taibbi e Michael Shellenberger reveleram:
- Twitter tinha “lista negra” secreta de conservadores para impedir visibilidade. É por isso que, quando Musk assumiu o controle da plataforma, conservadores e libertários viram seus números de seguidores saltarem. Foram removidas as restrições.
- Yoel Roth, um dos chefes de segurança do Twitter responsáveis por censurar a reportagem verdadeira do New York Post sobre o laptop de Hunter Biden, e por censurar a conta de Donald Trump, é tão progressista que sua tese de doutorado, que eu li, é uma besteirinha sobre o aplicativo de pegação gay Grindr. Eu sou gay e liberal, mas tenho formação suficiente para perceber quando estou lendo besteirol progressista travestido de pesquisa.
- A imprensa progressista ignorou toda a censura promovida nas redes sociais por seu próprio lado durante eleições de 2020 e pandemia de Covid. Só passou a se preocupar com a censura quando Elon Musk errou censurando jornalistas progressistas no começo de sua gestão (coisa que ele parou de fazer depois).
Pergunto, então, Pedro: como você conseguiu ignorar todos os fatos acima, sendo você alegadamente contra a polarização? Uma pessoa que é contra a polarização ouve os conservadores quando estão reclamando de censura nas redes sociais. Ou pelo menos liberais de verdade (não é seu caso), que também sofreram censura ao desafiar os novos padrões de expressão como "discurso de ódio" que os progressistas querem impor a todos. Eu fui punido repetidamente no Facebook por tentar fazer com a palavra "viado" o que fizeram com "gay" e "queer": normalizar. Aplicando-a em mim mesmo. Isso é correto? O progressismo é no momento a maior fonte de autoritarismo e censura no Ocidente. Isso é indiscutível desde a ascensão do woke.
Eleanor Roosevelt, uma das mães intelectuais da Declaração Universal dos Direitos Humanos, falou na ONU contra criminalizar o "discurso de ódio". Os soviéticos falaram a favor. O progressismo atual ficou com os soviéticos, não com Roosevelt. E ainda reclamam de serem xingados de comunistas.
Continua o Pedro:
“Se um dono de rede social apoiasse ostensivamente a esquerda como Musk faz com autoritários de direita, os reacionários teriam uma síncope.”
Se? Você passou os últimos dez anos congelado num iceberg. O apoio de todas as big tech ao progressismo identitário é inegável. O fiasco da IA do Google, Gemini, ao produzir um George Washington negro não foi uma anomalia, foi só falta de discrição para uma agenda observável há anos. Eu mesmo legendei o vídeo de uma reunião geral dentro do Google em que os fundadores da empresa tratavam a eleição de Trump como o apocalipse. Você acha que funcionários conservadores do Google se sentem bem-vindos neste ambiente? Por favor...
“Os dois inquéritos abertos de ofício dentro do Supremo Tribunal Federal, comandados por Moraes, foram necessários e são legais.”
Só foram necessários para pessoas como você: pseudoponderadas, mas escravas de talking points da esquerda brasileira, a começar pela farsa de que houve uma tentativa séria de golpe de Estado em 2022. A Gazeta do Povo conversou com esposas de generais (coisa que você não faz, pois só conversa com gente da sua bolha) e descobriu que 90% da cúpula das Forças Armadas eram contra qualquer intervenção. Bolsonaro cogitou algum tipo de ruptura, o que na cabeça dele e seus seguidores seria retaliação por Lula ter sido solto por uma tecnicalidade de última hora, não por insuficiência de provas. Isso deveria ser desabonador para o eleitorado dele próprio, mas, infelizmente, conta pouco neste clima de polarização. Eu posso comentar isso porque não sou um falso opositor da polarização, como você, cujos textos e falas podem ser encontrados em qualquer diretório do PSOL.
Os inquéritos secretos não são dois, aliás, são nove. Você saberia disso se lesse o @marsiglia_andre, o primeiro a advogar contra os abusos de Moraes no inquérito ilegal das fake news. E é ilegal porque, como diz o Marsiglia em seu livro, sua abertura foi baseada numa interpretação "rocambolesca" do artigo 43 do Regimento Interno do STF (que é inferior à Constituição!).
Mais um motivo pelo qual os inquéritos e as ações de Moraes são ilegais: o Marco Civil da Internet não prevê banimento de contas inteiras. Mas o consórcio da censura está atacando esta lei de apenas 10 anos, capitaneada pela própria esquerda na época porque as redes sociais estavam ajudando a esquerda a vencer eleições. É um bom marco legal que está sob ataque de Moraes e foi contradito diretamente pela monstruosidade de resolução que ele implantou no TSE quando ficou claro que o PL da Censura não passaria.
Porque as redes sociais viraram vilãs? Porque o progressismo começou a perder eleições. Só isso mesmo. As demais desculpas pseudoacadêmicas de "combate à desinformação" e ao "discurso de ódio" são completamente cínicas. Um país não pode ficar refém de uma ideologia popular entre as elites, sendo a lei alterada ao sabor dos ventos de suas preferências.
Qual foi o crime do Luciano Hang para estar banido há dois anos de todas as redes sociais? Nenhum. Qual foi o crime do Monark para estar exilado? Nenhum, além do que o progressismo considera crime de opinião em sua cartilha. Ocorre que essa cartilha não é, ainda, a nossa Constituição.
Relevante: @pedrodoria parabenizou Facebook e Twitter pro censurar Donald Trump. Mas é muito contra a polarização e muito liberalzão, hein? Fico admirado.
Começou a audiência sobre o Brasil no @Weaponization, o Subcomitê sobre a Instrumentalização do Governo Federal (americano), a audiência que Bolsonaro apontou como esperança. Acompanhem alguns pontos que chamarem a minha atenção neste fio.
Ao vivo:
@Weaponization A deputada Wild (democrata) pergunta "onde estava o comitê quando Bolsonaro tentou um golpe militar em 2022? Durante o ataque de 8 de janeiro?"
@Weaponization Wild traz o relatório final da CPI do 8 de Janeiro e o aniversário de 60 anos do golpe militar. "Que tenhamos uma parceira como iguais", ela diz. "Teremos diferenças, mesmo como parceiros e aliados próximos."
Bolsonaro finalmente apareceu no Spaces do @MarioNawfal. "Passei quatro anos aqui no Brasil acusado de buscar a censura, o que não aconteceu."
"Durante a campanha eleitoral, quase todas as páginas derrubadas ou desmonetizavam me apoiavam."
@MarioNawfal "A censura quer destruir a direita no Brasil."
@MarioNawfal "Ainda bem que apareceu uma força vindo dos Estados Unidos, porque o governo Biden não cumpriu com seu compromisso de fazer a liberdade de expressão valer aqui no Brasil."
Este artigo do Pablo Ortellado pode parecer à primeira vista um mea culpa de um arrependido por ter dito que ivermectina era "comprovadamente ineficaz" contra Covid (ou, se não disse, demorou a resistir à besteira). Mas não é tanto isso. Ainda tem muita teimosia de quem errou e tenta se justificar apelando para o antibolsonarismo psicótico do público presumido.
Ele está comentando um artigo do Olavo Amaral no Nexo, que eu elogiei aqui, dando boas-vindas ao Olavo para o clube contra as falsas certezas. Puxando um pouco a sardinha, bastava o Pablo ter lido minhas reportagens na Gazeta do Povo desde 2021. Se eu não sirvo, havia também o Daniel Tausk do IME-USP lá no Facebook este tempo todo, fazendo análises de cabeça fria, técnicas, corretas. Ignoraram por quê? Porque ele não podia ser comparado facilmente a personagens cientistas de um filme da Netflix?
Pablo começa assegurando o leitor que ele levanta o mindinho ao pegar a xícara do café. Não é como esses brutos que votam em Bolsonaro, essa ralé, essa súcia! Não vejam nisso sinalização de membresia na beautiful people. É só questão de defesa da democracia, da ciência, de tudo o que há de civilizado: de usar talheres para partir o seu bife Angus escocês.
Mas não quero ser muito implicante com o Pablo. Ele diz, já no primeiro parágrafo, que a oposição ao Bolsonaro "tomou a forma de uma negação automática". Eu só gostaria que ele me explicasse por que, então, o termo "negacionista" (seja lá o que isso for) só se aplica ao outro lado (mas notei suas aspas cautelosas, se é só menção tudo bem).
O articulista diz que "não havia nenhum estudo sólido provando sua ineficácia". Não havia, não há, nem haverá, porque o trabalho da ciência empírica não é provar coisa nenhuma, mas acumular evidências ("indícios" talvez seja termo melhor) que pendam a favor desta ou daquela hipótese. Além de ter evidências majoritariamente a seu favor, a melhor hipótese também deve fazer um bom trabalho de explicar o fenômeno. Pode procurar um só artigo científico em áreas empíricas como medicina que afirme "estamos provando X terminantemente". Não existe. Por isso, na dúvida, que é codificada pela estatística com rigor, não saímos usando a palavra "prova" por aí irresponsavelmente.
Pablo diz que o Bolsonaro começou tudo (é sempre culpa do coleguinha que bateu primeiro), que "não dispunha de evidências científicas para recomendar ivermectina (ou cloroquina)". Aí vou ter que protestar: essa afirmação é falsa. O que Pablo provavelmente quer dizer é que ele não dispunha de evidências suficientes. Mas é ingênua essa imagem da ciência em que hipóteses falsas nunca têm evidência nenhuma a favor delas. O caso geral é justamente o oposto, geralmente as hipóteses falsas têm evidências a favor, e é por isso que estão sendo discutidas e propostas. O estudo do Didier Raoult (HCQ) tinha muitos problemas, mas o que ele apresentou era evidência científica. "Científico" não é sinônimo de "verdadeiro". Pensar o contrário é um preconceito bajulador da ciência chamado cientificismo. Existe evidência insuficiente, evidência fraca, evidência ruim, e ciência ruim também.
O resto do texto do Ortellado está muito bom, me dá até um pouco de remorso por provocar. Quero deixar claro que acima de tudo eu o recebo com gratidão por finalmente isso aparecer nas páginas d'O Globo. Lembrando que eu tenho tido essa postura na Gazeta do Povo, que alguns tratam como a ralé do jornalismo (basta abrir e ler pra ver que é falso, como eu mesmo fiz antes de me aproximar do jornal), já há mais de três anos.
Mas não posso passar a oportunidade de lembrar que, se alguém perdeu a cabeça e se irracionalizou como reação a Bolsonaro, a culpa não pode ser do Bolsonaro, já que a cabeça não é dele. Cada um de nós tem responsabilidade pela nossa própria cabeça. Fazer birra infantil que tudo o que Bolsonaro falava tinha que ser falso (ou Lula, agora) foi patético, foi ridículo, tanto quanto uma parcela dos bolsonaristas que me enche o saco diariamente aqui porque eu não vou na onda de afirmar que a vacina da Pfizer causou uma onda de mortes súbitas sem evidências suficientes disso.
Meu sonho é que as pessoas sem interesse real por um assunto o largassem para que os interessados debatam entre si. O que aconteceu foi que o que parecia debate sobre eficácia ou ineficácia da ivermectina, ou hidroxicloroquina, era na verdade uma disputa a respeito de Bolsonaro ser ou não um bom presidente. Ora, isso é o que posso chamar de falsidade ideológica de debate: parece ser um assunto, mas é outro. E essa falsidade ideológica chegou até às páginas de revistas de medicina, lamentavelmente, como mostrei aqui:
Revistas médicas adotam viés político e prejudicam a própria reputação científica
Revistas científicas afrouxam padrões e abraçam modas intelectuais de esquerda
E eu vou fundo na discussão da ciência, tenho também esta matéria crítica à revisão por pares, só implementada no pós-guerra, mas tida por muitos como obrigatória na publicação científica:
Censura, fraude e competição: processo de aprovação em revistas científicas atrapalha a ciência
Existe vida inteligente fora da imprensa progressista mainstream. E está entre os cinco maiores jornais do país. Basta ter uma dieta informacional variada para não cair nas principais armadilhas da mente politizada em excesso.
Só como amostra, acabo de bloquear mais um progressista que me chamou de "ivermectiner que se diz biólogo" (a pior parte do insulto, pra mim, é o anglicismo brega). O Ortellado e O Globo têm um longo caminho pela frente para desfazer a desinformação que seu lado fez na pandemia.
Só que, quando eu digo que a desinformação deve ser corrigida, em momento nenhum eu peço que seja pela via autoritária, da censura. Já o lado supostamente "pró-ciência"...
O relatório da Polícia Federal contra Twitter Files Brasil mandado para Alexandre de Moraes tem certas coisas interessantes. Por exemplo, a conta do @Rconstantino está banida no Brasil, mas a PF printou. Então a PF se dá o privilégio de acessar o que Moraes baniu via VPN.
@Rconstantino Uma coisa central na retórica da PF é o abuso da palavra "ataque" para descrever críticas e comentários irritados COMPLETAMENTE DENTRO DA LEI. Alguém anda assistindo Globo News. Como eu disse antes, vocabulário infantil e imaturo de autoritários que não sabem lidar com crítica.
Que relatório bizarro. Só manda prints de tweets da repercussão dos Twitter Files e da ação do Subcomitê Jurídico da Câmara dos EUA, sem acusar ninguém de crime no começo, depois junta de forma louca com acusações contra Allan dos Santos e Barbara Destefani por coisas que interceptaram em 2019 e 2020. É um nothing burger, como diziam na era Trump.