Vou começar hoje uma série de #AulasFio sobre Érico Veríssimo. Desde o 2º ano da faculdade, me debrucei sobre sua obra e acredito que Érico deveria ser mais lido e conhecido hoje, por tratar-se de um autor que sempre se colocou contra o autoritarismo,que presenciou desde criança.
Na primeira #AulaFio não irei fazer uma biografia de Érico, mas explicar porque me interesso por sua obra. Minha relação com sua obra começou em 1990, quando eu tinha ainda 8 anos!
Na casa dos meus avós, em um sítio de Leandro Ferreira, Minas, havia basicamente 5 livros: Uma Bíblia, dois livros de História do Brasil em quadrinhos, desenhados pelo Julierme de Abreu, um livro de Educação Moral e Cívica, e Ana Terra, autoria de Érico Veríssimo.
Os livros de História foram os primeiros a ser devorados. O de EMC não me chamou tanto a atenção, a linguagem era canhestra. Da Bíblia, minha avó tinha algum ciúme (quando ganhei autorização para lê-la, descobri que ela era ricamente ilustrada com pinturas renascentistas.
Depois de ler algumas vezes os livros de História, resolvi dar uma chance para aquele livro sem ilustrações e de capa feia...
Contava a história de uma moça chamada Ana Terra, que vivia coma família (país e dois irmãos) em uma estância isolada em meio ao Rio Grande de São Pedro.
Quando leio que a história começava em 1777, fui fisgado. Tudo culpa do Julierme e seu livro ilustrado...
Não vou cometer o crime de resumir Ana Terra, mas basicamente é uma história de formação. Ela começa ingênua e depois de muito sofrimento vai se tornando adulta. E isto me chocou. Tornar-se adulto não era um evento, mas um processo...
Quando fui para uma escola com biblioteca, quis ler mais coisas escritas por Veríssimo. Me deram “Um certo capitão Rodrigo”. Logo de cara fiquei encantado, por ver que era uma continuação de Ana Terra.
Me empolguei com o Capitão Rodrigo Cambará, que chegava no boteco e mandava : “Buenas e me espalho! Nos pequenos dou de prancha e nos grandes dou de talho!” Oproblema é que se Ana Terra era um romance de formação, Um certo capitão Rodrigo é um romance de putrefação.
O soldado que você logo simpatiza vai tomando decisões, praticando atos cada vez mais mesquinhos, pequenos, sujos... e você descobre que dentro de todo machão, tem muita pequenez e certa covardia.
Com o tempo fui lendo e mesmo adquirindo vários livros de Veríssimo. Descobri que tanto Ana Terra quanto Um certo capitão Rodrigo eram extratos de uma obra muito maior: O Tempo e o Vento.
Lembro que estava no segundo semestre da faculdade de História, quando vi os volumes de O Tempo e o Vento à venda. Eram edições novas. Comprei todos os volumes e Érico Veríssimo era minha leitura extra-curricular. Lia e fazia apontamentos de todo o épico da família Terra-Cambará.
Minha intenção inicial era fazer algo com O Tempo e o Vento. Aquela história me empolgava demais, estava entranhada demais na pessoa que era. Todo o resto da graduação, busquei fazer disciplinas que me ajudassem a usar aquela história como fonte.
Até o dia em que me caiu nas mãos o primeiro volume de Solo de Clarineta, a autobiografia de Érico Veríssimo, no mesmo contexto do relançamento de seus romances pela Cia das Letras. Já tinha lido biografias sucintas, mas ali conheci o homem que criou Santa Fé!
Acompanhei-o do balcão de sua Farmácia em Cruz Alta até a direção do Departamento de Assuntos Culturais da Organização dos Estados Americanos, em Washington. Suas idas e vindas pelo mundo, suas inspirações e decepções.
E acabei lendo outro livro quase não-ficcional, Gato Preto em Campo de Neve, onde ele relata sua viagem aos EUA em 1941, seu deslumbramento com aquele país e a sensação de liberdade e civilismo que não encontrava em seu país, então uma ditadura.
A viagem fez parte do programa de boa vizinhança estabelecido por Franklin D. Roosevelt, em busca de apoio dos países da América Latina aos EUA. a viagem durou 4 meses e Érico foi sempre acompanhado por Malasartes, sua contraparte imaginária , mais jovem e romântica!
Este livro teve uma sequência, A volta do gato preto, que é um diário de seu exílio nos EUA entre 1943 e 1945, fugindo do Estado Novo e dando aulas de literatura brasileira em Berkeley, na Califórnia. Menor foi o deslumbramento, e maiores as decepções.
Fiz o projeto para estudar as três viagens de Veríssimo aos EUA, as mudanças, as rupturas e as permanências na ideia que ele criou daquele país, do contraponto constante que era feito com o Brasil (que não era nada maniqueísta).
Fiz as provas, iria fazer a entrevista, mas tive um probleminha: um linfoma no pescoço que me tirou da vida acadêmica por 4 anos. Depois me dediquei às escolas, fui para Minas tentar mudar de vida, me dei mal, voltei para São Paulo e aqui estou...
Agora, entre as aulas e os bicos como jardineiro, estou retomando o projeto, revendo minhas fontes, buscando mais fontes correlatas, bibliografia, para ano que vem começar o mestrado direito. Espero conseguir desta vez.
Na próxima #AulaFio, farei uma breve (e muito incompleta) biografia do Érico, de sua infância até a publicação de seu primeiro livro... espero que leiam, tanto os fios, quanto Érico Veríssimo...
Entrevistador: Gostei muito de Ensaio sobre a Cegueira, mas não é uma leitura fácil. É um livro difícil. A tradução é muito boa.
Saramago: Você sabia que Giovanni Portiero, meu antigo tradutor de inglês, morreu?
Entrevistador: Quando?
Saramago: Em fevereiro. Ele morreu de AIDS. Ele estava traduzindo Ensaio sobre a Cegueira, que terminou quando morreu. Perto do fim, ele próprio começou a ficar cego por causa da medicação que seus médicos lhe deram.
A melhor parte da abertura dos Jogos Olímpicos de 2024 é que ela rompeu quase que definitivamente com a estética de parada militar, criada por um sujeito chamado Joseph Goebbels.
Sim, os n4z1stas criaram aquele modelo de desfile para a abertura das Olimpíadas de Berlim em 1936.
A começar pela ideia de trazer a chama olímpica da Grécia até Berlim em uma tocha carregada por diversos atletas em revezamento.
A ideia de Hitler era demonstrar que a Grécia era uma das origens da raça ariana e que o Reich seria uma continuação desta tradição.
Hitler incumbiu o arquiteto Werner Marchde construir o Olympiastadion, maior estádio olímpico construído até então, para sediar a abertura dos Jogos, a disputa de várias modalidades e a cerimônia de encerramento.
Há 65 anos, a Bélgica organizou uma exibição ao vivo de pessoas do Congo como 'Zoológico Humano' para a Exposição Mundial de 1958: como parte da comemoração de avanços sociais, culturais e tecnológicos do pós-guerra.
Um dos principais monumentos da cidade de Bruxelas, o Atomium, foi construído especialmente para a Exposição. Tal qual a torre Eiffel ,deveria ser desmontado ao fim do evento, mas foi mantido e passou por uma recente restauração.
Mas além deste março futurista, esta Exposição em particular ficou marcada por hospedar o último zoológico humano. Sim, seres humanos expostos como animais em 1958.
Uma galera fala que professores que defendem a revogação do Novo Ensino Médio simplesmente querem o retorno ao modelo anterior. Também falam que é uma intransigência pedir a revogação, sendo que com alguns ajustes o NEM funcionaria. Estas duas premissas estão muito erradas. 🧵
Alguém viu a @KellVila , a @sofiabhlisboa , o @profinfluencer , @andressapelland , @paoladcs e tantos outros professores defenderem apenas revogar o NEM? Todos, repito: TODOS defendem que o Ensino Médio seja um reflexo de Educação Pública de Qualidade para todos os estudantes.🧵
E para isto acontecer não basta mudar o currículo, não basta melhorar salários, não basta melhorar a infraestrutura e os recursos físicos das escolas, não basta investir na formação. Temos que haver um esforço de toda a sociedade pela escola.🧵
Ouvi o último episódio do @medoedeliriobr . Também fiquei, para dizer o mínimo, incomodado com o Aparte que defende o Novo Ensino Médio e "puxa a orelha do campo progressista", taxando de conservadores os que defendem a revogação do NEM. Vai um fio sobre o que penso:
A grande verdade é que boa parte da sociedade ignora, algumas vezes propositadamente, o que acontece nas escolas. A discussão sobre o Novo Ensino Médio vem de longe, com tentativas de reforma desde a década de 1990, sempre à margem da cobertura da grande mídia.
A maioria das pessoas não têm uma opinião sobre ser contra ou favorável ao NEM por simplesmente ignorar do que se trata e o que está reforma defende. E as Fundações aproveitam este vácuo para benefício próprio.