Thread by @marinamaral2

🇧🇷 Hoje eu quero contar a história da Eva, que é também a história da Miriam e de 3 mil outros gêmeos que foram vítimas do Dr. Josef Mengele em Auschwitz.

Contar a história da Eva não é só falar de dor: da dela, da minha, de muitos. É também contar sobre o tamanho da alma dela.

1) Eva e Miriam Kor nasceram em 1934, na Romênia. Alexander e Jaffa Mozes, os pais, eram fazendeiros e os únicos judeus da vizinhança.

Os outros dois irmãos eram Aliz e Edit.

2) Em maio de 1944 toda a família foi enviada para Auschwitz.

Na plataforma de seleção, como de costume, a família foi separada. Eva dizia que se lembrava do desespero no rosto da mãe como a última imagem dela.

"Eu não sabia que seria a última vez. Eu nem pude me despedir."

3) Jaffa, Alexander, Aliz e Edit foram imediatamente enviados para a câmara de gás.

Eva e Miriam foram poupadas porque eram gêmeas.

4) Josef Mengele foi um oficial da SS, um dos médicos responsáveis pela seleção das vítimas na plataforma.

Obcecado por experimentos pseudo-científicos, gêmeos eram suas cobaias preferidas.

Falar dele é falar de crime, desumanidade, violência, maldade, dor e frieza.

5) Os gêmeos eram submetidos a experimentos que ultrapassavam a tortura: transfusões de sangue entre um irmão e o outro eram frequentes.

Substâncias químicas eram injetadas nos olhos em uma tentativa de alterar a cor natural.

6) Cirurgias eram feitas sem anestesia, incluindo castração e amputação de membros.

Injeções na coluna eram frequentemente administradas; o conteúdo, desconhecido até hoje.

Os gêmeos eram infectados por doenças como tuberculose e tifo de propósito.

7) Esse poderia ter sido o final da história da Eva, como foi o final da história de tantas outras crianças.

Mas ela sobreviveu.

E mais do que isso: ela perdoou.

8) Eva estava entre as 180 crianças libertadas em Janeiro de 1945.

Sofreu vários abortos e outros problemas de saúde em decorrência do que aconteceu com ela em Auschwitz.

Miriam, sua irmã, morreu de câncer nos rins em 1993 porque seus órgãos nunca se desenvolveram.

9) Ainda assim, depois de tanta dor, trauma e violência, ela escolheu (e conseguiu) viver sua vida tendo o amor e o perdão como centralizadores.

Depois da guerra, Eva serviu no exército, virou enfermeira, e fundou em 1984 o museu CANDLES.

10) Em 1993, ela se encontrou com o Dr. Hans Munch, um dos médicos de Auschwitz, também responsável pela morte de milhares de pessoas.

Em 1995, fez com que ele retornasse com ela à Auschwitz, e pediu que assinasse um documento atestando a existência das câmaras de gás.

11) Depois disso, Eva leu uma carta na qual perdoava todos aqueles homens que, assim como Hans Munch, foram diretamente responsáveis pela morte de milhões de inocentes.

Inclusive Mengele.

12) Atormentada até então pelas lembranças do que viveu, ela disse que não fez isso só por eles, mas também por ela.

"No dia em que perdoei os nazistas, perdoei meus pais, a quem odiei a vida inteira por não terem me salvado de Auschwitz."

13) Esse não foi um ato isolado. Eva passou o resto da sua vida falando a favor do perdão. Uma história que poderia se resumir na dor e no sofrimento, ganhou uma dimensão muito maior.

Mesmo sendo duramente criticada e muitas vezes perseguida, ela nunca desistiu.

14) No início da thread eu falei sobre dor, inclusive da minha.

Eu conheci a Eva há alguns anos.

Um dia ela me pediu para restaurar uma das únicas fotos que restavam da mãe dela.

Foi uma das coisas mais difíceis que eu já fiz. Não pela foto, mas pelo significado.

.

15) A Eva também quis gravar um vídeo para falar sobre o que sentiu quando viu a foto.

Muitas vezes esqueço do poder de tudo isso. Não do meu trabalho, que é insignificante perto de tudo, mas das pequenas coisas que podem virar algo maior.

youtube.com/watch?v=Tppz_w…

16) A dor vem da perda dela.

A Eva estava em Auschwitz com um grupo de alunos quando faleceu esse ano: não sem antes parar do McDonalds pra comer chicken nuggets.

17) Ela foi duramente criticada, mas nunca permitiu que seu propósito e seu caminho fossem alterados. Seguiu até o final acreditando no poder do perdão, e inspirando milhares de jovens no mundo inteiro.

18) Não tive tempo de fazer as outras fotos, mas pude fazer essa como uma homenagem quando ela morreu.

E quis dividir a história dela porque o Candles ainda existe, e não é porque ela não está mais aqui que a mensagem pela qual ela lutou a vida inteira tem que ser esquecida.

19) "Acredito com todas as fibras do meu ser que todo ser humano tem o direito de viver sem as dores do passado."

20) As atitudes dela podem ser contestadas e debatidas, mas pra mim só mostram o quanto ela foi especial.

Pra saber mais: youtube.com/watch?v=gdgPAe…

Esse é o livro dela: amazon.com/Surviving-Ange…

E aqui vocês podem conhecer mais sobre o Candles: candlesholocaustmuseum.org