Aconteceu de novo: espalha-se pelo Twitter a ideia de que se o Brasil tornar mais produtiva sua economia primária, enriquece mais do que diversificá-la e sofisticá-la. De novo, só debate teórico. A realidade prática ensina diferente. Segue o fio.
2 - A comparação é tosca: “se o Brasil tivesse indústria como tem a Coreia, a renda per capita continuaria concentrada”. Típico caso do que eu chamo de “visão industrial da indústria”. Visão estanque, ultrapassada.
3 - Vejamos: afirmar que a Coreia produz coisas sofisticadas de alto valor adicionado é verdade, mas não responde a crítica. O salto de qualidade coreano é anterior e posterior à sofisticação do produto industrial.
4 - Trata-se de economias de escala e escopo. Uma grande empresa produz vários produtos sofisticados a menor custo do que várias empresas produzindo as mesmas coisas. Naturalmente, ela terá excelente utilização dos fatores de produção, portanto menor preço, portanto mais mercado.
5 - O nome do jogo é diversificação e sofisticação da produção, através de conhecimento aplicado. Eis a Coreia em alguns exemplos práticos que não são o clichê.
6 - Todo mundo já viu carro Hyundai, claro. Mas e as placas de memória e semicondutores Hyundai, feitos pela subsidiária SK Hynix? Talvez você esteja usando um agora... 
7 - A LG Chem, uma das maiores indústrias químicas do mundo, produz entre muitas outras coisas a tecnologia exclusiva do retardador 3D para telas LCD, que polariza a imagem de uma tela LCD para enviar sinais óticos distintos ao olho direito e ao esquerdo.
8 - O carro de combate T-155 Firtina é um projeto militar turco desenvolvido pela Coreia. Exportação de tecnologia militar. Só esse projeto custou à Turquia US$ 1 bilhão, devidamente depositados nos cofres da Samsung Techwin (atual Hanwha Techwin).
9 - Este é o Makassar, navio de guerra anfíbio tipo Landing Platform Dock (LPD), projeto da DaeSun Shipbuilding que já chegou às marinhas da Indonésia, Filipinas, Peru e Mianmar.
10 - Com quase 830 metros de altura, o Burj Khalifa em Dubai foi construído pela divisão de construção e engenharia da Samsung. Exportação de serviços sofisticados exportando tecnologia coreana pelo mundo.
11 - A exportação de serviços de engenharia leva equipamentos nacionais, com esta miniescavadeira elétrica Hyundai, protótipo que por sua vez carrega dentro de si os encadeamentos tecnológicos que fazem a glória do país.
12 - Ou seja, o sucesso coreano não é resumido à “indústria” entendida como fábrica. É uma rede de conhecimento e produção que se retroalimenta com cada vez mais diversificação e sofisticação. Economia de escopo e de escala. Tecido produtivo denso que o BR tentou ter mas perdeu.
