A discussão sobre o futebol evoluir ou não é muito frequente. Em especial, na timeline futebolística. Alguns afirmam que o futebol realmente evoluiu. Outros afirmam que não. Dessa discussão, surge um raciocínio que quero abordar já faz um tempo.
Aqueles que afirmam que o futebol evolui apresentam argumentos de que ele mudou e avançou ao longo do tempo. Seja fisicamente, taticamente, etc. Ou seja, o futebol melhorou.
Aqueles que afirmam que o futebol não evolui, por sua vez, argumentam que sempre houve questões táticas no futebol e que a evolução física muda tanto o atacante quanto o zagueiro. Ou seja, de que o futebol não melhora historicamente falando.
E é o posicionamento desse segundo grupo que quero explorar.
Esses que afirmam que não houve evolução questionam a ideia de que há uma tendência histórica de progressão, aperfeiçoamento ou coisa do tipo. O futebol muda - eventualmente de maneira cíclica - mas não melhora necessariamente.
Assim, podemos dizer que a história não necessariamente leva o futebol ‘para a frente’.
Apesar de não fazer com muita convicção, concordo com esse grupo. Mas há tempos me chama atenção que seus integrantes não levantam a questão de como é usada, socialmente e por eles mesmo, a palavra evolução.
Não tenho certeza da etimologia dela e nem de quando começa ser usada de maneira realmente frequente, mas creio que o Evolucionismo de Darwin tenha muita influência. E socialmente falando, há um entendimento equivocado da evolução.
No meu entendimento, Evolução não é melhoria. Nem aperfeiçoamento constante e nem uma tendência à perfeição. Os seus pilares são, na verdade, outros: diferença, seleção e adaptação. A vida só é possível como conhecemos porque a Biologia do mundo é de diferenças.
Os organismos são diferentes entre si, mesmo intra-espécie. E diferentes características/propriedades são selecionadas de acordo com o seu valor de sobrevivência para a espécie.
Temos, então, o que chamamos de adaptação: determinadas características propiciam maiores chances de sobrevivência e reprodução do organismo - portanto, maior chance de sobrevivência da espécie
Socialmente, no entanto, é comum entender que evolução é essa tendência de se aperfeiçoar, tornar melhor (não mais adaptado).
E aqui volto à discussão futebolística: parece-me que o grupo que afirma haver evolução no futebol o faz usando esse sentido do termo. Ao mesmo tempo, parte do grupo que nega essa afirmação faz uso do sentido correto (no meu entendimento) do termo.
Assim, chego próximo ao fim dessa linha: concordo com o primeiro grupo - o futebol evolui - mas discordo dos motivos que os fazem afirmar isso; Concordo com o segundo grupo - o futebol de hoje não é necessariamente melhor que o de ontem.
E não é pois todas as principais alterações do futebol citadas na discussão - preparo físico, observação/scout, preocupação tática - são mudanças contextuais no ‘ambiente’ de seleção futebolístico.
Não faz sentido falarmos que uma onça é mais evoluída do que um animal antigo já extinto pois as pressões evolutivas são diferentes. Os ambientes são diferentes. São criaturas diferentes vivendo em contextos diferentes.
As mudanças citadas na discussão podem ser entendidas como mudanças nas características do futebol - nesse ambiente - e que têm reflexos na forma como se dá o jogo dentro de campo. Falar sobre melhor ou pior é implicar numa permanência de condições que não ocorre.
O ambiente futebolístico de meados do século passado é completamente diferente do atual.
Por fim: o futebol é mudança constante. As condições mudam. A sua expressão - o dentro de campo - muda. Mas não necessariamente melhora ou caminha para um aperfeiçoamento. Por isso, podemos falar que há evolução no futebol.
Obs: pode-se pensar sagazmente “Por qual motivo todo esse papo? O importante é a diferença de perspectiva”.
Respondo: creio que os termos/conceitos são úteis porque nos permitem lidar melhor com determinados fenômenos e discussões. E o termo ‘evolução’ me parece propício para como o segundo grupo defende ser o futebol.
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