Thread by @DiiegoTbt

Por que a guerra às drogas é um dos assuntos mais urgentes do nosso tempo e deveria ser pauta diária de TODAS as pessoas que se dizem preocupadas com as pautas sociais da nossa sociedade?
Segue o 🧵

Guerra às drogas é o nome que se dá às varias políticas para desestimular e proibir o consumo, a produção e o comércio de drogas.

Se tornou popular pelo então Pres. dos EUA, Nixon, e consolidado por Ronald Reagan, que leva o caráter da guerra às drogas a outro nível.

É irônico pensar que o país que viveu a lei seca nos anos 20 motivado por ideais moralistas, religiosos e políticos, e por isso teve um aumento descabido da violência, do contrabando e da máfia, popularizou um método tão violento e ineficiente de combate às drogas.

Porém a guerra às drogas não apenas é violenta e ineficiente, como também é assassina e racista!

Segundo Angela Davis, a guerra às drogas em muitos aspectos era uma verdadeira perseguição às comunidades negras e latinas norte-americanas.

O que era apresentado em campanhas presidenciais como um “resgate” da ordem e um serviço à paz urbana, na prática tinha forma de um grande genocídio das comunidades negras, favorecendo o chamado “encarceramento em massa” (pesquise sobre).

Os EUA são a maior população carcerária do planeta. Em meados do século passado, aproximadamente 70% dos presos nos EUA eram brancos. Hoje, os negros representam pouco mais de 13% da população, enquanto junto aos latinos ultrapassam 70% dos encarcerados.

O curioso é que os padrões étnicos dos crimes cometidos praticamente não mudaram desde então.
Apesar de tudo, outros países (como o México) implementaram as suas próprias medidas de guerra às drogas.

O pres. à época, Felipe Calderón, autorizou o uso das forças armadas em um combate direto ao narcotráfico, já que a polícia se mostrava ineficaz e corrupta.
Em resposta, os cartéis mexicanos cresceram em números e armamentos, e as taxas de homicídios alcançavam números inéditos.

O México passou a estar entre as 10 maiores populações carcerárias do mundo, a violência alcançou níveis sem precedentes, tendo inclusive mais de 60.000 pessoas desaparecidas em meio à guerra às drogas.

Um dos casos mais absurdos que retratam bem a situação vivida no México foi o desaparecimento de 43 estudantes, detidos pela polícia (junto a cartéis) a caminho de um protesto e nunca mais foram vistos.

Hoje o México tenta dar fim à guerra às drogas.

g1.globo.com/mundo/noticia/…

Aqui no Brasil, em 1890, apenas dois anos após a abolição, surge uma lei que proíbe cultos religiosos de matriz africana, a capoeira e o uso de determinadas ervas e “entorpecentes”.
O objetivo é explícito: censurar a cultura e a identidade dos negros, bem como a sua liberdade.

Associar as drogas e seus impactos à cultura da população negra se tornou um método dos governos e das elites brasileiras. A adesão do modelo norte-americano de guerra às drogas leva o Estado a inserir usuário e traficante em um mesmo lugar.

Dessa forma, os eventos culturais frequentados pelas comunidades negras eram perseguidos pela ditadura militar, que cerceava as liberdades individuais através da lei de vadiagem, assim como controlavam a cultura, as vestimentas e até seus cabelos, sempre sendo criminalizados.

Com o fim da ditadura, a violência do Estado se voltou para outro alvo, as favelas. As mortes pelo estado cresceram exponencialmente, e assim como nos EUA, a guerra às drogas no Brasil se tornou uma verdadeira perseguição aos negros, causando um genocídio que perdura até hoje.

Com a taxa de letalidade do Estado cada vez mais crescente, as leis de drogas no Brasil foram cada vez mais endurecidas, ao ponto de igualadas a crimes hediondos e até colocando nas mãos de cada estado decidir quais seriam os critérios para definir entre usuários e traficantes.

Ou seja, a avaliação na prática tem apenas um critério, a cor.
Enquanto brancos se safavam como usuários portando até centenas de quilos de drogas, armas e até helicópteros lotados de cocaína, um negro pego com 10 de maconha era preso como traficante.

Eis o agravante do encarceramento em massa do Brasil.
Em um intervalo de 10 anos a partir de 2005, a população carcerária brasileira teve um aumento de quase 400%.

O Brasil atualmente disputa o terceiro lugar com a Rússia entre as maiores populações carcerárias do planeta.

O que é importante notar após todo esse percurso entre locais e épocas diferentes, é que o consumo de drogas nunca parou, nem sequer diminuiu. Isso significa que por décadas a guerra às drogas vem sendo vencida pelas... drogas.

Operações policiais em favelas do Rio de Janeiro cada vez mais deixam explícita a sua ineficácia. Sua eficiência está nas vidas tiradas de crianças inocentes, jovens negros e inclusive policiais, muitas vezes negros, pobres e também de favela.

É curioso pensar que um dos maiores golpes que o crime organizado recentemente sofreu foi em uma operação silenciosa, sem tiros, em um condomínio de luxo na Barra da Tijuca, enquanto na favela apreendem uma ou duas pistolas, alguns quilos de drogas e vidas inocentes.

É um método que combate o efeito, e não a causa. Por que ninguém se pergunta como as drogas chegaram no morro? Por que ninguém se pergunta quem deixa passar drogas e armas pelas fronteiras? Por que não agem com essa violência nos bairros ricos onde também há tráfico? Quem ganha?

Décadas de um Estado que desumaniza o preto e pobre causam uma “normalização” que diminui o valor da nossa vida.

Por isso morrem jovens e crianças negras como João Pedro, Rodrigo Cerqueira e Ághata e esse país não pega fogo (metafórica ou literalmente).

A guerra às drogas foi criada para nos combater, e não combater as drogas.
Por isso é um dos assuntos mais importantes do nosso tempo. Por isso precisamos lutar antes que nos matem... em nome das drogas.

Paz nas favelas! ✊🏿