Thread by @cruz_leonardo_

GRAÇA SELETIVA?
Por conta dos protestos antirracistas nos EUA e aqui, tive contato novamente com um texto de um teólogo reformado que denunciava o "mito" Martin Luther King. Ao ler, desconfiei de algumas coisas, que compartilho aqui. Segue o fio 👇

(2011) Sobre MLK, o autor diz: Não se pode "canonizá-lo", "santidade estabelecida pela mídia", "não deixou legado expositivo", "plagiou doutorado", "traía a esposa", "liberal", discursos "não passam no teste da ortodoxia", não é "exemplo de cristão".

bit.ly/3dDXlXw

(2018) O texto é compartilhado com afirmação que se deve evitar "conivência com heresia e comportamento pecaminoso".

bit.ly/2Y4cs5P

Contudo, nenhum deles menciona a campanha de difamação do FBI contra King. A começar pela sua acusação de ser ligado ao comunismo.

bit.ly/2Y4cs5P

MLK também foi acusado, a partir de novos documentos do FBI, de participar de um estupro.

wapo.st/37gx53b

Entretanto, historiadores do movimento dos direitos civis e biógrafos de MLK criticam a confiança excessiva nos documentos, dada a campanha de difamação do FBI.

bit.ly/3gWko1H

Isso não significa que a nova documentação não seja em algum grau verdadeira, mas ela precisa lida tendo em mente a ação difamatória do FBI e o legado de MLK.

politi.co/2MvMB1t

Adendo sobre o "legado expositivo": tem esses dois livros interessantes do Jonathan Rieder apontando como MLK usou elementos de pregação em seus discursos públicos e cartas.

Logo depois, o blog que hospeda o texto sobre MLK me recomendou um texto do mesmo autor sobre Karl Barth. E sabendo da crítica de reformados ao Barth, decidi comparar a diferença de abordagem sobre MLK e Barth.

Barth, não têm acusações de plágio contra si, mas assim como MLK, parece não ter sido um grande expositor (até onde chequei). Como MLK, Barth traía a esposa - e ainda justificou teologicamente.

bit.ly/3eSren2

(2006), Sobre Barth, diz o autor do texto sobre MLK: "Lutou contra liberalismo/racionalismo com a verdade", "boas intenções" apesar de "não acatar a Bíblia como os reformadores", tinha "postura piedosa", era o "mais ortodoxo" da neo-ortodoxia.

bit.ly/2Mv5ilM

(2003) Em artigo sobre Barth, o pastor que acusou MLK de herege disse: "maior representante da teologia protestante contemporânea", "não temos interpretação final sobre seus ensinos", "vida de reverência e humildade", "entristecemo-nos em discordar dele".

bit.ly/2zXuA9J

Sobre o caso de adultério, embora as evidências não fossem conclusivas (tal como em muitas acusações sobre MLK), foi concedido o "benefício da dúvida" a Barth.

Se leu até aqui, reafirmo que meu ponto não é o mérito da teologia de MLK e Barth, mas a abordagem aos seus legados. A régua moral usada para rejeitar MLK é facilmente aplicável a Barth. O que Barth tem que motiva a análise cautelosa e polida de seu legado? +

E o que motiva a rejeição por atacado a MLK? Interessante é que se tratam de teólogos que afirmam a Graça Comum. Sabendo do que se trata a doutrina, não deveria existir a diferença de tratamento. Por que há tristeza em discordar de Barth, mas rejeitar MLK é um "mal necessário"?

Outro exemplo: por que a menção da desobediência de Barth a Hitler é exemplar, mas o legado de MLK é sempre apresentado com um "mas!..."? E isso parece ser comum também nos EUA:

bit.ly/2UhWKD0

Ainda considerando que não se sabia do adultério de Barth, a diferença de "polidez" é notável. Para quem diz defender Graça Comum, a seletividade dessa graça salta aos olhos. E quais são os critérios dessa seleção?

Me parece que quem vê racismo aqui não está desprovido de razão.

EDIT 1: O link sobre as acusações de MLK ser comunista está errado. O correto é este aqui.

Enquanto o Twitter não permite correção, infelizmente isso acontece.

wapo.st/2A9e1rb