Em 2010, o trágico exemplo do Butantan. Em 2018, choramos em desespero com o Museu Nacional. Agora, o Museu de História Natural da UFMG. Há dezenas de outras bombas incendiárias como essas no país. Segue o fio para entender seus componentes. +
A maior parte das coleções científicas do país foi construída há décadas. Instalações elétricas estragadas e prédios com infiltração são o padrão comum a quase todas. Sistema anti-incêndio é luxo. Sua instalação, muitas vezes, esbarra nas condições estruturais do prédio.+
Eu pessoalmente já tive que controlar curto circuito na Coleção de Herpetologia da UFC e inundação no Museu de Zoologia da USP. Trabalhei na Coleção de Mamíferos da UFPB com gambiarras elétricas à mostra até mudar para um prédio novo, construído SEM sistema anti-incêndio.+
Nesses locais, somos rodeados por MILHARES de litros de ÁLCOOL e FORMOL. Poucas coleções dispõem de armários corrediços. A maioria é de estantes de metal ou mesmo MADEIRA. Atividade de alto risco, mas ninguém recebe 1 real a mais. Há quem já não receba 1 real de jeito nenhum.+
A curadoria da coleção deveria ser um cargo técnico exclusivo, mas muitas vezes é tocada pelo professor, que além de aulas, projetos, bancas, artigos, orientações, reuniões, precisa cuidar de tarefas que variam desde a catalogação de itens à troca de álcool das vidrarias.+
Esse professor geralmente vive de pedir migalhas aos órgãos de financiamento públicos, que assim como os particulares, olham com desdém para a Ciência Básica, salvo raras exceções. O sucateamento então vai se tornando insustentável e a gente não sabe nem o tamanho do rombo.+
O Sistema de Informação sobre a Biodiversidade Brasileira (SIBBr) possui 228 coleções cadastradas. Mesmo depois do incêndio no Museu Nacional, não há um levantamento sobre a situação dessas coleções. Mas quem conhece bem sabe que a situação é de calamidade na maioria absoluta.
O incêndio no Butantan foi num sábado. O do Museu Nacional num domingo. O da UFMG nas primeiras horas de segunda. Os dias e horários podem ter sido determinantes para que as tragédias não envolvessem vidas humanas, mas nós literalmente estamos brincando com fogo.
É muito triste dizer isso, mas em 2010, ao escrever sobre o Butantan, eu "previ" o incêndio do Museu Nacional num blog. Se a gente não olhar com URGÊNCIA para nossas coleções, nós teremos que lidar com tragédias ainda maiores. E eu não quero estar certo de novo. Eu nunca quis!
