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Antes que junho acabe, bora fazer uma breve thread sobre as festas juninas.

Segue o fio 👇
O período correspondente ao mês de junho (no calendário cristão) sempre foi de festa para os povos europeus mesmo antes do cristianismo.

Era período de colheita e comemoração, além do solstício de verão (período do ano com maior duração do dia)]
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Festas utilizando o fogo e evocando a fertilidade eram comuns. Com a expansão do cristianismo, primeiramente as "festas do fogo" foram proibidas por serem consideradas pecaminosas, posteriormente foram adaptadas ao credo cristão para facilitar a conversão.
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O fogo, antes representando o pecado, passou a significar "purificação" (por volta do século XII) e a justificar uma história Biblíca na qual o nascimento de São João Batista fora avisado à Maria através de uma fogueira pela mãe, Isabel.
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A festa se tornou popular na Europa e chegou ao Brasil com a ocupação portuguesa e fundiu-se com outra celebração indígena no mesmo período também utilizando fogo e comemorando a colheita do milho e mandioca (até hoje matéria prima das principais comidas juninas)
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No Brasil, inicialmente as festas eram denominadas "joaninas" e tinham caráter rural e familiar, comemoravam principalmente três santos:
Santo Antônio: um dos santos mais populares de Portugal e do Brasil colônia.
São João: Sincretizado com Xangô, o Orixá do fogo.
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São Pedro: Santo pescador, evocado em comunidades onde a pesca era bastante praticada.
No Maranhão era comum também o culto a São Marçal, trazido ao Pará por imigrantes maranhenses.
Portanto, no norte temos culto a quatro santos, por isso é utilizado o termo "quadra junina"
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As fogueiras têm simbolismo especial, cada santo junino tem a sua com características específicas
A de Santo Antônio tem base quadrada, é chamada "chiqueirinho"
A de São João tem base redonda
A de São Pedro, base triangular.
No norte, a de São Marçal é feita de paneiros
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No século 20 as cidades crescem no Brasil, a migração campo/cidade também, as festas juninas passam a ser comemoradas pela população periférica (oriunda em boa parte das zonas rurais) para rememorar o passado no campo.
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As classes médias e altas, comemoram a festa utilizando estereótipos do caipira aos moldes do Jeca Tatu: inocente, preguiçoso e com trajes surrados e espalhafatosos.
O casamento na roça era reflexo satírico da sociedade patriarcal e violenta do campo

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A quadrilha é uma dança francesa que foi introduzida no Brasil a partir da chegada da família real portuguesa no século 19.
Com o passar do tempo ganhou contornos brasileiros, mas alguns comandos (como "anarriê") permanecem em francês
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Belém viveu enorme fluxo migratório na primeira metade do século 20, oriundo principalmente do nordeste (especialmente o Ceará) e do interior do estado.
Os migrantes do interior se estabeleceram principalmente nos bairros do Jurunas e Condor, os cearenses desbravaram o Guamá
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Nas periferias a cultura popular resistia e se mesclava com práticas afros, nordestinas e das diversas regiões interioranas do Pará aglomeradas nas periferias.
É nesse caldeirão cultural que se formam os cordões de pássaros e bichos, além dos bois bumbás (+)
os cordões de pássaros e bichos e os bois bumbás eram uma das maiores marcas culturais de Belém até metade do século passado, refletiam a identidade de uma comunidade, gerando rivalidades e pancadaria.
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Uma prática comum nos bois de Belém nos anos 1950 era sangrar a tripa do bicho (esfaquear o sujeito que dançava por debaixo do boi).
Os bois mais famosos de Belém na década de 1950 eram: Pai do Campo, Estrel D'Alva, Dois de Ouro, Treme Terra e Boi Canário
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A partir da década de 1950 Belém viveu um intenso processo de urbanização e integração através de rodovias.
A cidade e o exôdo rural cresceram, os subúrbios se tornaram refúgio das festas juninas, com os bois, mas também com as quadrilhas representando as comunidades
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A partir de então tornaram-se famosas as festas juninas em sedes. A classe média e alta fazia as suas nas tradicionais sedes de Paysandu, Remo, AP, Pará Clube, entre outras.
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As classes populares mantinham terreiros juninos ou celebraram em sedes como Imperial, S. Domingos, Carroceiros, 11 Bandeirinhas e por aí vai.
Ficaram famosas festas de bairro e passagens em Belém, como a festa da Passagem Vitória, na Matinha,onde mamãe conheceu papai em 1974
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Essas festas eram animadas pelas sonoras, que posteriormente viraram aparelhagens.
As festas juninas de rua chegaram a ser proibidas, hoje precisam de regulamentação.
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A festa junina talvez seja a festa mais brasileira de todas, conta nossa história e reforça nossa identidade.
Além de reforçar a identidade de grupos marginalizados pela sociedade brasileira, principalmente a comunidade LGBT dentro do universo das quadrilhas
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