My Authors
Read all threads
A CENSURA NA DITADURA

Se vivêssemos sob a ditadura militar esta thread não entraria no ar. Um censor teria desligado o computador, e o jornal, em substituição, poderia ter publicado a receita de um delicioso bolo de chocolate

Siga o fio ⬇️

📷 Acervo UH/Folhapress
HMMMMMMM
Ingredientes: 1 xícara de leite morno; 3 ovos; 4 colheres de manteiga; 2 xícaras de açúcar; 1 xícara de chocolate em pó; 2 xícaras de farinha de trigo; 1 colher de fermento químico em pó. Modo de fazer: bata bem os ingredientes e leve ao forno até dourar
Guloseimas e poesias também preencheriam este espaço se o texto fosse crítico ao presidente ou a um aliado, ou se trouxesse informações sobre a pandemia que o governo preferisse omitir
Bem-vindos ao segundo capítulo do especial de threads "O QUE FOI A DITADURA", que busca mostrar os horrores do período àqueles que não eram nascidos

📷 Acervo Folhapress
A censura fazia parte da máquina de vigilância e repressão montada pelos militares. Era proibida manifestação que desagradasse o regime, tanto nos jornais quanto nas artes ou mesmo em salas de aula
Nos dez anos de AI-5, foram censurados cerca de 500 filmes, 450 peças de teatro, 200 livros, 100 revistas e mais de 500 letras de música
Na censura à imprensa, ficou famosa a publicação de “Os Lusíadas” pelo @Estadao. Em 1974, a manchete “Os Lusíadas – Canto Primeiro” entrou no lugar da notícia de que o governador Laudo Natel havia proibido a divulgação de casos de meningite
Além da censura prévia, havia punições severas se algo furasse os bloqueios estipulados pelos censores. Um episódio conhecido é o da prisão de Lourenço Diaferia, da Folha, em 1977

📷 Acervo Folhapress
Seu “crime” foi o de publicar uma coluna em que comparava o Duque de Caxias a um sargento que havia morrido ao pular em um poço de ariranhas, no zoológico de Brasília, para salvar um garoto
“Eu digo, com todas as letras, prefiro esse sargento herói ao Duque de Caxias”, escreveu no artigo, que os militares consideraram provocativo. A Folha publicou em branco o espaço da coluna enquanto ele foi mantido preso.
Por conta disso, o jornal foi pressionado a afastar da direção de Redação Cláudio Abramo, tido como subversivo —ele se manteve ligado ao jornal, porém, como correspondente e colunista
Instituiu-se um efeito colateral, a autocensura. O governo facilitava o trabalho ao enviar diariamente bilhetes com o que estava proibido e o modo como noticiar certos assuntos
Na TV Globo, Dias Gomes, dramaturgo visado pelo regime, escreveu a Boni, diretor da emissora, reclamando que funcionários pareciam censores: “Quando passo pelos porteiros, já temo que um deles diga: ‘Vi no VT aquele episódio. Acho que deve mudar aquela cena, aquilo não passa’”
Foi ele o autor de “Roque Santeiro”, novela censurada em 1975, na véspera da estreia. A Globo reagiu com um editorial no “Jornal Nacional”, que pela primeira vez escancarava uma divergência entre a emissora e a ditadura
Com vetos a peças na véspera da estreia e a filmes prontos para o lançamento, a ditadura tornava o investimento nessas produções uma aventura. Chico Buarque foi censurado na sua primeira peça teatral, “Roda Viva”, em 1968

📷 Arquivo Teatro Oficina
O compositor também teve músicas censuradas e, ameaçado, teve de se exilar, assim como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Geraldo Vandré, Nara Leão e tantos outros artistas
Compositores usavam metáforas para driblar a censura, criando clássicos como “Apesar de Você” (Apesar de você, amanhã há de ser outro dia...), de Chico, “Cálice” (Pai, afasta de mim esse cálice...) de Chico e Gil, e “Aquele Abraço”, em que Gil se despede rumo ao exílio
A expulsão do país foi também uma forma de calar professores e intelectuais, além do expurgo profissional, como ocorreu com Fernando Henrique Cardoso, que, após retornar do exílio, foi aposentado compulsoriamente da USP aos 37 anos
A censura é uma arma das ditaduras porque o dissenso, afinal, enfraquece as tiranias, como aponta o jornalista Eugênio Bucci, professor da Escola de Comunicações e Artes da USP. Ele ressalta que é a obediência, e não o debate, que dá estabilidade aos regimes autoritários.
“Para se manter no poder, os ditadores precisam controlar as ideias e as manifestações artísticas. Não podem conviver com a liberdade. Toda ditadura precisa instaurar a censura. Todo regime autoritário é puro medo de mudança, medo de transformação, medo de liberdade
—medo cristalizado em controle paranoico da vida dos outros e censura obsessiva contra tudo que não seja obediência e louvação do chefe. Onde existe censura ou elogio da censura existe uma ditadura, ou, no mínimo, um governante querendo virar ditador.”
Se esta thread foi publicada, deve-se liberdades intrínsecas de um regime democrático.
Leia mais sobre censura na ditadura: www1.folha.uol.com.br/poder/2020/06/…
Aproveite e inscreva-se no curso gratuito sobre ditadura oferecido pela Folha
oquefoiaditadura.folha.uol.com.br
#UseAmarelo pela Democracia
Missing some Tweet in this thread? You can try to force a refresh.

Keep Current with Folha de S.Paulo

Profile picture

Stay in touch and get notified when new unrolls are available from this author!

Read all threads

This Thread may be Removed Anytime!

Twitter may remove this content at anytime, convert it as a PDF, save and print for later use!

Try unrolling a thread yourself!

how to unroll video

1) Follow Thread Reader App on Twitter so you can easily mention us!

2) Go to a Twitter thread (series of Tweets by the same owner) and mention us with a keyword "unroll" @threadreaderapp unroll

You can practice here first or read more on our help page!

Follow Us on Twitter!

Did Thread Reader help you today?

Support us! We are indie developers!


This site is made by just two indie developers on a laptop doing marketing, support and development! Read more about the story.

Become a Premium Member ($3.00/month or $30.00/year) and get exclusive features!

Become Premium

Too expensive? Make a small donation by buying us coffee ($5) or help with server cost ($10)

Donate via Paypal Become our Patreon

Thank you for your support!