As pesquisas em torno da formação econômica e urbana da Amazônia tem embasado hipóteses sobre como as relações de produção constituídas na periferia podem ser experimentos, considerando a relação centro-periferia como espacialmente desigual e dinamicamente reposta no tempo
Retomando as bases do aviamento, uma forma de organização extrativa e de gestão do trabalho que foi hegemônica na região até 1970, é possível traçar paralelos com formas de exploração do trabalho nas metrópoles atuais, núcleos da acumulação e inovação do capitalismo brasileiro
O aviamento foi um sistema de gestão do trabalho via o aprisionamento pelo meio (o ecossistema) e o crédito (adiantamento de mercadorias). Em termos gerais uma cadeia sucessiva de cobrança de “juros extras” que ia do centro a ponta, onerando quem estava embaixo na hierarquia
Este sistema possuiu significado complexo, o que garantiu resiliência as mudanças estruturais. Mas o essencial é que a sua operação sustentava formas de relação de extrema desigualdade de riqueza e poder, com a permanência de níveis de subsistência a ampla parcela da população
Seu objetivo, por assim dizer, consistia em não se desenvolver, considerando que o “desenvolvimento” assenta-se na premissa da expansão dos padrões de consumo e dos níveis de vida, e isto era contraproducente à própria existência do aviamento como sistema de acumulação primitiva
Nesse sentido, o aviamento conseguiu viabilizar a expansão de produtividade sem proporcionar uma redistribuição da riqueza produzida, que circulou somente no topo da pirâmide de comando e controle do sistema, pelas elites regionais, algumas delas internacionalizadas
É neste sentido que penso ser possível retomar a conclusão marxista sobre a busca permanente do capital em ampliar suas possibilidades de acumulação D-D’, na qual ele nunca deixa de existir enquanto riqueza abstrata, evitando o “risco” de se imobilizar em coisas
A financeirização está tornando essa forma de acumulação hegemônica, o que explica a crise da civilização do capital, pois ao abandonar as atividades produtivas, ao afastar-se do mundo-da-vida, a acumulação não viabiliza estabilidade na qual se possa organizar a vida social
O óbvio, caso essa hipótese esteja correta, é que não se pode imaginar que um sistema assim, que funcionou em uma região periférica, com uma força de trabalho dispersa e desorganizada, possa ser funcional em espaços urbanos densificados com potencial de organização coletiva
Daí se pode compreender a ideia Hegeliana de que para que o novo possa existir, o antigo precisa antes emergir em sua forma mais simples e essencial, abandonando as mediações que limitaram, por contingência ou necessidade, o seu desenvolvimento
Enfim, são as reflexões de um domingo a tarde após o #BrequeDosApps
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Dentre as várias interpretações cartográficas sobre o resultado do primeiro turno das eleições, um que chamou minha atenção foi a repetição no Amazonas do descolamento entre a capital, Manaus, e o restante do Estado
Repetição porque foi praticamente a manutenção do padrão ocorrido em 2018
Há, claro, a associação entre a análise mais visível sobre as preferências eleitorais recentes na Amazônia. Com as áreas do agrobolsonarismo bem definidas no Oeste do Maranhão, Sul do Pará, Roraima, Mato Grosso, Rondônia e Acre, no rastro do "arco do fogo e do desmatamento"
Poucos lugares sintetizam a natureza do modelo de desenvolvimento regional para a Amazônia quanto Barcarena, município nas imediações da capital, Belém. A história dessa síntese foi iniciada nos anos 1970 com a viabilização de um polo industrial de produção mineral
O projeto contou com participação do capital japonês, no contexto da reestruturação industrial derivada dos choques de energia. Do empreendimento, surgiram duas empresas, uma produtora de alumina, outra de alumínio primário negociados como investimentos independentes:
(+) a Alumina do Brasil S.A. (Alunorte) e a Alumínio do Brasil S.A. (Albras), ambas resultantes de associações entre a estatal Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) e a Nippon Amazon Aluminiun Corporation (NAAC), consórcio que envolvia empresas privadas e o Estado japonês
Em 2013 (sempre este ano), o número 12 do Caderno de Estudos Estratégicos, periódico da Escola Superior de Guerra, homenageou com um conjunto de artigos os 100 anos de nascimento do general Carlos de Meira Mattos, em uma série de textos sobre a vida e o pensamento do militar
Meira Mattos foi um dos mais conhecidos ideólogos da "Geopolítica brasileira". Seu livro, "Uma geopolítica pan-amazônica" teorizou sobre os conceitos básicos das estratégias de integração nacional, tais como o binômio Segurança e Desenvolvimento
Além de advogar uma aliança preferencial com os EUA no plano externo e, no plano interno, conceber a Amazônia como condição ao projeto de Brasil-potência, a partir da realização das grandes obras de infraestrutura viária e energética
Aproveitar o fim do encalhe do supercargueiro no canal de Suez e contar uma história sobre política, comunicação e memes que todos estamos acompanhando em Belém do Pará relacionada a gestão municipal que assumiu em janeiro
Um dos problemas em Belém são os constantes alagamentos, decorrente, dentre outras questões, da quantidade de lixo despejado nos canais, ausência de gestão ambiental condizente com o sítio urbano e ocupação das bacias hidrográficas. Quem quiser saber mais:
Pois bem, há alguns meses o trabalho da Secretária de Saneamento, @gasparimivanise vem chamando atenção, primeiro eram fotos e comentários em redes sociais, depois o negócio ganhou corpo e reverberou na mídia tradicional e no cotidiano da cidade
A insistência na (falsa) equivalência simétrica entre petismo e bolsonarismo e, de tempos para cá, no risco Lula para 2022, talvez tenha uma base política e material que cabe ser observada
Em 2002 quando o PT foi vitorioso, havia duas décadas de distância, pelo menos, do fim da ditadura. Os quadros que chegaram ao governo passaram pelo parlamento, governos municipais e estaduais, conviveram com adversários e algozes e foram parte constituinte dos pactos de 88
Havia um ambiente de conciliação que foi forjado ao longo de duas décadas de convivência entre a esquerda e essas elites em ambiente democrático moderado. No início do governo Lula houve depuração dos quadros considerados "radicais" que, inclusive deram origem ao PSOL
É comum ouvir que os problemas urbanos em Belém e Região Metropolitana são derivados diretamente de uma suposta "falta de planejamento" na cidade. Mas o que a maior parte dos estudos recentes em geografia urbana e urbanismo contam é uma história diferente...
Belém até 1960 era uma cidade limitada as proximidades da área original de fundação, na chamada "Primeira Légua Patrimonial". A expansão em direção a "Segunda Légua" e aos municípios próximos se deu a partir desta época, quando o "Cinturão Institucional" foi rompido
Até então, Belém tinha seu crescimento confinado por uma política de distribuição de terras para instituições públicas e privadas. O cinturão institucional, no qual se localizam as universidades, aeroporto, forças armadas etc. O uso institucional bloqueia a ocupação habitacional