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Ainda sobre os infames 7 segundos, que o @expresso divulgou ao mundo (sim, foram eles que enviaram aquilo para fora da redacção e tudo o resto é conversa)

A @SICNoticias anda a passar excertos da entrevista ao primeiro-ministro, e um dos planos deveria fazer-nos todos pensar
Nesse excerto vemos o primeiro-ministro, a cumprimentar os jornalistas, todos sorridentes, como se de um encontro de amigos se tratasse. Ali não há separação, fazem parte todos do mesmo grupo, apesar de alguém não ter recebido o memo sobre o dress code a utilizar.
Aquele ambiente de descontração, risota, e boa disposição - que nada mais nada menos é do que o nacional porreirismo em todo o seu esplendor - explica, em grande parte, o que levou Costa a referir-se como se referiu a alguns médicos.
Ele sabia, desde o início, que não ia ser confrontado com absolutamente nada, que aquela entrevista nada mais é do que uma operação de charme (até vai sair na revista E), e que até uma ida à Cristina apresentava mais riscos do que aquele momento.
Aquelas imagens fizeram-me pensar na entrevista que Trump concedeu ao Jonathan Swan. Swan não é um desconhecido de Trump, até porque foi assessor de um senador republicano Ed Royce no Senado, e anda por Washington há muito tempo.
Swan é consciente da sua posição de jornalista, da importância que o seu trabalho tem, e da distância que deve manter com quem vai entrevistar. Sabe que aquele momento não é uma reunião de amigos ou conhecidos, mas sim um momento importante para todos nós.
Fala-se muito da necessidade de salvar o jornalismo, de apoiar o jornalismo, da importância do jornalismo na sociedade e na democracia. E estes são conceitos com os quais todos concordamos. Mas fala-se muito pouco de conquistar novamente a confiança no jornalismo.
O contraste existente entre as imagens divulgadas pela SIC, e as imagens da entrevista a Trump fazem parte do problema, e o problema é o da atitude dos jornalistas perante o poder.
Não me interessa se algum daqueles jornalistas é amigo pessoal do primeiro-ministro. O que me interessa é que, ao ver aquelas imagens, fico com a sensação que dali não vai sair qualquer escrutínio, que não vai existir confronto, que vai ser apenas mais uma divulgação de agenda
Todos os dias jornalistas demonizam as "redes sociais", pelos mais diversos motivos - ao fim ao cabo são as redes sociais que inflamam e empolam tudo e mais alguma coisa, nunca os jornalistas, dizem. (lembram-se da peça da Latino sobre Londres?)
A realidade é que são as "redes sociais" (esse conceito abstracto de um grupo de pessoas) que hoje em dia exercem a maioria do escrutínio que dantes era feito pelos jornalistas. Questionam, debatem, fazem o contraditório, e têm opiniões que chegam a muitas pessoas.
Este escrutínio cerrado que se faz nas redes sociais, e que tanta vez é aproveitado para gerar "notícias" sem mencionar a fonte ou pedir autorização aos seus protagonistas, seria esperado de um jornalismo que quer ser salvo pelos cidadãos.
Seria também de esperar que o dever deontológico ganhasse, sempre, ao corporativismo que lamentavelmente existe. E que este fascínio pelos que estão no poder nunca fosse razão para não fazer as perguntas que são necessárias fazer.
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