Thread by @gabrielbeblo

Eu já contei várias vezes sobre experiências incríveis de trabalho, mas hoje vou contar pra vocês uma das mais exaustivas e absurdas:

Quando trabalhei pro Cirque Du Soleil: Varekai

Em primeiro lugar, quero avisar que não arrependo de ter feito esse job, uma vez que sinto que ele me trouxe um peso enorme no currículo e ganhei MUITO conhecimento do mundo circense e de segurança privada.

Conheci pessoas incríveis que levarei pra sempre na memória.

Tudo rolou em 2012, em Janeiro, quando o circo foi se apresentar em Belo Horizonte.

Antes de mais nada, eu não era contratado direto do circo. O circo foi trazido pela T4F (que produzia shows), e a mesma contratou a empresa de segurança que me contratou.

O circo exigia um supervisor de segurança bilíngue, mas em 2012 simplesmente não existia ninguém com esse perfil no mercado de trabalho. A solução: contratar dois intérpretes/tradutores pro time de segurança.

Duas pessoas apenas, eu e uma amiga da faculdade de Letras

O grande atrativo, além de trabalhar num circo renomado, era o salário:
R$2500 na época em que o salário mínimo era 540 reais (e a minha bolsa da faculdade apenas 300).

O que eu não esperava era o quão exaustivo fisicamente e mentalmente esse trabalho seria.

O time de segurança era dividido em turnos. 2 turnos por dia, por 12 horas: 7-19 e 19-7.

Os mesmos seguranças trabalhavam um dia e folgavam no dia seguinte.

Os tradutores? 34 dias seguidos (período do circo na cidade) sem folga. 12 horas por dia.

Fui trabalhar de palhaço?

Pra piorar a situação, eu fiquei de favor na casa de uma tia (zero culpa do empregador né?) que morava do lado oposto da cidade.

Minha rotina era:
Acordar 5am e tomar um Toddy de café da manhã.

Andar 30 minutos e pegar o ônibus 5:45.

1 hora de ônibus + 15 minutos andando

Tudo pra sair de lá as 19, pegar o ônibus e chegar em casa quase as 21 pra tomar um banho e dormir pro dia seguinte.

Eu andava o dia todo de um lado pro outro. Eu ficava MORTO.

Mas aí vem o cansaço psicológico também.

Eu tinha dois rádios: um em inglês e um em português. No inglês eu recebia as ordens e repassava pro pessoal no rádio em português.

A questão é que o chefão do circo era um bruto escroto que amava gritar, humilhar e ameaçar demitir todo mundo.

E eu tendi que traduzir tudo.

Pensa num cara gritando:

Vou demitir todo mundo nessa caralha se eu ver mais algum preguiçoso sentando a bunda na cadeira durante o turno

Eu traduzindo:

É... seria legal se vcs sentassem só um pouquinho mas não mundo

TUDO era segregado. Os artistas e gerentes tinham acesso à cozinha internacional, com um chef que fazia as receitas mais deliciosas de cada país.

O pessoal brasileiro contratado temporário tinha uma espécie de bandejão com uma ou duas opções e não podiam PISAR na outra cozinha

E o pessoal da segurança? Marmitex morno com talheres de plástico que quebravam ao tentar cortar a carne. E só. Um café com pão a tarde é isso.

Isso porque eram esses seguranças que abriam o portão pra confeitaria entregar croissant quentinho pros artistas

Durante uma reportagem sobre o Cirque Du Soleil,uma repórter perguntou a moça da limpeza o que ela tinha achado do show
A mesma informou que nós funcionários não podíamos assistir o show e não tínhamos dinheiro prum ingresso tão caro

So então o circo liberou 1 ingresso pra cada