Thread by @magadaservas

Essa semana será votada a PL399/15, que pretende legalizar e regulamentar o cultivo de cannabis medicinal e industrial no Brasil. Isso tem atiçado declarações desinformadas de proibicionistas.
Então segue a sequência explicando o que está errado aí no print (spoiler: TUDO! RS).

Se você fala sobre maconha certamente já se deparou com “CBD é o medicinal, THC deixa chapado” em algum momento da sua vida.
A distinção entre uso medicinal e uso adulto da cannabis não é feita dessa maneira e o THC (pasme) é medicinal também.

Mas afinal, o que é THC e CBD?

O “nome oficial” dessas substâncias ligadas à cannabis são canabinoides, que são moléculas fitoquímicas encontradas nas flores de maconha, mais especificamente nos tricomas que recobrem sua superfície (esses pelinhos esbraquiçados/transparentes aí das fotos).

Cabe ressaltar aqui que tricomas não são estruturas exclusivas da cannabis. São apêndices epidérmicos que ocorrem em diversas espécies vegetais e geralmente servem para proteção. Podem ou não produzir alguma substância (ex: urtiga e tomate, respectivamente).

Os canabinoides mais conhecidos são o Tetrahidrocanabinol (THC) e o Canabidiol (CBD). Atualmente já descreveram mais de 120 canabinoides com potencial terapêutico. E quem começou com essa história foi o químico israelense Raphael Mechoulam lá nos anos 60.

Em 1963 ele publicou o estudo no qual isolou e descreveu o canabidiol CBD e em 1964 fez a mesma coisa com o THC.

Mechoulam também identificou o Sistema Endocanabinoide nos mamíferos e ainda descreveu os endocanabinoides que atuam nesse sistema, a Anandamida e o 2-Arachidonoyl Glycerol (2-AG). Sim, esses dois são produzidos no seu corpo. Você produz canabinoides!

O sistema endocanabinoide regula várias funções biológicas (como inflamação, dor, apetite, etc) e funciona através da conexão entre canabinoides vegetais (THC, CBD, CBN) ou endocanabinoides (Anandamida e 2AG) e receptores, chamados de CB1 e CB2, presentes nas células do corpo.

Não sou médico (sou paciente, rs) e nem é o propósito falar de sistema endocanabinoide. Deixo aqui então pra quem quiser ir mais a fundo uma palestra disponível no canal da Apepi, realizada em 2018 durante o Seminário Internacional de Cannabis Medicinal.

Cada tipo de canabinoide possui um efeito distinto e podemos sim isolá-los quimicamente com o intuito de produzir fármacos, como já fazemos com o CBD, por exemplo.

Por que então defender o autocultivo se estes fármacos já podem ser adquiridos com registro e receita?

1- Efeito Entourage ou Efeito Comitiva (Mechoulam, 1998; Russo, 2006) diz respeito a interação e modulação entre todos os compostos químicos da cannabis (canabinoides, terpenos, flavonoides, polifenois). Calma, vou explicar:

Nessa pesquisa de 2006, Russo percebeu que ao adicionar uma dose de CBD os efeitos colaterais do uso do THC diminuíam. Ele concluiu que canabinoides isolados tinham mais efeitos colaterais e eram em geral menos potentes do que quando usados de forma integral.

Isso embasou a descoberta sobre o efeito dos terpenos, compostos químicos orgânicos encontrados em diversas espécies vegetais, incluindo a cannabis, que agem como guia dos canabinoides no corpo.

Por isso os efeitos de cada cepa (strain) são diferentes e cada paciente busca a combinação mais adequada às suas necessidades.

2- Importar medicamentos à base de cannabis hoje no Brasil é caríssimo. O print só mostra o quanto essas pessoas não se importam com as famílias que tanto dizem defender.

Seguem deixando mães, pais, filhos e irmãos à mercê de um mercado internacional caro, com inúmeras dificuldades de acesso, para obter um óleo de concentração controlada e que muitas vezes nem funciona pra pessoa que vai tomar.

Precisamos de remédio HOJE! #PL399sim