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Por que o Brasil é o primeiro a discursar na ONU? Todo ano em setembro as pessoas se fazem esta pergunta. Hora de desfazer alguns mitos sobre essa tradição. Segue o fio. 👇
Mito 1: A tradição começou em 1946 na 1a Assembleia Geral da ONU.
Na verdade não. O Brasil nem foi o primeiro a discursar em 1946. O costume vai ser estabelecido alguns anos depois.
Mito 2: Oswaldo Aranha presidiu a 2a Assembleia Geral da ONU em 1947, então essa deve ser a razão.
Não há relação entre as duas coisas. Aranha era Presidente da Sessão e sequer integrava a delegação brasileira. O Embaixador João Carlos Muniz foi quem discursou pelo Brasil.
Mito 3: Foi “prêmio de consolação” já que o Brasil não se tornou membro permanente do Conselho de Segurança em 1945.
Altamente improvável. Os atuais P5 foram definidos mesmo antes da assinatura da Carta da ONU. Quando a tradição começou, esse assunto não estava na agenda.
Agora que descartamos os mitos, vamos recordar alguns fatos. O Brasil fez efetivamente o primeiro discurso em 1949, na 4a Assembleia Geral, com o Embaixador Cyro de Freitas-Valle, seguido de EUA, Cuba, Índia e outros.
Em 1950, novamente Freitas-Valle abre o debate geral, fato repetido em 1951, desta vez com Mário de Pimentel Brandão. Em 1952, porém, a sequência é interrompida. Em 1953 e 1954, a situação se repete e o Brasil tampouco aparece em primeiro lugar na lista.
Somente em 1955, na 10a Assembleia Geral, com o retorno de Freitas-Valle como chefe da delegação brasileira, o Brasil volta a ser o primeiro, seguido de EUA, Costa Rica, Egito e outros.
A partir daí, o Brasil passa a inaugurar todos os anos o debate geral, de forma ininterrupta. Em 1956, de novo Freitas-Valle. Em 1957, Oswaldo Aranha. Em 1958, Francisco Negrão de Lima. Em 1959, Augusto Frederico Schmidt. Em 1960, Horácio Lafer. E assim por diante.
O ex-chanceler Ramiro Saraiva Guerreiro contou em suas memórias que, em meio à Guerra Fria, EUA e União Soviética estavam em desacordo sobre a lista de oradores e o Brasil surgiu como solução de compromisso. Chamaram Freitas-Valle, que aceitou a responsabilidade.
Desde então, consolidou-se a tradição, cujos detalhes se perderam no folclore onusiano. O Secretariado da ONU a considera uma “prática estabelecida”. A Resolução 51/241 (1997) reconhece as “tradições existentes” para elaborar a lista de oradores.
Quer saber mais sobre o papel do Brasil na criação da ONU? Baixe o arquivo do livro "O Sexto Membro Permanente" no meu website acadêmico: eugeniovargasgarcia.academia.edu/research#books…
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