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83. RELAÇÕES BRASIL - REPÚBLICA DA ÍNDIA

Nos últimos 30 anos é uma relação que vem ganhando cada vez mais destaque e dinamismo. Por sua importância, 7º no ranking daqueles de importações do BR, hj ñ contarei a interessantíssima história do país, infelizmente, mas me falta espaço
Brasil e Índia estabeleceram suas relações diplomáticas em 1948, logo a pós a independência indiana (1947). Mas à época a distância física, cultural, a não complementariedade das economias e a característica de terem governos fechados impediram maiores aproximações diplomáticas
É no governo Janio Quadros (1961) que o Brasil, dentro do contexto da Política Externa Independente, começa a timidamente se aproximar da Índia, ainda no campo puramente comercial.
Já no governo seguinte, ao menos nos fóruns multilaterais, a aproximação política deu seus primeiros passos.
Na Conferência do Desarmamento, em Genebra, 1962, o Brasil apresentou um documento contra as explosões atômicas, assinado por outras 8 potências não alinhadas, entre elas
a Índia. É assim que começa, encontrando pontos em comuns, de convergência.
Nesse contexto, tem especial destaque a 2ª Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), realizada na Índia em 1968, onde o Brasil, junto da anfitriã, liderou o chamado G-77
Um grupo de 77 países em desenvolvimento que tiveram amplo protagonismo na Conferência, buscando promover um comércio mais justo e simétrico, o que representaria uma postura de pressão aos EUA porque eles deveriam fazer concessões para tal.
Vale ressaltar que essa posição de defender um comércio mais justo e de protecionismo marcam a atuação tanto de Brasil quanto da Índia nas discussões comerciais internacionais, principalmente no GATT e depois na OMC.
Não é incomum você encontrar um grupo de países que defendem isso na OMC que seja liderado por Índia e/ou Brasil.
Foi assim, por exemplo, na década de 1980 na Rodada do Uruguai do GATT, contra a inclusão do setor de serviços na rodada, grupo liderado por Brasil e Índia.
Em 1968 também, já no governo militar de Costa e Silva, essa aproximação política com a Índia começa a se fazer mais presente, mesmo com o governo indiano, apesar de não alinhado, ter começado uma política econômica similar ao socialismo, em plena guerra fria.
Mas o governo brasileiro promove essa aproximação por entender que a Índia compartilhava objetivos comuns com o Brasil. Assim, em 1968, Indira Gandhi, primeira-ministra da Índia e que não tem nenhum parentesco com Mahatma Gandhi, fez uma visita muito simbólica ao Brasil
Existe um vídeo no youtube sobre essa visita, a cobertura completa da TV brasileira da época

Para quem se interessar....
O Brasil e a Índia assinaram inclusive nesta visita um Acordo de Cooperação Nuclear para fins pacíficos, que foi denunciado pelo Brasil quando a Índia concluiu uma ogiva nuclear, em 1974.
Em retribuição à visita, Magalhães Pinto, chanceler brasileiro à época, fez uma visita à Índia, no mesmo ano. Só que com o começo dos testes nucleares indianos nos anos 1970, a relação esfriou muito por conta do Brasil, que não queria ser visto ao lado da Índia
As coisas voltam a "esquentar" nos anos 1980, quando o Brasil lança seu programa de produção de combustível à base de cana de açúcar, o "Proálcool", porque a Índia à época era a maior produtora de cana de açúcar do mundo e tinha muitos problemas com sua matriz energética
Dessa forma, ela tinha total interesse no desenvolvimento dessa tecnologia.
O países chegam a iniciar uma cooperação técnica no assunto, que não se desenvolveu tanto, mas foi muito simbólica.
Quando entramos na década de 1990, entramos em um período de "revolução" econômica na Índia, a partir de evolução no campo técnico e educacional desde os anos 1970-1980. Isso resultou numa modificação dramática de sua economia nos anos 1990.
Parou de ser uma vendedora de commodities para vender produtos intensivos em tecnologia (fármacos, petróleo refinado, serviços, tecnologia espacial, automotiva). Assim, as relações com o Brasil tomaram outra faceta, sendo diversificada.
É nesse contexto que Fernando Henrique Cardoso, em 1996, se torna o primeiro presidente brasileiro a visitar a Índia.
Diga-se de passagem, FHC fez bastante coisa para o Brasil em questão de aproximação com a Ásia.
Nessa visita, histórica e simbólica, os países discutiram sobre energia nuclear, biotecnologia e informática. No campo da energia nuclear, os países assinaram um acordo de cooperação, para fins pacíficos, (+)
mas que de novo teve que ser denunciado pelos novos testes indianos com bombas em 1998, depois da escalada de tensões entre Índia e Paquistão.
Ainda com FHC, o Brasil e a Índia lutaram juntos na OMC contra as grandes indústrias farmacêuticas na chamada "Questão da Quebra de Patentes" na OMC (Licenciamento compulsório de fármacos).
Em seguida, no começo do milênio, Brasil e Índia, junto com Alemanha e Japão se unem para formar o G4, um grupo de países que reivindica seu assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, junto da total reforma da instituição.
Já na Rodada de Doha da OMC, em 2001, Brasil e Índia, novamente se juntam, agora com a África do Sul e começam as conversas que culminariam em 2003 na formação do Fórum de Diálogo Índia, Brasil e África do Sul (IBAS), pela declaração de Brasília
O grupo começa com um interesse em comum na discussão sobre acesso a produtos da indústria farmacêutica, principalmente em remédios que fazem parte do combate ao HIV, mas depois se torna um fórum (não é OI) de conversas e trocas políticas amplas
Agora já falando do governo Lula, em 2003, junto da Índia e outros 18 países, é formado o "G-20 agrícola", um G-20 dos países em desenvolvimento que concentram sua atuação na OMC na agricultura.
Só que nessa questão em específico, a Índia apesar de fazer parte do grupo que defende a liberalização do comércio agrícola, tem uma posição dita como "híbrida", porque é um país historicamente protecionista, pela sua distribuição demográfica, com a maior parte vivendo no campo,
e de produção para a segurança alimentar, inclusive fazendo parte do G-33, reunião dos países protecionistas.
Depois do estabelecimentos de algumas comissões bilaterais e da visita do presidente Lula à Índia em 2004, quando os países tiveram a oportunidade de estreitar os laços e quando Lula anunciou o que estava por vir....
em 2006 os países assinaram um acordo que torna a parceria entre os dois países "Estratégica", o que elevava as relações para níveis nunca antes vistos. Esse tipo de acordo o Brasil só tem com países muito próximos, como EUA, China, Russia, Alemanha...
O acordo foi assinado quando o primeiro-ministro Manmohan Singh veio ao Brasil, em 2006

Lula visitaria novamente a Índia em 2007, antes da oficialização de um dos pilares da política externa brasileira nos anos 2000 e começo de 2010, que teve a Índia como protagonista: BRICS
Os BRICS na verdade surgiram BRIC (sem África do Sul) e sem envolvimento de nenhum governo dos 4 países. Em 2001, o economista Jim o'Neill escreveu um artigo, publicado pelo banco Goldman Sachs, indicando BR, Índia, Russia e China como "bons países para investir no futuro"
Porém, a partir da criação do termo que não foi algo político, os países começam a perceber que podem ter uma convergência e pressão política, ainda que informal até 2008.
Assim, em plena crise, em 2008 acontece a primeira reunião dos chanceleres dos países do BRIC, oficializando esse agrupamento de países, um dos mais importantes das últimas duas décadas, em que figuram Índia e Brasil.
Em 2008, já nesse novo contexto, Pratibha Patil, presidente da Índia. Vale dizer que a visita foi a primeira visita da presidente indiana a um país estrangeiro desde a sua posse, mostrando a representatividade do Brasil na política externa indiana
Vale dizer que nesse momento já vigoravam ainda mais comissões bilaterais, nos campos da cooperação econômica, tecnológica, comercial, financeira, etc.
Lula ainda receberia a visita do primeiro-ministro indiano em 2010, mais um vez.
Agora no gov Dilma, principalmente no seu primeiro mandato, a Índia continuou a ter forte presença em sua política externa. Em 2012, a presidente fez sua primeira visita à Índia, onde defendeu "uma nova ordem mundial e reformas no Conselho de Segurança das Nações Unidas", além
da "defesa dos interesses de nossas populações pobres, promoção de crescimento econômico sustentável e uma posição internacional independente coerente com a nova ordem internacional".
Por fim, na visita foram analisadas as principais áreas das relações bilaterais: ciência e tecnologia, educação, defesa, cultura, meio ambiente e políticas sociais.
Só que com o conturbado 2º mandato de Dilma, a manutenção do nível da relação ficou à cargo das comissões bilaterais e dos contatos diplomáticos próximos.
Temer, já na cadeira de presidente, tentou reacender os BRICS. Nesse contexto, em 2016 já, visitou a Índia com uma comitiva que contou com o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Blairo Maggi e o ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, Marcos Pereira
Já no governo Bolsonaro, a manutenção das relações com a Índia passam não pelo BRICS, mas pelo interesse do setor agropecuário (muito forte no governo) no enorme mercado consumidor indiano e até por ideologia, já que o gov do primeiro-ministro Narendra Modi é de nacionalismo extr
além de ser um governo de orientação direitista.
Assim, Bolsonaro foi até a Índia neste ano (2020), quando tentou promover principalmente os interesses do setor agropecuário brasileiro.
Bom, resumindo, hoje temos uma relação com a Índia que perpassa por vários campos, destacando o campo da cooperação técnica em agricultura, em tecnologia, na defesa, um comércio bilateral enorme e convergência política em muitos temas da agenda internacional.
O comércio, por sinal, que teve uma enorme queda entre 2014 e 2016, de quase 50%, vem subindo, mas ainda tímido. Em 2019 registramos US$ 7 bilhões em comércio.
Nossos 2 principais produtos exportados são os óleos brutos de petróleo (35%) e ouro (13,5%), que somados aos outros produtos que não chegam a 10% das exportações, dão US$ 2,8 bilhões
Já nas importações, figura como o 7º país que o Brasil mais importou em 2019, com US$ 4,3 bilhões. Desse valor, 15% corresponde a compostos organo-inorgânicos, compostos heterocíclicos, ácidos nucleicos e seus sais (indústria farmacêutica) e 13% óleos combustíveis do petróleo
Bom, é isso. O país de amanhã será aquele que possui a maior população muçulmana do mundo: a Indonésia 🇮🇩
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