Para você, filosofento (a), que vive no mundo da lua:
“Em 1974, tornei-me pai. Foi isso que me levou a entrar plenamente no mundo. Por diversas razões, eu me senti fortemente tocado pela chegada dessa criança e queria viver plenamente essa experiência. +
A criança não se deixa reduzir a uma abstração, ela chora e ri para você, exigindo uma resposta. Ela também o força a aceitar a continuidade entre vida material e vida do espírito. +
Amá-la com todo coração deve ser traduzido também em lavar seu traseiro, trocar fraldas, preparar suas mamadeiras — nem muito quentes, nem muito frias. Diante dessa intrusão brutal de preocupações, tão diferentes daqueles a que estava acostumado, duas atitudes eram possíveis. +
Ou bem compartimentava solidamente minha pessoa e minha vida, e nesse caso o fato de ter me tornado pai, não teria nenhuma incidência sobre minha maneira de pensar e, portanto, sobre o conteúdo de meu trabalho, dado que se tratava de um trabalho do pensamento. +
Ou então eu buscaria estabelecer, se não uma coerência perfeita, pelo menos uma comunicação. Ora, a primeira opção me repugnava, pois se parecia muito com a atitude de descontinuidade como regra de vida: bons companheiros de copo à noite, conformistas submissos durante o dia. +
Optei pela busca de continuidade, e minha maneira de pensar se viu transformada. Nesse aspecto, senti-me em ruptura não só com meus antigos amigos, mas também com bom número de intelectuais franceses. +
Você, assim como eu, conhece todos esses filósofos e escritores para quem somente existem a vida do espírito, a pesquisa ou a criação, e gostariam de reduzir sua presença física neste mundo a um mínimo ou, em todo caso, gostariam de não tomar conhecimento dela em seu trabalho. +
Da vida material, eles só retêm o “corpo”, ele próprio reduzido à sexualidade. Ora, eu não creio, para falar como Mallarmé, que “tudo no mundo existe para finalizar num livro”. A troca amigável e amorosa, a vida material, me importam muito. +
Adoro trabalhar com as mãos, arrumar uma casa, cozinhar para meus próximos, caminhar na floresta, sentir o cheiro da terra e, sobretudo, não quero isolar essas experiências do trabalho do espírito. Meu pensamento não deve ignorar os prazeres de meus sentidos. +
Você vai achar que tenho contas a acertar com Sartre, o que não é o caso, mas é ele que me vem à mente como contraexemplo. Você sabe, esse lado “moro num hotel, não tenho filhos, as preocupações cotidianas não existem” etc. +
Muitos intelectuais, menos célebres q ele, adotam essa atitude, por vezes sem se dar conta. Separo-me deles em dois pontos: (1) acho q deixam de viver experiências essenciais (como lamento por todos os jovens q não viram seus filhos crescerem pq precisavam terminar a tese!); +
(2) creio que nenhuma parede estanque deve separar a reflexão desses aspectos da existência. Do contrário, corre-se o risco de produzir, no trabalho, uma imagem de mundo sem relação com o mundo em que se habita.”
— Tzvetan Todorov, in: “Deveres e deleites”.
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Seu maior conflito não será contra o mundo, será contra Deus. Jamais confie naqueles que batem no peito e esbravejam que fazem a vontade divina sem luta. Somente quem sabe das implicações da Providência luta com Deus. +
Alguém pode cogitar que a maior luta do crente é contra os demônios. Tal crença dura apenas um instante, aquele instante em que as escamas dos olhos caem e o crente se descobre, na tentação, lutando não com demônios, mas com Deus. +
Calma, não se aterrorize. Como disse Kierkegaard, é somente na luta com Deus que vencemos as tentações. Todavia, vencemos não porque derrotamos a Providência. Longe disso! Vencemos porque Cristo nos venceu. Na luta com Deus, só saímos vencedores quando Ele nos vence. +
Hoje ministramos o curso de membresia para aqueles que querem se tornar membros da igreja. Aos pouquinhos estamos nos ajustando ao novo espaço. É como se estivéssemos montando o ônibus com ele em movimento. Mas Deus tem dado graça e nos sustentado até aqui.+
Já passamos por tantas dificuldades, já tivemos tantas alegrias. Mais de 5 anos se passaram. Novos desafios estão surgindo. É hora de compartilhar, de se doar ainda mais. Nada de reter, represar, encastelar. A igreja tem de aprender a dançar com a Trindade a dança da doação.+
E é assim que uma igreja ganha beleza e ordem. Ela espelha Jesus no que ela perde, no que ela entrega. Nada pode ser da igreja se não pertencer antes ao Senhor. Tudo que damos, recebemos primeiro dEle. Nessa dança, todos doam, todos recebem. Ninguém toma nada de ninguém.+
Paciência. Palavra-chave para entender o que é aprender. Aprender não é fazer o máximo para terminar logo. Pelo contrário, é como construir uma catedral. As catedrais sempre começam no vazio e com um tijolo por vez.
É difícil ver a catedral quando se está no terceiro ou quarto tijolo. Paciência é tudo. Vai demorar. Leva tempo. Mas quando você resiste a feiúra do canteiro de obras, aos poucos, uma frase por vez, um acorde por vez, e pronto. Voilà! A peça vai ganhando força, consistência.
É a hora em que começamos a ter prazer na obra que espera de nós esforço e perseverança. Talvez você esteja colocando os primeiros tijolos e já queira ter o prazer da obra pronta. Você olha as catedrais dos outros. Elas estão tão lindas. Contudo, você só tem o canteiro de obras.
Um dia desses, um colega da filosofia me perguntou quem era Herman Dooyeweerd. Ele não conhecia o filósofo reformado holandês, embora conhecesse profundamente Edmund Husserl, o filósofo luterano “alemão”. +
Como profundo conhecedor da fenomenologia, meu colega já tinha lido a introdução do De Boer, uma das melhores senão a melhor introdução ao pensamento husserliano. Sabendo disso, eu lhe disse, com aquela ironia que nunca ofende aquele que nos é familiar: +
“Embora você não conheça Dooyeweerd, você deve muito a ele e a seus discípulos.” Ele franziu a testa e me respondeu com inevitável espanto: “Que?”. Foi aí que eu contei a ele sobre a fundação da Universidade Livre de Amsterdã, +
"Não se fala muito sobre a gripe espanhola atualmente, mas foi uma catástrofe que nos atingiu em plena Grande Guerra, exatamente quando estávamos começando a participar dela. +
A epidemia matou milhares de soldados, homens saudáveis, na força da idade, e, depois, se espalhou pelo resto da população. Foi como uma guerra realmente. Um funeral atrás do outro. Perdemos tantos jovens... +
As pessoas vinham à igreja usando máscaras, quando vinham. Todos se sentavam o mais longe possível uns dos outros. Circulavam boatos dizendo que os alemães tinham provocado a epidemia com algum tipo de arma secreta, e acho que as pessoas queriam acreditar nisso, +
Michael Ward decifrou Nárnia. Já se fez muitas associações das sete crônicas com os sete sacramentos, os sete pecados capitais e os sete livros que compõem a Faerie Queene, de Edmund Spenser. +
No entanto, a pesquisa que Ward fez parece colocar um ponto final no enigma das sete crônicas. Em Planet Narnia, ele apresenta provas robustas de que o enigma das crônicas está na cosmologia medieval. +
De acordo com Ward, a partir da cosmografia pré-copernicana, aquela mesma que Dante Alighieri seguiu em “A divina comédia”, as sete crônicas expressariam as características dos sete planetas medievais: Júpiter, Marte, Sol, Lua, Mercúrio, Vênus, e Saturno. +