Não queria escrever sobre isso, mas vi os números de hoje e enervam-me que sejam vistos como apenas números. Sempre lidamos com a morte mas agora são mais e mais frequentes.
Ontem faleceu mais um doente meu. Mas era mais do que isso. Era uma amigo. Meu amigo.Amigo dos meus pais.
Acolheu-me na sua casa. Fui de férias com ele e a família uma vez. Deu-me a conhecer Lisboa muito melhor do que conhecia até então. Foi com ele que fui a primeira vez ao Algarve. Uma jóia de pessoa. Que dava o que tinha e o que não tinha para ver os outros sorrir.
Tinha a idade do meu pai. E não tinha doenças, nem antecedentes, como o meu tem. Era pai e marido e avô de alguém. E hoje já não é. É um número.
Foram 3 semanas no hospital. Duas no meu serviço. Batalhamos, lutamos, mas chegamos a um momento que o saber e a experiência nos dizem que determinado desfecho é inevitável. Mais uma vez fazemos o que podemos nas últimas horas. A certeza de que não há sofrimento para o doente e o
tentar que o sofrimento seja o menor possível para a família. Mas se arrepia quando vemos alguém a olhar para o pai a última vez, parte o coração quando conhecemos tanto um como outro.
Orbigado a todos pelas palavras carinhosas. ♥️
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Ia fazer manhã, tive de fazer manhã/tarde, mas um colega teve de entrar mais cedo na noite, porque a minha esposa também foi fazer noite e eu tinha de estar em casa, para os putos não ficarem sozinhos.
De manhã parei os cuidados de higiene a um doente. E passei 3 ou 4 minutos abraçado a uma auxiliar. E não, não é dessa maneira. Estávamos a trabalhar e as lágrimas corriam-lhe pela cara abaixo. Difícil de perceber, porque ela escondia e a máscara, a viseira o fato, tudo esconde.
Todos andamos a precisar de um abraço. Tento muitas vezes confortar os meus colegas com um, mas também confirmar-me a mim próprio, porque também ando a precisar deles. Aquela jovem auxiliar, vai no 14° de 19 dias de trabalho sem folgas.