Pré-pandemia, passei uns meses trabalhando como operária em uma fábrica japonesa que faz peças para megamontadoras. Escrevi um diário da experiência, marcada por jornadas de 12 horas em pé, movimentos mecânicos e regras bizarras para burlar direitos dos trabalhadores
O que mais me impressionou foi o discurso direto e literal, sem nenhum verniz pra amenizar as condições reais de trabalho. Dirigentes dizendo, literalmente: não pode conversar, não pode ficar parado, não pode parecer que está cansado ou descansando [...]
E, não importa o que acontecer, não pode dar a impressão de que a fábrica está dessincronizada. Se a máquina parar e precisar esperar, não pode sentar: finge-se que está varrendo. Digo fingir, pois não há vassoura neste mundo que vença as miudezas enquanto a fábrica está ativa
30 dias de férias? Inexiste. Faltar porque está se sentindo mal e precisa ir ao médico? Um absurdo. Folgar para ir a um compromisso dos filhos/da família? Jamais. Faltou? Precisa ir à diretoria se justificar e pedir desculpas por atrapalhar o andamento da fábrica
'Ganbatte' é uma expressão japonesa quer dizer tipo 'dê o seu melhor', 'faça o seu máximo'. Mas nenhum dicionário do mundo seria capaz de traduzir o tom negativo de ‘você que lute’ quando se diz ganbatte em uma fábrica. É o que conto no @tabuol: tab.uol.com.br/edicao/diario-…
PS: esqueci de dizer que no Uol foram publicados trechos do diário (que é gigante), cirurgicamente editados por @olifraga em três capítulos: o 2 tab.uol.com.br/edicao/diario-…
Prestes a voltar ao Brasil, sensação de season finale, uma retrospectiva das reportagens favoritas que escrevi nessa temporada no Japão 1. O diário de dekassegui, um registro da dinâmica de trabalho de imigrantes em uma fábrica japonesa, no @tabuol tab.uol.com.br/edicao/diario-…
Inocêncio era um garoto negro de 8 anos. Escravizado, viveu no casarão de Anna, uma dama da alta sociedade de São Luís. Morreu ali, brutalmente torturado. Era 1876 e Anna já era famosa por castigos cruéis - certa vez, arrancou os dentes todos de uma jovem negra só por sorrir
Anna foi a julgamento pela morte de Inocêncio. O caso foi um escândalo na época e ficou marcado na memória maranhense como ‘o crime da Baronesa de Grajaú’. Mas os autos do processo, do séc. 19, se perderam com o tempo…
Até 1975. Saiu o romance ‘Os tambores de São Luís’, de Josué Montello, que retrata o caso. O autor, plot twist, conseguiu encontrar os documentos quase que por acaso: passava por Brasília e visitou a casa do senador José Sarney