Bruxas se tornaram parte do imaginário popular. Qual famosa obra de fantasia não possui a figura maléfica, com seu grande nariz, seu chapéu pontudo e seus rituais macabros?
E afinal, de onde isso surgiu?
Voltemos ao ano de 1486, com a publicação do livro “Malleus Maleficarum", de Heinrich Kramer. A obra inquisitorial dividida em três partes, instruindo sobre a relação do diabo com a bruxaria, assim como formas de identificar o mal e combatê-lo, foi o guia para a “caça às bruxas”.
O livro foi baseado em uma obra anterior, “Malleus Judaeorum”, pelo inquisidor John de Frankfurt, de 1420. A associação de judeus a bruxaria era algo comum, visto que práticas judaicas como o Shabbat e serviços em sinagogas eram considerados parte de uma adoração satânica.
Apesar dos altos índices de misoginia na Europa entre 1450-1790, ou a histeria em Salem nos anos de 1690, “bruxaria” era um termo usado para qualquer prática ou cultura que não condizia com os valores cristãos (ciganos, mulheres independentes, intelectuais), especialmente judeus.
A ideia de judeus como adoradores do diabo remonta desde o Novo Testamento, com “Sinagoga de Satánas”, utilizada contra judeus até os dias de hoje. A crença era de que as sinagogas eram o lugar para qualquer tipo de heresia, como rituais, sacrifícios ou orgias em nome do demônio.
No século 15, a palavra sinagoga foi trocada por “Sabbath” (o famoso Sabbath das bruxas), referente ao dia mais sagrado na semana para o povo judeu, do qual os cristãos acusavam de ser uma “zombaria” das missas católicas.
Quanto a isso, entramos na retórica do libelo de sangue, com a acusação de que judeus, em seus “rituais”, utilizavam sangue de crianças cristãs, como o caso de Simon de Trento, em 1475, um menino cujo a culpa do desaparecimento e morte caiu sobre a comunidade judaica local.
17 judeus foram pegos e torturados, sendo 15 deles, incluindo Samuel, o líder da comunidade, queimados vivos. Johannes Hinderbach, bispo de Trento, se apropriou dos bens dos judeus mortos. Um suíço considerado o maior suspeito, Zanesus, não-judeu, foi apenas interrogado e solto.
A imagem de judeus e seu envolvimento com sangue era tão forte que, na idade média, acreditavam que homens judeus também menstruavam, pois segundo os inquisidores, a menstruação era sinal determinante de bruxaria.
Quanto a aparência da bruxa, de onde surgiu?
Frequentemente, judeus eram associados a figuras demoníacas, tal como a crença de que possuíam chifres e traços animalescos. Outra associação era de que Saturno era o “deus dos judeus”.
Saturno é descrito como o degrau mais baixo da sociedade medieval, uma figura melancólica, maléfica, de sangue preto e pútrido, assim como eram considerados os judeus no período.
Em 1215, judeus deveriam usar um chapéu específico, o Judenhut. O ornamento, em formato de um cone com ponta, os identificava, tornando-os alvo do antissemitismo. Entretanto, ilustrações do século 12 mostram que o chapéu já era usado por judeus na Europa, como parte cultural.
Vale ressaltar que Judenhut foi solicitado em territórios de língua alemã, enquanto outras partes da Europa utilizavam outros recursos para segregar judeus. Ilustrações do começo do século 20 mostram diferentes chapéus utilizados por comunidades Ashkenazi ao longo do tempo.
Por conta dos atributos de heresia estarem ligados ao fato de ser judeu, todas as suas características ganharam tal significado, desde a sua vestimenta até a sua fé. Essa conexão era tamanha que, na Hungria, em 1432, os acusados de feitiçaria deveriam usar o “chapéu de judeu”.
Quanto ao famoso “nariz de bruxa”, utiliza características étnicas do povo judeu como forma de inferiorizarção, assim como diversos outros atributos físicos, criando uma ligação entre ser judeu a algo feio e desprezível.
Caricaturas desse tipo foram usadas para desumanizar judeus ao longo dos séculos, como já vimos nas propagandas nazistas.
Atributos judaicos ligados a bruxas perduraram pelos séculos, se tornando a imagem primária quando pensamos no assunto, e pela popularização de livros e filmes, como os da Disney, essa ligação permanece, utilizando não só a aparência estereotipada, mas também o libelo de sangue.
Agora vocês sabem de onde surgiu a imagem culturalmente popular que conhecemos das bruxas. Não estamos dizendo que não se deve mais utilizar o chapéu como fantasia, muito menos falando sobre crenças.
Mas fica como curiosidade a verdadeira (e triste) origem.
Espero que tenham gostado! E não esqueçam de compartilhar.
Até a próxima! 🎃
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