Portugal deixou de usar carvão para a produção de eletricidade, uma tecnologia que teve um terço da quota de produção nacional de eletricidade. Como se chegou até aqui e o que significa este desenvolvimento para a redução das emissões nacionais? THREAD 🧵 1/20
1. Quanto CO2 se reduz mesmo? O carvão chegou a representar 17,5% do total das emissões nacionais (2017). Ou seja, o equivalente às emissões de 75% dos carros a circular em Portugal. 2/20
2. Qual a relevância do carvão para o sistema elétrico nacional? Esta tecnologia chegou a representar um terço da produção de eletricidade do país (período 2006-2020). Em 2020 foi meramente de 4%. 3/20
3. Quais são as causas para o fim do carvão? Um dos fatores mais relevantes para o encerramento das centrais a carvão foi o investimento nas renováveis, que foram ao longo dos anos ocupando o lugar das centrais térmicas no sistema elétrico. 4/20
Para além do aumento da quota de produção de renováveis, o carvão deixou de ser competitivo com o gás. Isto em resultado do aumento de custo do CO2 e do fim dos subsídios públicos ao carvão em sede de ISP. 5/20
Com a perda de competitividade, as centrais de carvão passaram a operar muito menos. O Pego apenas se manteve em operação nos últimos anos devido à existência de um Contrato de Aquisição de Energia que só em 2020 custou 100 milhões de Euros aos portugueses 6/20
Portugal pode prescindir desta tecnologia cara e poluente porque fez o devido investimento em renováveis. Sem as renováveis o país manteria uma tecnologia cara no sistema elétrico, em prejuízo dos preços de eletricidade para famílias e empresas. 7/20
4. Portugal é o único a encerrar centrais a carvão? Não. 2 terços dos países da OCDE e EU estão comprometidos com o fim do carvão, mas a maior parte está apenas em condições de o fazer no final desta década, mantendo a dependência de uma tecnologia cara. 8/20
Até 2025 o investimento em nova capacidade renovável será mais barato em todos os países da EU face à operação de uma central a carvão já amortizada. Nestas circunstâncias, manter uma central a carvão em funcionamento é contrário aos interesses dos consumidores. Fonte: RMI 9/20
E a Alemanha? A produção de eletricidade a partir de carvão reduziu em 50% nos últimos 5 anos. A nova coligação de governo aponta o fim destas centrais para 2030, o q é significativo para o país europeu com maior capacidade de centrais a carvão. 10/20 (fonte: @AlexReitzenst)
5. E pq encerrar centrais a carvão qnd temos elevados preços de gás? A verdade é que tb o carvão e o preço de CO2 (que afeta mais o carvão que o gás) têm aumentado de preço nos mercados internacionais. O carvão n representa uma alternativa ao gás, mas sim as renováveis. 11/20
6. E o que ganham os portugueses com o fim da produção de eletricidade a partir do carvão?

a) Menor fatura energética com o exterior: em 2017 o país importou 444 milhões de € (fonte:DGEG). Este é o valor que os portugueses deixam de pagar ao exterior em carvão. 12/20
b) Redução da fatura de eletricidade. Como se vê no gráfico seguinte, à medida que a produção de carvão se reduziu, tb foram reduzindo os preços para o consumidor. 13/20
7. E os impactos sociais? A gestão destes impactos é essencial para o sucesso da transição energética. É uma boa notícia que o pagamento de salários seja mantido, e que a readmissão e formação de trabalhadores seja um fator no leilão do ponto de acesso à rede. 14/20
8. As centrais a carvão encerraram, marcando o fim de um ciclo de 35 anos de produção de eletricidade a partir do carvão. E agora?
A solução para o Pego deverá contribuir para a construção de um sistema elétrico descarbonizado e criação de empregos de longo prazo. 15/20
E a biomassa? A conversão da central do Pego para biomassa aumentaria severamente os custos para os consumidores. A conversão dos 600 MW implicaria um custo anual para os consumidores de 200 milhões de € (estimativa baseada nos dados da ERSE para a subsidiação da biomassa).16/20
E o que obteria o sistema elétrico de diferenciador com uma fatura anual destas? Nada de diferenciador. O último leilão solar demonstrou que esta mesma energia pode ser produzida sem subsidiação. 17/20
E a utilização da central como reserva estratégica? O último leilão solar também demonstrou que a solução de armazenamento é muito competitiva em Portugal. O país conseguiu 100 MW de armazenamento sem se comprometer com subsídios públicos. 18/20
De resto, qual seria o sentido de ocupar um recurso escasso (ponto de acesso à rede) com uma tecnologia de curto prazo e não diferenciadora, quando se pode incentivar o desenvolvimento de soluções de ponta com base em conhecimento qualificado? 19/20
Neste novo ciclo, a solução para o Pego deverá contribuir para a completa descarbonização do sistema elétrico, apostando em geração renovável, e mais flexibilidade na rede a partir de soluções de base inovadora e adequadas às necessidades e possibilidades dos cidadãos. 20/20

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