Thread by @StefanoSalles

Eleições no RJ, siga o 🧶. Muitas incertezas sobre o pleito de outubro. Para fazer projeções, é bom conhecer a tradição das eleições de um estado onde capital e interior pensam bem diferente. Natural: o estado é produto de uma fusão ilegal feita em 1975, na ditadura. 1/14

Comecemos por 2018. @wilsonwitzel (PSC), lembram dele? Perdeu para @eduardopaes (DEM) na capital por 51,69% a 48,31%. Diferença de 106 mil votos pulverizada em outros municípios. A ponto de o ex-juiz vencer com uma diferença de 1,5 milhão de votos. (2/14)

Naquela eleição, Paes venceu ainda em Niterói e em Rio das Flores, mas Witzel levou em 88 dos 92 municípios. Fazendo mais de 65% nos mais populosos: São Gonçalo, Duque de Caxias, Nova Iguaçu e São João de Meriti. (3/14)

Ainda em 2018, @cesarmaia (DEM) foi 2º candidato ao senado mais votado na capital, com pouco mais de 1 milhão de votos, contra 762 mil de Arolde de Oliveira (PSD). RM e interior tiraram a diferença e Arolde foi eleito por modestos 54 mil votos de diferença. (4/14)

Como se sabe, Arolde de Oliveira morreria dois anos depois e o cargo seria assumido pelo suplente @carlosfportinho. O cenário foi influenciado pelo fenômeno Bolsonaro, mas o interessante é que nem a força dele afetou a habitual diferença de comportamento. (5/14)

Quatro anos antes, em 2014. Luiz Fernando Pezão (PMDB) foi reeleito em 2º turno com 55,78%, contra 44,22% de Marcelo Crivella. Levou na capital e mais 73 cidades. Crivella venceu no 2º e no 3º município mais populosos do estado: São Gonçalo e Duque de Caxias. (6/14)

Em 2006, Francisco Dornelles (PP) levou a vaga do Senado, com 45,86%. Jandira Feghali (PCdoB) teve 37,51%. Na capital, a médica venceu por 82 mil votos. No fim, vantagem geral de 612 mil votos para o sobrinho de Tancredo Neves e primo de Getúlio Vargas. (7/14)

Em 2002, Garotinho (PSB) renunciou ao governo para concorrer à presidência e Benedita (PT) assumiu, mas perdeu a eleição para a ex-primeira dama Rosinha Garotinho (PSB) no 1º turno: 51,30% a 24,43%. A disputa porém foi mais renhida na capital: 38,7% a 30,4%. (8/14)

Como se sabe, Rosinha é de Itaperuna, com reduto em Campos. Mas, naquele ano, um candidato competitivo de outra praça chamou atenção: Jorge Roberto da Silveira (PDT), ex-prefeito de Niterói, foi o terceiro, com 14,2%, em uma eleição que fragmentou a esquerda. (9/14)

Garotinho foi eleito governador em 1998, numa eleição percebida como enfrentamento entre direita e esquerda, com César Maia (PFL). Mas era também uma disputa entre capital e interior. O ex-prefeito da capital e o de Campos dos Goytacazes. (10/14)

Garotinho venceu por 57,98% a 42,02%. Na capital, porém, Maia levou a melhor por 53,1% a 46,9%. Já em Campos dos Goytacazes, muito menor, Garotinho fez inacreditáveis 88,06% a 11,93%. (11/12)

A eleição para o Senado, em 98, fenômeno semelhante. Saturnino Braga foi eleito para a única cadeira, superando Roberto Amaral por 38% a 33%. Contudo, Amaral saiu vencedor na capital, por 175 mil votos. No fim, Saturnino venceu com vantagem de 310 mil. (12/13)

Aqui cabe destacar que, embora seja um político da capital, Saturnino ainda vinha muito desgastado por sua gestão na Prefeitura do Rio. Em 1988, chegou a decretar a falência do município, que afetara fortemente sua imagem pública. (13/14)

Procurei contemplar aqui o período mais recente. Falarei de outras fases em outro momento. Atualmente, a cidade do Rio de Janeiro abriga cerca de 40% da população do estado. (14/14)

Pós-escrito 1: para quem se interessou sobre a fusão, o estado atual é fruto de uma decisão do presidente Ernesto Geisel. Ditadura. Obviamente, as populações da Guanabara e do antigo estado do RJ, com capital em Niterói, não foram consultadas.

Pós-escrito 2: O cientista político @CECLynch tem um excelente livro que aborda a fusão: "Rio, 2º Distrito Federal".