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Feb 15 25 tweets 11 min read
Domingo (13), testemunhamos um dos momentos mais marcantes da história do #SuperBowl e do hip-hop. Porém, apesar de uma performance lendária entregue por um dos elencos mais pesados que já subiram nesse palco, o 1° show de rap do Super Bowl foi cercado de críticas e polêmicas. 🧶
1°: o rap nunca foi plenamente aceito no evento.

Apesar de rappers já terem aparecido, o show nunca teve o gênero como atração principal. Isso se deve ao fato do SB ser a maior audiência de TV dos EUA, sendo especialmente popular na 'América Branca', religiosa e conservadora.
Para evitar polêmicas com seu maior produto, a NFL costuma convidar atrações 'seguras' de gêneros abrangentes, como forma de agradar sua imensa e diversificada audiência.
Por sempre flutuar entre o pop e o rock, era esperado que um SB dedicado ao hip-hop causaria 'problemas'.
Porém, a NFL passou os últimos anos lidando com acusações públicas de racismo e censura. Com o caso Kaepernick, o boicote de artistas negros ao SB e até a demissão do técnico Brian Flores, que denunciou o racismo que sofria em seu time, a liga precisava de uma 'repaginada'.
Logo, com o retorno do SB à Los Angeles em 2022, foi a oportunidade perfeita para a liga convidar algumas das maiores lendas da música californiana, 'limpar' sua barra e, de quebra, surfar no hype do gênero que, nos últimos anos, se tornou o mais consumido no país e no mundo.
Um 'risco' calculado, especialmente em um contexto onde as relações políticas e sociais estão tão sensíveis no país. Assim, a NFL, tentativa de evitar que o show se tornasse um momento 'culturalmente divisivo', estabeleceu algumas 'regras' para evitar polêmicas durante o show.
Porém, qualquer um que conheça as carreiras de Dr. Dre, Snoop Dogg, Eminem, Mary J., 50 Cent e Kendrick, sabe que suas letras contém palavrões, protestos, denúncia, alusão ao uso de drogas, sexo e ao crime, temas extremamente rejeitados por boa parte da sociedade norte-americana.
Um exemplo disso foi um grupo de policiais que, antes mesmo do show, publicou um manifesto contra a participação de Snoop, devido a suas letras anti-polícia e de 'apologia' ao crime.

'Encorajar pessoas a atirar em policiais aparentemente te concede um lugar como atração do SB'.
A controvérsia com Snoop se estendeu até sua performance. Contrariando o 'pedido' da NFL, o OG subiu ao palco vestindo um conjunto que fazia referência à bandana azul dos Crips, dançou o C-Walk e fez o sinal de mão referente a sua ex-gangue ao longo de sua performance.
Além disso, imagens dele fumando um baseado segundos antes de subir ao palco foram vazadas, e também repercutiram negativamente.

Apesar da maconha ser legalizada na Califórnia, a liga pediu para que Snoop não fumasse no palco para evitar o 'choque cultural’ com alguns públicos.
Naturalmente, as letras das canções foram um problema. O show talvez tenha sido o mais censurado da história do SB, uma vez que foi perceptível como os artistas alteravam trechos de versos que continham palavrões ou menções explícitas a qualquer coisa considerada controversa.
Dr. Dre, o protagonista da noite, relatou ter tido problemas com representantes da liga antes do show, que demonstraram incômodo com o conteúdo das músicas, em especial as que fazem alusão ao crime e a violência contra policiais.

'Fui censurado de forma repugnante', disse Dre.
Para quem viu, ficou claro que a apresentação sofreu algumas intervenções da produção, como cortes rápidos no microfone, que ficaram aparentes durante a performance do clássico de 99 “Still DRE”.

Apesar disso, Dre fez questão de dar ênfase ao verso 'sigo sem amor pela polícia'.
Outro caso de censura foi o de Kendrick Lamar, que fez a performance mais ‘política’ da noite.

Ao abrir com sua 'm.A.A.d city', o verso em que cita diretamente as gangues rivais de LA, Pirus e Crips, foi abafado por distorções sonoras feitas na hora.
K-dot também optou por performar sua clássica ‘Alright’, que se tornou um hino nos atos do Black Lives Matter e já foi alvo de ataques da imprensa.

Seu infame verso ‘nós odiamos a po-po’, em referência a polícia, foi cortado por ele na hora e substituído por sons da percussão.
Como se não bastasse, o troféu de momento mais polêmico da noite pertence ao Eminem. Antes do show, a NFL havia deixado claro que não iria tolerar que nenhum dos artistas se ajoelhasse durante o show.

E foi exatamente o que ele fez.
O ato de ajoelhar tornou-se uma dor de cabeça para NFL graças à Colin Kaepernick, que o fez durante o hino nacional para protestar contra a violência policial no país.

Colin foi expulso da NFL, mas o ato foi tão forte que virou um símbolo mundial da luta antirracista no esporte.
Supostamente, o Slim Shady contrariou a liga e se ajoelhou com a mão na cabeça após cantar sua consagrada ‘Lose Yourself’.

E assim permaneceu durante longos minutos ao lado de Dr. Dre, enquanto as câmeras estavam focadas nele.
A NFL depois desmentiu que havia proibido os artistas de se ajoelharem. Porém, com as 'polêmicas' em horário nobre, a reação dos conservadores foi imediata, e sobraram posts nas redes com ataques racistas e moralistas

'Triste que a NFL se degradou para essas merdas de preto'
O ativista republicano Charlie Kirk, por exemplo, se tornou meme após dizer que esse show de intervalo do Super Bowl deveria ser proibido de passar na televisão, por promover uma 'anarquia sexual'.
Já o comentarista Nick Adams, da Fox News, canal conservador da TV norte-americana, foi mais explícito. Ele disparou uma sequência de tweets após o show criticando a escolha das atrações e direcionando uma série de insultos racistas e elitistas aos artistas.
‘É nojento que uma música com uma letra anti-polícia seja transmitida no SB’

‘Dre é um bandido, ele já agrediu um policial, não tem por que ser celebrado no SB’

‘Esse é um show de intervalo cheio de criminosos, vergonhoso’

Esses foram apenas alguns de seus tweets.
O hip-hop sempre cumpriu um papel fundamental na luta social e na desobediência civil, e dessa forma, sendo a estreia do gênero no Super Bowl, as reações dos que são ‘do lado de lá’ provam que esse caminho ainda é o certo.

E vocês, o que acharam do show? Contem pra gente!
Além disso, para quem tiver interesse, o podcast do @caradossports tem um excelente episódio sobre o caso Kaepernick e sua trajetória na NFL:

open.spotify.com/episode/7A0KRE…

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Feb 13
A grande final do Super Bowl vem aí e com ela um dos shows mais aguardados desse ano. O Halftime Show, contará com a presença de Snoop Dogg, Dr. Dre, Kendrick Lamar, Mary J Blige e Eminem.

Preparamos uma thread para contar um pouco da história entre o rap e o evento. Segue o🧶. Image
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