Tradicionalmente chamados de "paleoíndios" ou "paleoameríndios", optaremos pelo termo "paleoamericanos", uma vez que a palavra "índio" foi definida por colonizadores, que acreditavam ter chegado às Índias, sendo, portanto, uma denominação simplista e, muitas vezes, pejorativa
O luto é uma prática quase tão antiga quanto a humanidade. Diversas espécies humanas tentavam homenagear ou proteger corpos de entes queridos, com práticas que incluíam atirá-los em abismos/ no oceano, pendurá-los em árvores, cremá-los ou, até mesmo, a antropofagia ritualística
Os primeiros registros arqueológicos de luto têm mais de 300 mil anos, associados a outras espécies humanas, como o Homo neanderthalensis ou o Homo naledi (embora esse último seja disputado)
Arte por Jon Foster
O primeiro enterro indisputavelmente feito por um Homo sapiens data de 100 mil anos atrás, em uma caverna em que esqueletos humanos foram encontrados cercados por pinturas ritualísticas, em Israel, demonstrando práticas de luto nessa época.
Imagem de Qafzeh archives
Nossa espécie colonizou a América há cerca de 23 mil anos (Bennett et al., 2021) e sempre teve o luto como uma prática forte nos registros arqueológicos. O primeiro enterro incontestável no nosso continente foi o do chamado Anzick-1, um bebê datado de 12.600 anos do povo Clovis
Desde que chegou à América do Sul, há mais de 15 mil anos, nossa espécie protege seus mortos das mais diversas formas possíveis, algo especialmente notável na região de Lagoa Santa. Sepultamentos há 10 mil anos eram geralmente feitos enterrando os mortos sentados
Em alguns sítios arqueológicos datados de 9.500 anos, os corpos foram encontrados desmembrados e depositados em posições específicas, mesmo ainda articulados
Há 9 mil anos, os paleoamericanos do Espinhaço Sul ocasionalmente realizavam uma decapitação ritualística de seus mortos, depositando as mãos na frente do crânio
Há cerca de 8 mil anos, esses paleoamericanos eram enterrados em buracos extremamente rasos, onde apenas ossos desarticulados poderiam ser depositados
Cada vez mais, enterros se tornariam um símbolo para aqueles que viviam aqui, utilizando práticas mortuárias como uma forma de se conectar com a terra e manter viva a herança cultural de seus antepassados, a qual pode ser resgatada atualmente por meio da arqueologia
As práticas mortuárias americanas incluíam enterrar corpos dentro de urnas, a mumificação, a criação de tumbas complexas, o encolhimento de cabeças e muitas outras, que frequentemente ainda existiam durante a invasão europeia ao longo do século XVI
A chegada dos europeus foi marcada pela perseguição ou fetichização de práticas mortuárias tradicionais. Enquanto algumas passaram a ser proibidas, outras eram exploradas economicamente e vendidas como curiosidades para a Europa.
Isso tudo não era por acaso. O apagamento cultural dos povos nativos americanos, sobretudo de práticas mortuárias e religiosas, servia como uma arma de dominação. Estimativas apontam que, entre 1491 e 1691, a população indígena diminuiu até 95%
Além da desumanização dessas populações por parte dos invasores, a destruição de sua identidade e, literalmente, dos seus corpos (que não eram preservados por nenhuma prática mortuária) serviria para impedir o sentimento de luto, já que ninguém sofreria por quem não é lembrado
Além do uso de doenças, a fome teve um papel crucial nesse genocídio. Nos EUA, os 60 milhões de bisões que viviam na região em 1500 (que eram indispensáveis para os povos nativos) foram reduzidos a apenas 541 animais por volta de 1889
O sentimento de luto foi perseguido para que pudéssemos esquecer o maior genocídio da história proporcional à população da época. O luto é intrínseco à nossa espécie há pelo menos 100 mil anos e volta a nós, ano após ano, quando nossa história ou nosso povo são apagados
Pelo menos 1.800 povos já foram extintos no Brasil, com centenas ou milhares de outros tendo desaparecido sem nenhum registro.
Luto pelos Abaetés, Acauas, Bacuéns, Caetés, Camamus, Coropós, Goitacás, Gueguês, Jeikós, Mbayas, Otis, Oyanpiks, Payaguás, Purís, Tapajós
Luto pelo Massacre do Paralelo 11, luto pelos milhares de indígenas mortos durante a ditadura militar, luto pelo povo Yanomami, luto pelos Uru-Eu-Wau-Wau. Luto por cada pedaço de terra perdido para o garimpo e para o fogo, luto pelas línguas perdidas no Incêndio do Museu Nacional
Luto pelos 1301 indígenas mortos por COVID e pelos que morreram ao longo desse governo
Foto por Ricardo Oliveira
Esse Dia dos Povos Indígenas foi marcado por luto, mas, por aqui, luto é verbo. E todos seguiremos lutando.
Essa é uma singela homenagem da equipe do PaleoEspinhaço para aqueles que são donos dessa terra há mais de 15 mil anos.
Esperamos que tenham gostado!
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Importante ressaltar que nem todos os povos mencionados estão extintos, mas quisemos colocar povos tradicionalmente perseguidos e que sofreram com um genocídio proposital. Muitos deles ainda existem e resistem hoje, pedimos desculpa pelo erro em passar nossa mensagem
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Todo mundo está acostumado com preguiças no topo das árvores ou já ouviu falar das preguiças gigantes extintas.
Mas você sabia que já existiram preguiças aquáticas, inclusive nos rios do Brasil?
Siga esse fio para conhecer as preguiças que viviam em rios, lagos e até no mar!
Começando pela mais antiga (e menos conhecida), Eionaletherium tanycnemius foi uma preguiça da família Mylodontidae que viveu entre 15 e 5 milhões de anos atrás, descrita por @ascaniodr em 2015 na Venezuela, na chamada formação #Urumaco.
Era um animal que vivia associado à água, mas que não era capaz de nadar rapidamente ou de mergulhar, o que sabemos por sua fraca musculatura nos membros e pela ausência de ossos densos, que facilitariam seus mergulhos.
Você sabia que peixes podem viver no lençol freático?
Como? Ninguém sabe!
Venha conhecer o Stygichthys typhlops, o peixe que vive em baixo da terra e o primeiro organismo vivo apresentado no PaleoEspinhaço!
Foto de @DanteFenolio
Em 1960, a escavação de um poço na cidade de Jaíba- MG trouxe à superfície um peixe pequeno, branco e sem olhos. O animal foi coletado e nomeado Stygichthys typhlops em 1965, no trabalho de Brittan & Bohlke.
Fotos de @DanteFenolio (Astyanax mexicanus no topo)
Após mais de 40 anos sem nenhum outro exemplar ser encontrado, uma expedição em 2004 conseguiu encontrar 34 exemplares em poços artificiais e redescritos. Os resultados foram publicados no trabalho de Moreira et al. (2010).
Você sabia que já existiram elefantes no Brasil?
Esses animais enigmáticos foram uma das maiores espécies de mamíferos que já viveram nas Américas, desaparecendo há apenas 8 mil anos!
Descubra quem foram esses animais que moldaram alguns dos biomas brasileiros! @JuliotheArtist
Elefante é o nome tradicionalmente utilizado para designar animais da família Elephantidae, que inclui os elefantes atuais.
Entretanto, outros proboscídeos extremamente similares aos elefantes modernos viviam no passado, dentre eles, o "elefante brasileiro" e o famoso mastodonte
Originários da África, os Proboscídeos se espalharam rapidamente pelo mundo. Uma estranha família chamada também surgiu na África milhões de anos depois e colonizou a Eurásia há 19 m.a. e, posteriormente, a América do Norte a 16 m.a., onde se diversificou em inúmeras espécies.