[🚨]
Sobre exigir mensalidades nas instituições públicas de ensino superior (#PEC206nao).

Um fio sobre alguns pontos: a) as premissas que justificam a proposta; b) a real situação das IES públicas hoje; c) a operacionalização de tal medida e d) questões principiológicas. 🧵👇
Sobre as premissas: o gasto em educação superior pública é regressivo no Brasil (🚨ERRADO). No passado isso fazia sentido, hoje não mais, esse trabalho do @ipeaonline mostra isso (dx.doi.org/10.38116/td2631). 2/n
Ainda sobre a premissa da regressividade, é possível consultar essa nota do @made_usp para verificar o como ela não representa mais a realidade no caso brasileiro. @fernandogaiger @lauraabcarvalho @mats_rc @theo_ribas
madeusp.com.br/publicacoes/ar… 3/n
A proposta tem como como premissa/referência um estudo do Banco Mundial que propõe a adoção de mensalidades. Este estudo tem problemas conceituais e estatísticos graves. Aqui há um forte questionamento aos seus pressupostos. Leia! 4/n files.cercomp.ufg.br/weby/up/1/o/AN…
Sobre o 2° ponto, qual é a situação hoje das IES públicas? Já há literatura consolidada comprovando que vivemos nos últimos anos um intenso processo de democratização das instituições públicas. Fio do @asenkevics e suas pesquisas merecem consulta. 5/n
Dados da PNAD mostram o perfil dos estudantes por quintil de renda nas IES públicas e privadas. Hoje as públicas são mais democratizadas. Mas como você já está no quintil mais rico se ganha mais de R$ 3 mil, é necessário esmiuçar esse quintil para conhecer melhor a realidade. 6/n
Tomando como base as universidades federais, conforme a última pesquisa da @Andifes, 86% dos estudantes têm renda familiar per capita até 3 salários-mínimos (SM), 92% até 5 SM e não chega a 4,5% dos estudantes com renda acima de 5 SM. 7/n
Fonte: andifes.org.br/wp-content/upl…
Iremos cobrar mensalidade do público que pode receber o FIES (até 3 SM per capita), por ex, ou do P-Fies 2019/2020 (5 SM familiar per capita)? O estado daria subsídio de um lado, para IES privadas, e cobraria mensalidades nas IES públicas (excelência)? Qual a lógica disso? 8/n
Esse artigo da @tatiroque e Hedibert Lopes trata desses pontos, questiona a razoabilidade da medida diante de extratos de renda intermediária tão próximos e apontam políticas exitosas que já existem e que devem ser nosso horizonte. Leia! 9/n +
valor.globo.com/opiniao/coluna…
Adentramos no 3° ponto agora, como seria a implementação de tal medida? Como irá se definir o corte p/ cobrança de mensalidade? E a oscilação da renda? Quem fará avaliação de renda de todos os alunos, quanto custará? Quantos servidores novos serão concursados para esse fim? 10/n
As cotas por renda trouxeram desafios que envolvem a verificação de documentos apenas dos candidatos cotistas (imagine todos), mutirões e revisões são necessários. Além disso, a comprovação de renda é mais suscetível a fraudes e a variações em função da dinâmica econômica. 11/n
É razoável aventar que a eventual arrecadação de mensalidade de porcentagem insignificante de alunos das IES públicas de ensino superior não cobriria sequer os custos de logística e contratação de pessoal necessários para implementar a medida. 12/n
Sobre o último ponto, relativo a questões principiológicas, cabe dizer que a PEC pretende mudar justamente o artigo (206) da Constituição Federal que lista os princípios com base nos quais o ensino será ministrado, a gratuidade é um deles e isso não é por acaso. 13/n
A gratuidade é um princípio para garantir que o poder público não se omita de sua função fundamental de ofertar ensino, pesquisa e extensão e de custear suas instituições, conforme prevê, para o caso da União, o artigo 55 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB). 14/n
Exigir a cobrança de mensalidade abre precedente para que o poder público se isente de custear as universidades (como já vem fazendo nos últimos anos de crise econômica) em nome de um “vire-se” com suas mensalidades. Cria-se um álibi para não expandir e investir nas IFES. 15/n
A autonomia universitária e a liberdade de pesquisar dependem de segurança e solidez de financiamento e essa medida poderia gerar maior instabilidade, fuga de estudantes, cerceamento de estudos para alguns casos e inclusive mais custos para a máquina pública. 16/n
Neste artigo, @Ricardolodi aborda alguns aspectos principiológicos muito importantes, a gratuidade é parte da dimensão democrática da universidade, do seu caráter universal. Vale a leitura! 17/n justificando.com/2017/08/08/cob…
Há muito a se avançar em relação a democratização do acesso e permanência nas IES públicas, algo como 20% dos adultos com mais de 25 anos têm diploma do Brasil, o ensino superior é fronteira insuperável para os muito pobres, que não concluem nem mesmo o médio, infelizmente. 18/n
Expansão, interiorização e ações afirmativas vem dando certo, mas, por vários motivos, estagnaram nos últimos anos. Ainda em 2019, fiz esse fio sobre medidas que as IFES devem aperfeiçoar, mas cobrar mensalidades não é medida razoável. 19/n #PEC206nao
As IES públicas concentram 95% da produção de conhecimento científico no Brasil. O aplicado em ensino superior (1% do PIB) está longe de ser elevado e o financiamento da C&T está abaixo da média mundial. Precisamos investir em educação e ciência e ofertá-las gratuitamente. 20/20.

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May 24
A CCJ da @camaradeputados tem na pauta de amanhã a apreciação de uma PEC (camara.leg.br/proposicoesWeb…) que exige que as universidades públicas passem a cobrar mensalidades no Brasil. Com base em um diagnóstico cheio de erros e limitações do BM, bolsonaristas e MBL tentam impor mais..
um retrocesso p/ o direito à educação. Diferente do passado, as universidades públicas são hoje mais democratizadas q as particulares e o investimento em ensino superior também é progressivo hj, pois além de ser o responsável pela ciência no país, tb vem reduzindo desigualdades.
"Como resultado, uma proporção maior do investimento do governo em educação superior pública passou a alcançar os estratos mais pobres da sociedade e, além disso, esse nível de educação vem deixando de contribuir para a concentração da renda". + dx.doi.org/10.38116/td2631
Read 10 tweets
May 1
Sobre o #DiaDoTrabalhador, quatro dados.
Temos agora, além da inflação recorde, a menor renda media por trabalhador da década. 1/4

Fonte: correiobraziliense.com.br/economia/2022/…
Temos uma taxa de desemprego de longa duração elevadíssima, confere o gráfico. 2/4
Fonte: ibre.fgv.br/blog-da-conjun…
Temos uma informalidade crônica que voltou a crescer. 3/4 #DiaDoTrabalhador

poder360.com.br/economia/infor…
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Apr 29
A Taxa de Desistência Acumulada (2019) do curso da coorte de ingressantes na graduação em 2010, é de 62% na rede privada e de 50% na rede pública. Porém, quando esse aluno da rede privada possui FIES, a taxa cai para 38% e quando é bolsista do PROUNI, a taxa é de 40%. 👇🧵+ Image
Quando falamos em taxa de conclusão de curso, a rede pública registra 48% e a rede privada 37%. Já os estudantes do FIES tem taxa de conclusão de 61% e os do PROUNI de 59%, ambos bem acima da média geral da rede pública (redes estaduais tem melhor indicador que a federal) mas..+ Image
Nas IES Federais e Estaduais, cabe observar que evasão do curso não significa evasão da educação superior, há muitas transferências entre cursos. Mas o registro é de apesar da maior evasão na rede privada, estudantes do FIES e do PROUNI registram menos evasão e mais conclusão.
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Apr 28
No #DiadaEducacao é importante dizer que a educação escolar sozinha não é suficiente p/ reduzir desigualdades e ampliar a justiça social. O Ceará, experiência tão exitosa nas últimas décadas, tem hoje mais beneficiários do Auxílio Brasil do que vínculos formais de trabalho. +
Pesquisa do @marcelo_meds, @antrologos e @FlavioCarvalha2, mostrou que mesmo se desde 1994 o Brasil tivesse conseguido um sistema educacional em que os todos alunos saíssem da escola com ensino médio completo, a desigualdade teria caído apenas 2%. repositorio.ipea.gov.br/bitstream/1105… +
Dizem: “apenas se conferíssemos formação superior a toda a força de trabalho, por meio de uma reforma fictícia ocorrida em 1956, é que obteríamos um nível de desigualdade 10% menor que o observado em 2010”. Escolaridade não é sinônimo de qualidade, mas precisam andar juntas. +
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Apr 11
Sabe-se que um governo prioriza a educação quando ele amplia o orçamento autorizado para área e o executa de forma competente. Além, óbvio, de ter equipes preparadas e proteger a área da corrupção. Veja no🧵o desempenho do governo Bolsonaro em relação a esses critérios. Vem 👇⬇️
O gráfico abaixo mostra os valores autorizados para a Função Educação durante o governo Bolsonaro. A educação perde recursos, são R$ 18 bilhões a menos em 2022 do que o autorizado para 2019. Vamos ver o orçamento executado no próximo tuite? 2/n 👇
A execução do orçamento da função Educação no governo Bolsonaro também só caiu, como mostram as colunas em verde escuro do gráfico abaixo. Mesmo diante dos desafios da pandemia, das demandas estruturais, de inclusão digital e de assistência estudantil, a execução caiu. 3/n +
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Apr 9
A Pedagogia é o curso superior com mais estudantes no Brasil. Quando pensamos nos 10 cursos com mais alunos, a cada 100 que ingressam, estão matriculados ou se formam, 10 são em Pedagogia. EAD já é a regra, precisamos pensar em políticas para garantir a qualidade da formação.🧵⬇️
Aprimorar a regulação, a supervisão e a avaliação dos cursos ofertados EAD é urgente, estamos falando de um volume impressionante de matrículas e de pouca pesquisa e análise sobre essa formação. O MEC precisa organizar um movimento nesse sentido. 👇
Precisamos de políticas de indução para atrair estudantes talentosos para a docência. A LDB, art 62, § 5º, trata do incentivo a formação de profissionais do magistério mediante bolsa a estudantes matriculados em cursos de licenciatura, devemos ir além do PIBID e Residência. 👇
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