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Jul 27 39 tweets 10 min read
Para comemorar que a @ucconx entrou no top5 do TT nacional, resolvi fazer o exposed definitivo. Trabalhei no evento por 6 meses, entre julho de 21 e janeiro de 22, e vou contar tudo que vi, ouvi, e descobri sobre o evento de 19 para cá. Omitindo nomes, claro. Segue o 🧵
Capítulo 1: O sonho

Em 21, um amigo me fez uma proposta irrecusável. Participar do marketing de um evento gigantesco e milionário que ocorreria no Brasil em 22. O evento já teria parceiros incríveis e até confirmado atrações como @chrishemsworth! O salário também era bom...
E para um jovem geek, aquilo era bom demais p ser verdade (como alertou meu irmão na época), mas resolvi pagar para ver. Em São Paulo conheci o escritório da UCCONX, lindíssimo na pomposa Vila Olimpia. Escritório grande, mas vazio. Na ocasião a equipe não tinha mais de 10 pessoas
Começamos a ver o projeto ambicioso, que seria executado pela empresa que montou a abertura das Olímpiadas do Rio de Janeiro (sem brincadeira). Seis universos temáticos, mais de 140 mil m2 de área. Estruturas incríveis numa experiência que seria "inexplicável". Segue o vídeo
Começamos a desenvolver um trampo muito massa, com direito a desenvolvimento de websérie animada. Um trabalho de ilustração sinistro do meu amigo @Derick_Red e de muitos outros colegas. Devo admitir que nos primeiros meses era mto massa trabalhar lá, mto graças a nossa galera ImageImageImageImage
A gente realmente deixava a imaginação correr, e prometia mundos e fundos ao público, por que era isso que nos era prometido. Naquele momento, a @ucconx tinha 2 sócios originais e mais dois que sofriam um certo "bullying" dos coleguinhas. Mas ngm se ligava mto nisso. ImageImageImageImage
Depois de uns dois meses e meio a equipe cresceu bastante. Passamos a ser mais de 20 pessoas, entre equipe de mkt, TI, consultores e equipe de gestão do próprio escritório. E aí tudo começou a dar errado. No fim de outubro anunciaremos a pré venda ....
apesar de constantemente avisarmos: o site não estava apto, o sistema não estava pronto, não tinhamos atrações confirmadas, nada. Não era a hora de anunciar pré-venda, ninguém entendeu a insistência da chefia naquilo. Como esperado, em menos de uma hora o site saiu do ar...
Anunciamos que a pré-venda tinha esgotado (mentira), a queda foi um problema do próprio sistema. Na esteira do fracasso, um dos sócios (que sofria bullying) foi colocado para fora como grande vilão. Daí pra frente, foi, como dizem, só para trás.
Capítulo 2: O fumo

Novembro começa com uma surpresa - salários atrasados. Algo até então inédito. Os dias passaram, e as desculpas acumulavam, a solução sempre num horizonte próximo: tudo resolvido até sexta, até segunda, até amanhã. Estamos fechando um parceiro mágico...
Está entrando um novo sócio (na ocasião uma suposta fintech), tinha um dinheiro grande preso numa conta no banco safra, etc. Resumo, novembro acabou, e nada de dinheiro na conta. Mas seguimos trabalhando, por amor, por esperança, por idiotice mesmo. Mas ai criei um hobby
Ia trabalhar motivado para descobrir mais e mais podres sobre o evento. E aqui é que tudo adota uma trama impressionante, que vale a pena uma viagem ao passado, até a origem do evento, em 2019. Tudo começou quando dois amigos resolveram entrar no segmento geek, apesar de não...
saberem absolutamente NADA sobre o universo geek. Aos trancos e barrancos foram atraindo pessoas para o projeto, inclusive o outro sócio (o que sofria bullying n2). Esse sócio ficou responsável pela parte comercial e trouxe para o evento um investidor
um conhecido de longa data que investiu OITO MILHÕES de reais. Com dinheiro no bolso, começaram a gastar adoidado. Estranhamente, nas semanas seguintes os três sócios chegaram na empresa com três porsches novos (tinha uma loja da porsche na frente do escritório)
Nesse período uma primeira equipe foi contratada, uma empresa terceirizada. Em poucos meses o dinheiro acabou, o que gerou repercussões graves. O investidor, chocado como foi possível queimar 8 MI em meses, sem prestação de contas, processou os sócios CRIMINALMENTE. A ação
Até pouco tempo, estava disponível no Jus Brasil, mas não consigo mais encontrar. A moça, dona da empresa terceirizada foi responsabilizada pelos sócios . Numa reunião na sala do CEO um dos sócios AGREDIU a moça. Não estou falando de palavras duras, foram socos e ponta pés.
Testemunhas do fato dizem que, se não tivesse sido segurado, ele teria matado a moça de tanto bater. O fato também acarretou num processo criminal e esse sócio em questão foi desligado do projeto. Veio a pandemia e o projeto voltou a estaca zero.
Voltamos para 2021. E essa não foi a única descoberta. Ouvimos da boca de um dos sócios que ele já tinha se envolvido em pelo menos dois casos de homicídio (falou com um certo orgulho) aparentemente por legítima defesa. Um exposed saiu no twitter relatando uma entrevista de
emprego onde uma moça foi assediada verbalmente. Um outro boato de assédio surgiu, o que fazia sentido diante do comportamento estranho de um dos sócios. Eles contavam com certo orgulho sobre "aventuras sexuais" que tiveram o escritório como cenário.
No fim de novembro começaram a trabalhar conosco o grupo do suposto novo investidor, os sócios de uma fintech. Juro por deus que um dos sócios contava vantagem sobre suas conexões com o tráfico de drogas, que conhecia o atacama como a palma da mão, que um dos outros sócios
tinha conexões com a máfia napolitana, o outro era do PCC, etc etc. Nunca confirmamos nenhuma dessas histórias, mas alguns meses atrás reconhecemos o protagonista dessa matéria do fantástico: glo.bo/3Q1XQNA
Vez por outra, o dito cujo pintava pelo escritório. Novamente, pode ser tudo coincidência. Enfim descobrimos, que todo o dinheiro do evento, todos os salários que recebi, foram pagos pelo sócio que sofria bullying numero 1, e justamente após sua saída em outubro, a fonte secou.
Ele foi acusado de diversas coisas pelos outros sócios, inclusive de ser um maniaco sexual e pedófilo. Dezembro chegou, e nada do salário de novembro. Eramos todos contratados em um esquema de pejotização (não recomendo, crianças), mas até a única funcionária CLT, a zeladora
do escritório sofria com salários atrasados. Os sócios deixaram de pagar meses à uma mulher pobre, com filho pequeno, que vivia de um salário mínimo. Pior, que estava pagando para trabalhar, tendo que pagar caro 4 passagens todos os dias para ir e voltar, além de uma "babá" para
o filho pequeno. Ninguém estava recebendo, nem fornecedores, nem prestadores, até o coitado do @Wendel_Bezerra, um dos caras mais legais que já conheci, fez propaganda pro evento, se comprometeu a participar e não recebeu nem satisfação.
Dezembro foi duro, o ar condicionado quebrou num calor infernal, salários com 2 meses d atraso e mesmo assim os chefes n queriam liberar ninguém para férias. Dps de muito insistir, fomos liberados pra o home office, com a promessa de que, até o fim do ano estaria tudo resolvido
Capítulo 3: o fim.

Ainda em dezembro, começaram as primeiras reuniões com mais um novo salvador. A fintech não fechou contrato com o evento, então sobrou para a @BBLEsports. Foram várias reuniões, e a promessa de que estava tudo resolvido.
A BBL venderia 90 mil ingressos em três dias, que eles eram gigantes, tinham know how, bla bla bla - o evento estaria salvo. Voltamos em janeiro, desiludidos, mas a esperança é a última que morre. Voltamos a trabalhar, agora com 2 meses de pendências
Alguns funcionários passaram o natal sem poder comprar presente pra os filhos pequenos, numa dificuldade extrema, mas nada abalou as festas dos sócios, que celebravam em grande estilo. Após uma semana de silêncio chega a mensagem convidando para uma reunião na sede.
Seria a reunião para resolver tudo, para o bem ou para o mal. Peguei COVID na véspera e não pude participar do encontro, mas meus amigos foram e trouxeram o relato. Como era de se esperar, promessas vazias e delegação de culpa.
Culparam o sócio que sofria bullying n1, disseram que foram enganados. Culparam a gente, que teoricamente, por nossa incompetência, o evento não conseguia deslanchar. Disseram que nosso pagamento não seria prioridade, que eles pagariam as contas de luz antes de nos pagar
E por fim ainda pediram, que continuássemos a trabalhar de GRAÇA, por AMOR ao evento. Que arranjássemos freelas para pagar as contas mas não deixássemos “o sonho morrer”. Foi demais, todos saíram atônitos. Naquela mesma tarde joguei a m* no ventilador.
Falei que já sabíamos de todas as maracutaias, que os sócios já tinham aquele padrão de comportamento, contratavam funcionários, davam calote e depois seguiam. Os bens de todos em nome de terceiros, inacessíveis às indenizações trabalhistas. Só um deles tinha
Mais de doze processos trabalhistas por conta de outros empreendimentos como pequenos bares pela cidade. Com o confronto (que ocorreu no grupo de WhatsApp) a reação foi o silêncio, e em seguida um dos sócios começou a tirar um por um todos os membros do grupo.
Deixamos a UCCONX para trás, todos profundamente lesados, meses de contas atrasadas, um prejuízo imenso. E fomos seguir nossa vida. Dois meses depois as primeiras notícias: a BBL realmente assumiu o evento, e a UCCONX estava mais viva do que nunca.
Epílogo: xNoccu

A BBL apagou todos os rastros do nosso trabalho. Todas as postagens, tudo foi apagado. Ouvimos histórias que a BBL tbm estava com seus problemas financeiros, que muitos funcionários estavam há meses sem receber, e prestadores diversos
Se queixavam do mesmo. Apesar de tudo isso, o projeto seguiu tão ambicioso quanto antes. Novas estruturas foram projetadas, e grandes nomes foram anunciados. Sei que alguns amigos ainda tentaram alertar compradores, mas não teve jeito. O resultado está aí
O cancelamento da Millie e do George Takei são só o começo. Daqui para domingo a UCCONX vai entrar para a história, muito bem batizada de o FYRE FESTIVAL GEEK. Meu conselho para todos os lesados como eu: vão atrás de seus direitos, ainda que não de em nada, não podemos deixar
Que esses caras saiam impunes.

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Jul 27
Galera, só pra explicar. A thread quebrou aqui, o resto está meio espalhado pela time-line, então vou ter que reescrever para que faça sentido aqui na estrutura. Segue então. Depois desses dois episódios, veio a pandemia e o projeto voltou para o zero. Apenas em 2021 retomaram
Tiveram outras coisas, outros sócios que entraram e foram lesados, outros funcionários contratados, que trabalharam sem receber, etc. Com a pandemia tudo assentou, e eles voltaram em 2021 com a desculpa de que estava tudo certo, que a pandemia atrasou tudo
e que o sócio problema tinha sido dispensado. Retomamos o trabalho. Em 2021, com salário atrasado meu hobby era escavar os podres dos sócios. Descobrimos muita coisa, inclusive que aquele era o padrão da operação desde muito tempo: contratar, lesar, dispensar. Só um dos sócios
Read 20 tweets
Jul 27
@ygorpalopoli @ygorpalopoli deixa eu agregar na tua thread. Trabalhei na UCCONX 6 meses. E tô por dentro de muita mutreta que rolou lá. Mas quero falar especificamente das atrações internacionais. Quando estava lá, tivemos MUITA dificuldade para fechar artistas, e os anúncios me surpreenderam
@ygorpalopoli Todo mundo ficou sabendo que nos levamos meses de calote, então muita gente deve se perguntar: como um evento que não tem como pagar funcionários, pode trazer atrações tão grandes? Isso é simples e se da graças ao sistema de contratação nesse tipo de evento.
@ygorpalopoli Você não precisa pagar upfront o artista, é consignado. Você promete que ele vai arrecadar 100,150,200k dólares com a venda de assinatura e foto, e só precisa garantir o valor. Contudo, caso o objetivo não seja alcançado, o produtor deve pagar o valor que faltar
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