Alerta de fio longo.
Nós precisamos conversar sobre as narrativas construídas, frente aos atentados ocorridos contra as escolas brasileiras, que colocam as nossas instituições públicas como violentas. +
Mesmo quando se trata de atos de violência, entre os estudantes, no interior das escolas, trata-se como se não tivesse relação com questões sociais mais ampla, como se na escola a violência fosse superior, ou como se não existisse violência fora dela. +
Lógico que ninguém quer atos de violência em canto algum, muito menos na escola, que é local de cuidado e proteção de estudantes. Mas devemos desconfiar das intencionalidades de quem aponta às escolas, logicamente que sempre as públicas, como esse espaço de violência desmedida.+
Se pegarmos os casos de Realengo-RJ, São Caetano do Sul, Goiânia-GO, Suzano-SP, Barreiras-BA, Sobral-CE, Aracruz -ES, só para citar alguns, estamos falando de ATAQUES às escolas. Isso significa que as escolas foram alvos e não as praticantes dos atos de violência.+
Mas o certo é que a cada nova tragédia, mais que anunciada, frente ao armamento da população e o crescente número de “incidentes” causados por crianças e jovens, com as armas de pais/responsáveis ou parentes, sejam policiais ou CACs, a conta cai nas costas das escolas. +
Como se não bastasse a narrativa repetida nas mídias e redes, os parlamentares sempre pautam o debate, não para lidar com a causa do problema e suas complexidades, mas para apontar soluções fáceis, que geralmente, culpabilizam às escolas. +
Está na pauta da Câmara da próxima semana, o Requerimento de regime de urgência para apreciação do PL n° 1.372, de 2022, do dep. Paulo Bengtson, que dispõe sobre a autorização do Poder Executivo para implantar serviço de monitoramento de ocorrências de violência escolar.+
Se aprovado, Poder Executivo fica autorizado a implantar, o Sistema Nacional de Acompanhamento e Combate à Violência nas Escolas (SNAVE), que atuará, prioritariamente “na sistematização e divulgação de medidas e soluções de gestão eficazes no combate à violência escolar”. +
Em que pese não negarmos que existe violência escolar, os ataques às escolas, não é uma violência da escola e sim contra ela, entendo-a como sua comunidade e não como o prédio escolar. +
O SNAVE tem como prioridade, ainda, a “prestação de assessoramento às escolas consideradas violentas”. Eu fico me perguntando, quais serão elas, só por retórica mesmo, pois já conheço a resposta. +
A justificação da propositura está toda pauta na ideia da violência escolar, que segundo o propositor, “compromete a aprendizagem, abrevia carreiras docentes, expulsa crianças e adolescentes do meio educacional, ceifa vidas”. +
Nós precisamos debater a violência nas escolas, sobretudo as suas causas e que sim, tem consequências. É preciso debater a violência da padronização, inclusive de currículos voltados para as avaliações de larga escala...+
e não para problematizar e transformar a realidade desigual e excludente. É preciso debater a violência da infraestrutura inadequada, do número de estudantes por turma e por professores, das condições de remuneração e trabalho, +
da falta de alimentação escolar, das desigualdades de permanência, dos currículos que não respeitam a diversidade, dos ataques a liberdade de ensinar e aprender, da padronização de corpos e comportamentos, do aprisionamento do pensamento e da criatividade +
Mas só faremos isso de forma séria, se debatermos as violências contra a escola, ou seja, contra os sujeitos que a constitui e são a razão da sua existência. +
Debater e combater os violentos ataques contra as escolas, passa pelo combate às políticas armamentistas, a xenofobia e todas as formas de preconceito e intolerância, as desigualdades raciais, sociais e de gênero, a produção e disseminação do ódio e a destruição das milícias. +
Não me venham com propostas que colocam as escolas como autoras das violências que elas sofrem. As narrativas produzidas criminalizam a escola, especialmente a pública, e querem a sua punição.
Querem punir com mais vigilância, mais controle, menos liberdade, mais exclusão, sem criatividade e criticidade. Em nome de combater a violência, propõem que a escola seja a sua melhor e mais eficaz fábrica.
O SNAVE tem como prioridade, ainda, a “prestação de assessoramento às escolas consideradas violentas”. Eu fico me perguntando, quais serão elas, só por retórica mesmo, pois já conheço a resposta.
• • •
Missing some Tweet in this thread? You can try to
force a refresh
Existe uma diferença entre educação como direito fundamental, logo como um bem essencial para todas as pessoas e educação como serviço essencial. Segue o 🧶👇🏿
A educação como um bem essencial está pautada na proteção a vida e no seu desenvolvimento, e como tal, precisa garantir a proteção a saúde e a vida, antes de qualquer outro pressuposto.👇🏿
Os grandes educadores defendem esses princípios: Anísio Teixeira, Paulo Freire e tantos outros, até os atuais, como tantos profissionais da educação e entidades como a @camp_educacao 👇🏿.