A ficção portuguesa (tanto no cinema como, e sobretudo, na TV) está a passar por uma fase que é semelhante a uma qualquer emissão do Saturday Night Live (ou, por cá, do Docas): o sketch é bom? Fixe. É mau? Uma pena. Mas, no final de ambos, a atitude é: “venha o próximo”.
O mesmo nas séries portuguesas: a fasquia subiu, e continua a subir. O que era aceite nos anos 90 não pode nem deve ser o padrão de qualidade para o que é feito hoje em dia.
Essa formatação só vai penalizar a história que é contada, por muito boa que seja. O sotaque inglês do Contra-Informação é giro numa paródia, não necessariamente numa série histórica como #Abandonados, que está a estrear agora na RTP1.
Foi esse pormenor que me perdeu, fora outros pormenores que ainda se fazem por cá (como um certo excesso de explicação do que está a acontecer).
A história base, sobre a invasão de Timor-Leste pelas forças japonesas na WW2, é interessante — e mais um testamento de como as colónias eram (mal) tratadas pelo Estado Novo. A Madeira dá locais interessantes de filmagens.
Mas a execução, daquilo que vi (um resumo de 20 minutos de TODA a série, e que ainda terá uma versão para cinema), é pobre, e deixa-me sem vontade de ver mais.
Começo como terminei: venha a próxima. 2023 vai ter produções com potencial para serem interessantes. Muito curioso para ver Lusitânia, também da RTP. Por agora, metam para trás na box (ou vão à Play) e vejam os telefilmes de Contado Por Mulheres.
Se calhar, em vez de criminologistas, astrólogos, homeopatas, "nutricionistas" que tiraram o curso no Instagram ou nos códigos das marcas ou vendedores de banha da cobra (literalmente)… se calhar os programas de daytime podiam começar a apostar a sério em falar de saúde mental.
Mas siga, é o ciclo do costume de "suicida-se um famoso, ai que pena, coitadinho, coitadinho da família, ninguém sabia de nada, ninguém percebia nada", discute-se um bocado de que lado está a razão e segue-se em frente.
A real contribuição para a ajuda fica para outro dia.