Continuação da outra thread, mas vou fazer separado: em 2007, o anti-petismo clássico ("o Lula é um socialista que vai quebrar o país e botar um sindicalista pra morar na sua casa") não fazia mais sentido.
Por isso o Reinaldo foi beber no Olavo pra tentar trazer ideias para uma oposição raquítica de pensadores e militantes. O problema do Reinaldo é que ele construiu uma iconoclastia radical anti-PT ao mesmo tempo em que tinha profundos vínculos com parte do establishment político.
Com o impeachment e o fracasso do Temer, ele não tinha mais como sustentar os dois amores, rompeu com o olavismo e optou por defender o establishment (porque, afinal, paga boletos).
Queimado na direita, e com o desaparecimento da centro-direira como força nacional, só restou rastejar para o lulismo mesmo.
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O problema da ideia de "golpe" para o impeachment é o seguinte:
(1) eu acho que a Dilma cometeu pedaladas, que pedalada é crime de responsabilidade, que a lei de crime de responsabilidade é bastante ampla e que o impeachment se legitima sozinho pela dificuldade de conseguir 342 votos contra o governo.
(2) Você acha ao contrário, que pedalada não é crime de responsabilidade, que a eleição do presidente deve ser preservada ao máximo ou que faltou algum tipo de definição criminal mais específica na caracterização do impeachment da Dilma.
Esse lapso é engraçado porque sinaliza muito o significado e os limites do lulismo. O bolsonarismo é uma (não-)resposta afobada e brutal, mas é uma (não-)resposta para dois problemas que existem na sociedade brasileira.
Do ponto de vista político-partidário, o bolsonarismo reage à desmoralização e à dizimação de uma geração política nos anos 2010.
Eu não vou ficar lendo essas merdas de graça pra fundamentar o argumento, mas anedoticamente me parece que o Olavo tinha uma ideia de esquerda muita abstrata e não sabia direito o que fazer com isso na política brasileira.
Quem deu "corpo" local pro pensamento do Olavo, o PT como o partidão bolivariano que aparelha o Estado e usa sua influência intelectual pra mobilizar corações e mentes, foram o Mainardi e, principalmente, o Reinaldo.
E o próprio Olavo bebeu aí, de modo que, num certo sentido, o Olavo é que virou reinaldista, não o contrário.
A democracia brasileira não ruiu de repente em 2013 quando uma classe média urbana descobriu que estava revoltada sem saber direito por que e foi às ruas à procura de um alvo. Ela ruiu por dois motivos.
O sistema político-partidário de 1988 foi incapaz de se renovar e assimilar a complexificação da sociedade democrática especialmente a partir da inclusão digital nos anos 2000.
E as eleições, como um todo, mas com muito mais evidência as presidenciais, foram oligopolizadas por partidos que abusavam do poder econômico, viabilizado pela relação crônica entre investimento público e corrupção, para sustentar esse sistema político de forma cada vez mais cara