Na época da discussão do #MarcoCivil, havia dois grandes impasses: a questão da neutralidade da rede (telecoms como interessadas) e a da responsabilização das plataformas. Elas deveriam ser punidas por conteúdos postados por usuários (e tomar a iniciativa de removê-los)? +
Na época, predominou a visão de que não. No mundo todo, o que se defendia era que a responsabilização poderia provocar censura (Google removendo um blog de downloads de disco, por exemplo, com medo de ser responsabilizado por pirataria). +
Ficou estabelecido, então, que a empresa só seria responsabilizada se descumprisse uma ordem judicial. +
Na época, isso gerou debates acalorados, mas a não responsabilização era uma posição predominante. Eu mesma compartilhava esse ponto de vista. Lembro de algumas vozes bem críticas, como a @ladyrasta.+
Agora, a realidade se impôs. Confiar na autorregulação e no respeitos às próprias políticas foi uma das razões que nos trouxeram sabemos muito bem onde. Rever a regulação é debate concreto na Secom, no MJ e no próprio PT. Já se discute modelos. O golpismo mostrou: é urgente +
Na prática, o modelo do Marco Civil foi um avanço importantíssimo. Mas as plataformas continuaram removendo conteúdos de forma às vezes arbitrária (especialmente quando o assunto é direitos autorais) +
E também, em alguns casos, desrespeitam decisões judiciais, peitando o judiciário brasileiro quando não concordam. Além, claro, de terem um modelo de negócio que alimenta, se beneficia e remunera conteúdo de baixa qualidade. De que "internet livre" estávamos falando? E pra quem?+
Pensei em tudo isso quando li essa reflexão da @Te_Aranha, apontando uma possível direção dentro do MJ. Assim como na época do Marco Civil, prevejo debates acalorados. Mas, desta vez, as plataformas estarão do outro lado (junto com vcs sabem quem). convergenciadigital.com.br/Internet/Estel…
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"Sabe o que a Alexa é? Uma grande solução de escuta ativa em uma residência”. Essa frase foi dita por um representante de uma grande fornecedora de sistemas de vigilância ao governo em uma live da Escola Superior do Ministério Público de São Paulo. +
Impressiona a naturalidade como meios extremamente invasivos de investigação são tratados. A tecnologia avança muito mais rápido do que a legislação que protege nossa privacidade. Nesse vácuo, quem acaba ditando as regras da regulamentação são as próprias empresas. +
A Amazon e a própria empresa que vende o software de vigilância dizem que a Alexa não está sendo usada como "escuta ativa". Mas ela *pode ser*? Só essa possibilidade dita com entusiasmo deveria acender o alerta em quem se preocupa com privacidade e garantia de direitos +
Você lembra do dossiê antifascista da Seopi, a Secretaria de Operações Integradas do MJ? Revelado em 2020, o documento sigiloso fichou, com fotos e endereços, servidores considerados antifascistas. Foi um escândalo. O secretário caiu. Mas a Seopi tinha um projeto mais ambicioso +
Na mesma época em que estourou o escândalo, a Seopi lançou o Excel, projeto para equipar polícias estaduais com o software israelense Cellebrite – e, em troca, possibilitar “a criação de uma base de dados constituída por dados extraídos por ferramenta própria”. +
O Cellebrite é uma poderosa ferramenta de extração de dados de celulares. Ele quebra senhas, recupera arquivos apagados, acessa históricos de mensagens, localização, VPNs, arquivos na nuvem. Com o projeto, polícias receberam a ferramenta, e a Seopi passou a ter acesso aos dados+
Sabe a bancada ruralista? Financiada pelo agronegócio e que faz lobby e legisla a favor dessas mesmas empresas do agronegócio? Então: tá acontecendo igual com a tecnologia. Mesma maneira de operar, mesmas relações promíscuas e o mesmo discurso.+
Fundada em 2019, a Frente Digital se propôs a ser uma bancada parlamentar para defender a "inovação" e "o futuro". São mais de 200 parlamentares envolvidos – na teoria. Na prática, há um núcleo duro, ligado a um instituto privado e fundado por associações de lobby de tecnologia.+
Executivos de empresas de tecnologia como Google e iFood ocupam cargos estratégicos nesse instituto e nas associações por trás dele. É ele o responsável por consultoria técnica aos PLs e pareceres da 'bancada do like' – como apelidamos carinhosamente o conglomerado parlamentar. +
Quando foi que assumimos que a propriedade – de coisas, de ideias – é o estado natural das coisas? Que pensamentos têm dono? Que tomamos como natural que criações humanas são resultado de indivíduos geniais e não do conhecimento criado e acumulado por todos que vieram antes?+
Por que achamos, por exemplo, que é justo que a mera possibilidade de lucro se sobreponha à livre circulação de ideias e à construção coletiva de conhecimento? Vacinas, por exemplo: por que achamos razoável que empresas detenham as tecnologias e ditem as regras do uso delas?+
É porque sem a possibilidade de lucro não há incentivo pra criação, você pode argumentar. Pode ser. Mas em 'A cultura é livre', o @leofoletto mostra que nem sempre foi assim. Desde os tempos da cultura oral, no ocidente e no oriente, a criação nem sempre foi baseada no indivíduo+
publicamos a última reportagem da série sobre tecnoautoritarismo, parceria do @TheInterceptBr com a @DataPrivacyBr que eu tive o prazer de coordenar e editar. desta vez, saímos da esfera federal e mostramos as máquinas de encarcerar da Bahia. theintercept.com/2021/09/20/rui…
separadamente, as matérias dessa série trazem um mosaico de iniciativas que mostram os problemas comuns no aumento da vigilância estatal sobre os cidadãos: falta de regulação, controle e transparência, coleta de dados abusiva, troca de infos com a iniciativa privada.+
em conjunto, mostram que o cenário começou bem antes de Bolsonaro, ainda em governos Dilma e Temer. políticas públicas aparentemente bem intencionadas podem se transformar em poderosas ferramentas de vigilância e violação se um governo com tendências autoritárias assumir o poder+
você já deve saber que a gente não apenas é rastreado na internet – nós também somos direcionados para conteúdos e objetivos específicos. cada vez mais sofisticadas, tecnologias de monitoramento e perfilamento são usadas quase sem controle público. a china quer mudar isso +
o país está discutindo uma proposta pioneira de regulação de algoritmos de recomendação. "ah mas a china censura bibibibobobó". calma. na proposta, há várias ideias inovadoras, como a que os usuários poderão ver e escolher com quais palavras estão sendo perfilados.+
a política também propõe que algoritmos não podem ser usados para determinar preços diferentes com base em hábitos de consumo. por exemplo: passagens aéreas. sites podem rastrear até de que aparelho você está acessando a internet para subir o preço – isso ficaria proibido. +