Aos 28 do mês quatro, surgia, cartola na caixola e cachaça na mão, um grupamento em verde e rosa que se tornaria monumento civilizatório do Brasil grande: a #EstaçãoPrimeira.
E assim fundada porque havia gente que saltava logo ali, pouquinho depois da partida da Estação Dom Pedro II (atual Central), e a composição seguia seu ritmo, como sangue a irrigar as veias da ocupação urbana. Mangueira.
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Naquele pedaço de terra elevado cuja alvorada é uma beleza, um misto místico e real de “céu no chão”, se desenvolveu um tipo de obelisco do Pindorama de sol infindo.
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As naus Cabralinas não desembarcaram por ali, e nem poderiam, mas os escravos fugidos que se escondiam no que se ergueu por trás da Quinta da Boa Vista.
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E aqui já avançamos nos séculos para encontrar o Império, montaram uma história paralela de Brasil, nas franjas do dito bairro imperial.
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O Brasil que não aparece em livros, dos sonhos e quimeras de raríssimo esplendor. Este é o essencial dela. Regido pela moeda do samba, em maço de folhas secas caídas, e que pavimentam a subida de poetas até o alto.
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Mangueira do Amanhã, fraque, do linho, do pé lustrado. Maiúscula e minúscula, feminina, masculina. Transgênera.
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Talvez, a razão para a especialidade mágica esteja mesmo nesta essência de universo à margem, nos desafios de ser, mas - concomitantemente - não existir para alguns, vá saber.
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A Coroa brasileira, da pujança até a decadência, subia e descia a serra para Petrópolis para fugir do calorão dos janeiros.
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Mas nem parou para notar o retrato e microcosmo de Brasil chocado bem nas suas cercanias, local de mangueiras a dar com pau, bem atrás.
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Por que deu certo? Porque tinha a pimenta do improvável. Madeira de dar em doido, jequitibá também. Deu mesmo. Nos doidos. E nos ”certos”.
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Deixaram-na passar.
Parabéns, Mangueira, pelos seus 95 anos!
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Na sociedade maniqueísta/binária, a TV assumiu a estética do game para segurar pessoas. O Big Brother, o The Masked Singer... Tudo rola na lógica da gamificação. Atuo tb com comunicação interna e divulgar por jogos engaja. Ora, ESCOLA DE SAMBA é um "game" secular de "aldeias".
Ocorre que quem vende o carnaval já parte da premissa de que seu produto é uma merda. O racismo estrutural brasileiro mata a autopercepção do quanto o desfile de saberes pretos engajaria - se bem trabalhado. E insisto: com a manutenção de todos os seus rituais fundamentais.
Pessoas chocadas com o formato das finais de samba na TV, pelo visto, se esqueceram do programete feito durante a folia. Quem lidera o negócio parece achar que para estar na televisão aberta precisa sacrificar pedaços da festa, cortar, minguar e, em último, asfixiar.
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Acho que o ritual das escolas, se bem feito e pensado, é vendável à beça. Falta autovalorização. Não concordo com a teoria de que para alcançar mais público e ser “sexy” precisa - justamente - sacrificar o que é sexy no calendário do festejo.
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No mais, bastavam as lives feitas por cada escola e uma divulgação destas em algum programa a posteriori. Seguiríamos com a surpresa do anúncio na hora H, mantendo o rito, e a TV entregaria a tal escala sonhada.
Além do homenageado per se, no enredo do #JorgeSilveira sobre #Adoniran, me comoveu, especialmente, uma parte. Foi a que a mão mais tremeu na hora de escrever:
“ (…) Já crescido, Adoniran viu-se um pouco em Geraldo Filme balançando o terreiro com a mão na zabumba,
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… Bebeu Dionísio Barbosa, o revolucionário folião da Barra Funda, fez ecoar o tambu de Henricão, que escreveu a glória do Bixiga e partiu levando saudades.
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Sambistas romeiros a encantar o espírito da Pauliceia e inspirar as fricções urbanas da obra do demônio sagrado que, ao contrariar a morte, regressa à sua Vila Esperança, aurora dos carnavais.
No Brasil, coronavírus é doença de rico. É doença de quem pode viajar pra fora com dólar a cinco (!!!) reais. É doença de muito rico, corrijo, sacando advérbio de intensidade. De patroas que cagam cheiroso contaminando empregadas domésticas.
FIO 👇👇👇
E podendo até matar as mais idosas. É doença de quem dá apoio a reformas que retiram recursos de saúde pública, por exemplo.
O coronavírus, aqui, é desgraça que assusta as elites e foi trazida... Por elas mesmas! Não deixa de conter poesia, ironia e até gerar certo regozijo, entre uma tosse e outra.
Como em todo pré-carnaval, eis as efemérides, fatos marcantes da vez ligados às escolas de samba.
Agora, para datas redondas e anos em 5, e que merecem celebração ou menção, em razão de importância histórica.
Mesa posta, embarque nesse enredo de datas do fio, meu povo.
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Há 85 anos (1935), a Portela ganhou seu primeiro título, ainda como Vai Como Pode. Sob o comando de Armando Passos, apresentou o enredo "O samba dominando o mundo", título que a escola considera uma espécie de profecia.
Há 60 anos (1960), Fernando Pamplona criou a revolução dos enredos negros do Salgueiro com Zumbi dos Palmares e pavimentou o caminho para a liderança dos carnavalescos na festa: Arlindo Rodrigues, Joãosinho Trinta, Rosa Magalhães, Renato Lage, Maria Augusta, Max Lopes, etc.