Um amigo meu tem a teoria de que o António Variações era uma reencarnação do Fernando Pessoa, uma espécie de heterónimo que ele não conseguiu concretizar em vida e que veio acabar a obra quase um século mais tarde. Pequena odisseia especulativa:
A pista mais óbvia é o António Variações ter partido a 13 de junho, que é a data de nascimento do Fernando Pessoa. Além disso, o próprio nome "Variações" sugere que a persona (neste caso literalmente, porque se trata dum nome de palco) é uma "variação" de algo ou alguém.
A admiração que o António Variações nutria pelo Pessoa também fez com que lhe dedicasse o segundo e último álbum, Dar & Receber. A nota enigmática e aparentemente aberta/inacabada diz apenas
"a Fernando Pessoa
que".
Este álbum contém uma faixa chamada Canção, cuja letra (e título!) são de Fernando Pessoa. O simples facto do próprio poema original se chamar "canção" parece indicar que foi escrito com o propósito de ser musicado.
Depois há a questão da sexualidade. Não se conhecem grandes relações amorosas de Fernando Pessoa, e durante muito tempo especulou-se que o poeta seria assexual. Um livro do investigador Victor Correia veio recentemente propor a tese duma homossexualidade reprimida.
Isto também explicaria uma "segunda vida" de Pessoa, que teria vindo viver e expressar-se em pleno numa época em que determinadas identidades sexuais não gerariam (tanto) preconceito. A persona pública de Variações é um hino a esta libertação.
Ambos se tornaram ícones da cultura portuguesa por direito próprio, expressando o ethos dum povo de maneira simultaneamente inovadora e popular. A rematar, há também aquela que é uma das fotos mais conhecidas de Variações, e que parece fazer referência aos óculos de Pessoa.
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