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Oct 30, 2019, 15 tweets

A BRUXA E A CULTURA POP

A bruxa ganhou de novo a cultura pop. Às vezes, é uma vilã muito velha e feia. Noutras, é jovem, bonita e boazinha, quase uma donzela em perigo. Mais recentemente, tem aparecido misturando as duas coisas: perigosa e do bem.

Mas por que tanta variedade?

Por um lado, a bruxa é a ameaça interna à comunidade, uma pessoa de baixo status social com o suposto poder de se sobrepor às classes dominantes.

Ao contrário do que muita gente pensa, não foi uma invenção da Igreja católica queimar bruxas. Roma fez isso antes...

Por outro lado, ainda pelo viés histórico, ela poderia ser curandeira/parteira (e aborteira), com conhecimentos que superavam os de médicos e sacerdotes.

Alguém com influência dentro da comunidade (mesmo assim, vizinhos poderiam se voltar contra ela se algo desse errado).

A ideia de pacto foi se construindo aos poucos e totalmente difundida pela Europa no século XVII.

Vários juristas, teólogos e até um rei escreveram tratados discutindo a existência de bruxas e como combatê-las. Existiam também os panfletos, para uma parcela maior da população.

Geralmente, a bruxa era identificada por alguns sinais: manchas, verrugas e feridas, mau humor, hábito de falar palavrões (é sério) e cuspir na rua.

A maior parte das rés são viúvas ou mulheres mais velhas, reduzidas à mendicância por causa de um sistema que excluía mulheres.

A cultura pop então absorveu muito desse sentimento e recriou a bruxa a partir daí.

Como no começo a maior parte das produções em que figuravam bruxas eram adaptações de contos de fadas, a bruxa aparece dentro da tríade de características vilanescas feia-velha-má.

A Bruxa Má do Oeste, do filme "O Mágico de Oz" (1939) foi a primeira bruxa verde. Não era no livro de L. Frank Baum, que inspirou o filme.

A MGM queria usar a technicolor, novidade na época, e fez várias alterações do tipo para acrescentar mais cor e impressionar a audiência.

Apesar de muitas obras recorrerem ao velho estereótipo, algumas representações da bruxa foram mudando essa figura. Tipo Samantha, a Feiticeira, uma bruxa dona de casa que usa seus poderes para arrumar a casa e cozinhar (ai, os anos 50!).

Apesar de muitas obras recorrerem ao velho estereótipo, algumas representações da bruxa foram mudando essa figura. A exemplo de Samantha, a Feiticeira, uma bruxa dona de casa que usa seus poderes para arrumar a casa e cozinhar (ai, os anos 50!).

Mas as feministas clamam as bruxas para si pois, afinal, a maioria dos réus por bruxaria era mulher (cerca de 85%), e hoje em dia não acreditamos mais no poder sobrenatural da forma como antes se acreditava. Ou seja, a história da caça às bruxas é também um episódio de misoginia.

Um divisor de águas na história da representação da bruxaria na cultura pop foi Harry Potter, sem dúvida, ao igualar a bruxa (tradicionalmente iletrada) e o mago (geralmente culto e academicista), e criar uma sociedade bruxa diferente, mas parecida com a nossa.

Hoje a bruxa aparece com múltiplas facetas, podendo causar medo e fascínio, ser anti-heroína, vilã ou heroína clássica. Suas possibilidades fascinam. 🖤

Essa thread foi escrita por @CarolChiovatto. Formada pela Universidade de São Paulo (USP), Carol é escritora, tradutora literária e mestra e doutoranda em Estudos Linguísticos e Literários em Inglês.

Em seu canal no YouTube, “Que bruxaria é essa?”, ela fala sobre o estereótipo da bruxa na História e em obras de ficção, além de outros estereótipos de gênero, teorias feminista e queer, e sobre o lugar-comum na construção narrativa.

Inscreva-se: youtube.com/channel/UC4sNU…

Conheça "Porém bruxa", livro de estreia de @CarolChiovatto

📚 Ísis Rossetti é uma bruxa. Seu trabalho é monitorar crimes envolvendo forças sobrenaturais na cidade de São Paulo. Apenas esses. Mas logo as coisas saem do controle... amzn.to/34d25hv [📷: @vitormrtns]

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