Falar que o Atlético Mineiro é um time de história recente, ou sem história, é um folclore comum dentre os torcedores externos do Brasil. No entanto, chegou a hora de mostrar e provar o porquê essa narrativa é tão ofensiva a essa grande instituição grande do país.
Que tal começar falando que no século 20 o clube foi protagonista? É difícil olhar o passado com os olhos do presente e defender que o formato falido de campeonatos estaduais é um bom ponto para defender a grandeza de uma instituição,a do quarto maior campeão regional da série A.
Os 44 campeonatos mineiros do Atlético dizem muita coisa num período em que as disputas locais já foram maiores e mais importantes do que os campeonatos interestaduais, até então não tão organizados ou sequer amplamente estimados quanto ao que conhecemos no formato atual.
O primeiro campeonato devidamente reconhecido por um órgão desportivo máximo que reunisse todas as melhores equipes por um título nacional no futebol daqui, por exemplo, foi a Taça Brasil, criada somente no ano de 1959.
Nessa altura, o Galo, primeiro time a levantar a taça de campeão do Estado, já tinha 20 mineiros de 44 disputados. Nem o decacampeonato do América e o nascimento do Cruzeiro impediram o domínio da equipe alvinegra no campeonato, este sim, mais importante disputado até então.
O protagonismo do Atlético Mineiro no século XX não veio só dentro de casa, e despontou no cenário nacional em grandes oportunidades que devem ser rememoradas, tendo em vista que a grandeza de um clube perpassa títulos e números facilmente manipulados.
Em 1950, o Galo foi convidado pela federação de futebol alemã para uma série de amistosos pelo Velho Continente, um dos primeiros times a pisarem por lá, numa época em que o Brasil não era a potência que hoje representa ao esporte, em que nem mesmo era campeão mundial.
O fatídico “Maracanazo” era recente e doía, a ida dos mineiros para a Europa representava a esperança nacional de que estes representassem o nosso futebol no exterior. Em 10 partidas, o time ganhou 6 vezes, empatou duas e também perdeu duas contra adversários tradicionalíssimos.
Em sua volta ao país natal a equipe foi homenageada pela CBD (espécie de CBF) e recebida de forma histórica por mais de 50 mil torcedores em BH. O acontecimento, muito elogiado pela imprensa nacional na época, representava a bravura de uma equipe que jogava pelo Brasil na Europa.
Você com certeza já deve ter ouvido falar da seleção tricampeã do mundo em 1970, para muitos a melhor da história das Copas. O famoso esquadrão, recheado de estrelas e lendas do esporte nacional, que conquistou o mundo inteiro, transformando o país no país do futebol.
Em setembro de 1969, o Galo se tornou um dos apenas 5 times de futebol a vencer uma partida contra o Brasil, num evento que comemorava a classificação da futura campeã mundial para a Copa do ano posterior.
O time de Pelé, Tostão, Rivellino, Gérson, Jairzinho, Carlos Alberto Torres e companhia foi derrotado por 2x1 em pleno Mineirão abarrotado para uma equipe atleticana, trajada de uniformes da federação mineira, que marcaria geração na década seguinte.
A piada é que a instituição não tem um bicampeonato, mas será que procede? Em 1937 a extinta Federação Brasileira de Futebol convidou alguns dos atuais campeões estaduais para um campeonato, em que o Atlético se sagrou campeão, o “campeão dos campeões” incluso no hino do clube.
Seria esse o primeiro campeonato brasileiro, de fato? A falta de empenho da própria instituição em fazer este reconhecido como um impediu que a CBF o incluísse na unificação que tornaria diversos torneios conquistas nacionais em 2010.
O outro título nacional, o primeiro campeonato nacional de clubes organizado pela CBD, do Galo viria em 71 marcando o início de um dos períodos mais brilhantes do clube que ainda chegaria à final do nacional em 77 e 80, a última marcando o início de uma rivalidade histórica.
Durante esses anos, é necessário destacar a presença de um cara, a do eterno artilheiro Reinaldo! No Galo de 73 à 85, o Rei, presente num dos maiores times da história da instituição e pra muitos o maior da história do clube, colecionou 255 gols em 475 partidas por lá.
Artilheiro de maior média de gols em uma edição do campeonato brasileiro na história, (1,55 gols/jogo em 77, 28 em 18 partidas), o jogador foi fundamental no time que de forma inédita não foi campeão mesmo não perdendo um único jogo durante no ano, somente nos pênaltis da final.
Flamengo e o Atlético Mineiro lendário de Reinaldo eram as duas melhores equipes do Brasil, e a disputada final de 80 liderada por Zico e companhia desencadearia o início de um clima hostil que originou uma das partidas mais polêmicas da história da arbitragem nacional.
Em agosto de 81, os dois melhores times do país voltariam a se enfrentar num confronto pela Libertadores, e dali para a imensa maioria do público pensava-se que sairia o campeão. Como todos sabem, polemicamente, o Flamengo seria classificado, e posteriormente campeão da América.
Times do Brasil venceram a Copa Toyota, e a FIFA ou os clubes e as suas torcidas debatem há anos, até os dias de hoje, sobre a validade desta ou não como mundial, e é certo dizer que, dado contexto da época e a forma com que ela era tratada, que sim, era uma espécie de mundial.
Por isso, apesar da mudança, títulos de competições que deixam de existir devem ser considerados em todas as hipóteses dado seu contexto. Assim, o Atlético é bi da Conmebol, que reunia times do continente e foi uma das percursoras para a criação da Sulamericana, extinta em 99.
O primeiro título da competição foi logo em sua primeira edição, a de 1992. Final continental contra o.... Olimpia! Sim, a Libertadores não foi o primeiro encontro decisivo entre os dois clubes, ambos os jogos com final feliz ao clube brasileiro numa disputa de dois jogos.
A segunda vez em que se sagrou campeão do torneio, o bicampeonato (sim!) da Copa Conmebol veio em 1997, com o time do técnico Emerson Leão e Marques no ataque. Terceiro colocado do brasileiro no ano anterior, foi campeão invicto da competição em final contra o Lanús.
Campeão continental 3x em sua história, o fato de que a competição deixou de existir, ou foi modificada por entidades superiores, da mesma forma que como o mundial, não impede que essa seja considerada um grande título ainda nos dias atuais, porque de fato tinha grande validade.
99 foi um grande ano do clube que fazia grande década, e comandados por Guilherme (artilheiro do campeonato do ano com 28 gols) e Marques, um excelente garçom, que até fizeram ambos chegarem à seleção, o Galo foi vice-campeão do brasileiro do ano em final contra o Corinthians.
Apesar dos tempos difíceis e o rebaixamento do time em 2005, o Atlético retomou seus bons dias com o renascimento em 2012. Ronaldinho, Jô, Tardelli, Bernard e tantos outros ídolos foram percursores de um clube que faria a melhor década da sua história, o da mudança de patamar.
O melhor dia do atleticano realmente é o da final contra o Olimpia em 2013, mas isso não apaga uma história. Depois do auge da instituição, o time ainda seria campeão da Copa do Brasil em 2014 contra o maior rival, em um período importante de domínio do futebol mineiro no país.
O clube que ainda brigaria pelo topo nessa década com o vice-campeonato brasileiro de 2015 e o da Copa do Brasil em 2016 mostravam que o Atlético estava pronto a gritar mais vezes campeão e demonstrar a cada ano sua grandeza no cenário esportivo nacional.
E no maior clássico de MG, um dos maiores e mais tradicionais inclusive do país, o Atlético, que assistiu o rival ganhar protagonismo no cenário esportivo, manteve o retrospecto sempre ao seu favor. Em 513 jogos são 206 vitórias do alvinegro contra 170 do maior rival Cruzeiro.
Não, o Galo não foi fundado pelo Ronaldinho em 2013, e apesar deste ter sim levado a instituição à um outro patamar com a inédita conquista da Libertadores da América (sendo o time o 9º que mais participou desta no Brasil), existe história a ser contada antes do Gaúcho.
Mais do que títulos e conquistas, a torcida é o maior patrimônio do Clube Atlético Mineiro, 4º clube com mais sócios torcedores do país. Com média de pouco mais de 40 mil de público no Mineirão desde sua reinauguração em 2013, por exemplo. Essa sim torna o Galo grande.
Do “Eu Acredito” até o hino, os gritos entoados das arquibancadas em jogos do clube são nacionalmente admirados. A grandeza de uma instituição está também na sua capacidade midiática e de movimentar seu nome, e isso o Atlético faz como poucos no Brasil.
Nas mídias, o Galo foi o 5º clube que mais ganhou seguidores em 2019 e é o sétimo clube mais seguido do Brasil nas redes sociais somando Facebook, Twitter, YouTube e Instagram. São pouco menos de 7Mi de seguintes. E esses dados não estão atoa, são reflexo de um time GRANDE.
Esse infográfico da @GoalBR mostra os maiores campeões do futebol brasileiro. É lógico que não podemos comparar aqui a dimensão das conquistas de alguns dos clubes que estão atrás. Mas também não dá pra dizer que ela é nula. Pelo contrário, ela transmite, e bem, sua mensagem.
Porém, num momento da história em que o estadual já foi a competição mais importante do futebol e num esporte que culturalmente só dá atenção para clubes territorialmente concentrados, pode ser que seja difícil aceitar que o gráfico acima pode sim ter algo a dizer.
O Atlético Mineiro é grandeza acima de títulos, e do folclore popular que ignora a tradição de um dos clubes há mais tempo no radar dentro do futebol nacional. O Galo Forte e Vingador e sua torcida apaixonada única não pode ser ignorado dentro do esporte brasileiro jamais.
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