Dennis Almeida 👨🏼‍🏫 Profile picture
Professor! @FarofeirosCast, @pindoramapod, @naopodtocar e @histacontrapelo. Tentando sempre falar da História NAS Coisas. Pai do Joelhinho!

Apr 11, 2021, 13 tweets

Algo que sempre deixa as crianças do 6º Ano um pouco perdidas é no começo do ano letivo, quando nas primeiras aulas de História, eles descobrem que a ciência histórica não é sobre “estudar o passado”.

Mas qual é o objeto de estudo da História?

Uma mini #AulaFio

#Historia

Bom deixar claro que este fio foi pensado para quem tem curiosidade sobre o assunto mas não tem formação em História. Tomara que eu acerte o tom!

Parafraseando Marc Bloch no clássico “Apologia da História”, nós historiadores estudamos a ação humana, e de sociedades humanas, através do tempo. Nos interessa entender quais caminhos percorremos e o que fizemos entre o antes e o agora...

E deste fundamento da História, origina-se um dos seus principais problemas: se é impossível voltarmos no tempo, como entender estes percursos através dos momentos? Lembrando que estas trajetórias sãos os chamados processos históricos.

Como ainda não conseguimos voltar no tempo (o que de certa forma não adiantaria muito), não conseguiríamos simplesmente estudar o passado, mesmo que o passado humano. Portanto, o que realmente analisamos são os vestígios que este passado transmite até nós aqui, no presente.

Estas fontes podem ser objetos, imagens, textos, relatos, fragmentos de mentalidades e tudo isto junto ao mesmo tempo. Vivemos um presente constantemente invadido por várias sondas de vários passados.

E, obviamente, estas análises feitas das fontes históricas podem nos levar a resultados diferentes de acordo com a época, lugar físico ou social em que forem feitas ou mesmo o historiador que se debruçar sobre estas fontes.

E não tem problema na disparidade de resultados. A Ciência em geral tem mais a ver com a resolução de discordâncias do que com o reforço de hegemonias.

Outra questão sobre o trabalho historiográfico é a da natureza lacunar da História. É simplesmente impossível reconstruir fatos históricos em sua totalidade. Sempre será uma imagem com fragmentos ausentes. O que varia é a quantidade do fato a que temos acesso.

Estas lacunas acontecem por vários motivos. Pode ser pelo tempo entre o fato em si e o presente, pode ser pela escassez de fontes, pode ser pelo interesse dos agentes históricos de esconder os fatos dos quais eles participaram.

Parte da solução para lidar com esta natureza lacunar passa pela ideia de recortes. Recorte cronológico (“Que época estudarei?”), espacial (“Que lugar na Terra estudarei?”) ou temático (O que vou estudar?”) são exemplos de como se delimita o foco de estudos de historiadores.

Existem muitos outros fatores a se pensar, como diferenças entre temporalidades (é bem diferente estudar espaços de tempo curtos, longos e muito longos)… Mas aí teríamos um fio muito longo e eu transformaria um assunto empolgante em algo muito chato (se é que já não fiz isto).

Por enquanto, pense nisto, no objeto de estudo da História: ações humanas através do tempo, fontes históricas usadas para acessarmos o passado e a própria natureza lacunar da História.

É o bastante para ficarmos dias repensando a História, suas funções e objetos de estudo!

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