Isaac Schrarstzhaupt Profile picture
Doutorando em Epidemiologia - FSP/USP; Coordenador - Rede Análise; Tutor no ICEPi; TEDx speaker; Pessoa com autismo; O sobrenome pronuncia CHUÁRTI ZÁUPITI!

Apr 29, 2021, 37 tweets

Oi, pessoal! Fiz uma atualização de todos os dados até 27/04/2021 e acredito ser importante fazer o registro do momento em que estamos, por ser tão crucial em relação ao futuro de curto/médio prazo. Sigam o fio: 🧶 //1

Analisando o Brasil como um todo, percebemos que a "velocidade" de notificação de novos casos vem em uma leve queda, infelizmente desacelerando. Vejam o gráfico com a taxa de crescimento de casos acumulados, e também com casos novos: //2

Ao analisarmos a média móvel da taxa de crescimento de casos novos, o gráfico fica "feio", mas ele pode ficar negativo (ou seja, se há queda, o número fica abaixo de zero). Já o de casos acumulados fica, no máximo, igual a zero (que é o que queremos, o mínimo de casos/dia) //3

Podemos comparar com o Reino Unido, que segurou as medidas de restrição até os números baixarem bem. Podemos ver o movimento "ideal" da taxa de crescimento de casos acumulados, que é a queda que o puxa para o zero. Já nos casos novos, percebam como não sai do nível do zero: //4

Hoje o Reino Unido está flexibilizando, mas vem notificando uma média de 2.500 casos diários, sendo que no seu pior momento, em 08/01/2021, foram notificados 68.192 casos. O que isso quer dizer? //5

Quer dizer que, se os testes do país estão sendo feitos no mesmo ritmo em ambos os momentos (no pico e agora), realmente temos menos casos ativos, e menos pessoas infectadas com o vírus, o que nos permite aumentar a mobilidade com (um pouco mais de) segurança. //6

E temos como saber se os testes estão sendo feitos no mesmo ritmo? Temos! Com o indicador diário de positividade (testes positivos divididos pelos testes totais). Ainda no Reino Unido: vejam como ela caiu, tendo seu pico no dia 08/01/2021 e agora sendo bem menor: //7

Por que eu estou falando tudo isso? Justamente pelo fato de não estarmos fazendo isso no Brasil. A velocidade de crescimento/queda dos casos já está estabilizando perigosamente em patamares bem altos (veremos estado a estado logo a seguir) e.... //8

...não controlamos a positividade para garantir que temos menos casos ativos. Isso é muito importante pois, ao aumentar a mobilidade, aumentamos o risco de termos um encontro entre um suscetível e um ativo, gerando um possível novo caso. //9

Por isso vemos sempre pessoas sensacionais como a @mellziland, a @melmarkoski, o @vitormori, a @marivarella, a @lupellanda, redes como a @analise_covid19, o @obscovid19br e tantos outros sempre falando no distanciamento físico, locais abertos, PFF-2, pois reduz o risco! //10

Então, recapitulando: Quantidade alta de casos ativos aumenta o risco de novos surtos ao aumentarmos a mobilidade, devido a maior chance de transmissão. E como estamos no momento atual nas regiões do Brasil? Vamos ver o Norte e o Nordeste: //11

A região Norte vem reduzindo o seu número de casos notificados por dia, de uma forma até bastante acentuada, após a estabilização em março com pontos até de elevação nos últimos dias. Praticamente todos os estados da região tiveram essa queda acentuada. Aqui AC, AM, AP e PA: //12

E aqui RO, RR e TO. Novamente quero deixar explícito que essa é uma queda na NOTIFICAÇÃO de casos, e isso é apenas um indicador. Temos um dado de positividade para confirmar se isso é uma queda real e não apenas de testagem? Não temos, infelizmente. //13

Eu sou cauteloso para dar o alerta de aumento, mas ainda mais para avisar a queda, pois ela:
- Pode ser represamento de notificações (em um primeiro momento ok, depois começa a aumentar nos hospitais);
- Pode ser baixa procura de testagem, mesmo que esteja havendo transmissão//14

Já um aumento é mais difícil que seja uma "supernotificação", pois não há como notificar casos A MAIS, o que indica que é aquilo ali ou ainda pior. Se olharmos a região Norte no Infogripe (info.gripe.fiocruz.br) vemos também uma possível queda: //15

Analisando a mobilidade dos estados, vemos que em 24/04 (a última atualização) temos apenas um maior uso de transporte público no AC, mas todos os estados convergem em uma mobilidade similar: //16

Os dados de sintomas reportados na pesquisa da Universidade de Maryland via Facebook não tem uma amostragem suficiente para análise na região Norte, infelizmente. Vamos para a região Nordeste, que vem em uma estabilização perigosa (patamares altos!) //17

Nessa região já não temos uma uniformidade entre os estados como foi na região Norte. O AL vem em uma estabilidade alta que recém quer começar a virar queda. Já a BA vinha em uma queda, desacelerou e estabilizou lá em cima, mais alto que o primeiro pico! //18

PB, PI e SE vem em uma estabilização/início de queda, mas todos estão em patamares altos, vejam como a quantidade de casos diários notificados ainda é bastante alta: //19

RN vem demonstrando uma estabilidade com um leve aumento, mas dá pra ver, vendo o gráfico do histórico, que é um estado que notifica com represamento, então peço cautela. Já PE e CE preocupam, pois vem mostrando aumento na tendência (PE) e na tendência + velocidade (CE): //20

O MA vinha com um aumento na velocidade de notificação e teve uma queda estranha nos últimos dias, não parece ser algo real, me parece mais algum represamento (vejam que no dia 25/04 tiveram apenas 5 óbitos notificados, um ponto fora da curva). //21

Destes estados que mostram aumento, o PE do meu amigo @b_ishigami é o que mais me preocupa pois essa tendência aparece também na pesquisa da Univ. de Maryland/Facebook. A BA está com uma tendência de aumento/platô e o CE mostra, nos sintomas, uma queda nos últimos dias: //22

No Sudeste, vemos um início (bem início) de uma queda na velocidade de notificação. Esse comportamento se nota no ES, MG e SP, MAS: todos em patamares altos. Tem uns dias com pouquíssimas notificações na última semana que suspeito serem relativos ao feriado de 21/04: //23

Em relação à SP, um alerta bem importante: os dados de pessoas reportando sintomas, que vinham caindo, simplesmente tiveram uma freada brusca a partir do dia 07/04. Como os dados de sintomas sempre vem antes dos casos notificados, isso preocupa com o que vem por aí. //24

A mobilidade de SP vem aumentando rápido, e isso dispara o alerta que falei no começo do fio: suscetíveis em contato com ativos, que podem trazer novos casos. //25

Além disso, o RJ também me faz ligar a luz de alerta: aumento forte de mobilidade, casos lá em cima e sintomas que não caem. O RJ está naquele momento de "trifurcação" que falei aqui: //26

E a região Sul é o "exemplo" de estabilização em patamares altos, dá para ver super bem no gráfico de média móvel da taxa de crescimento: percebam que após o pico de velocidade, começou a cair, desacelerou a queda e estabilizou (a linha de velocidade está quase horizontal) //27

Isso já assustaria em qualquer condição, pois (novamente, posso estar soando repetitivo mas é para fixar bem) temos mais risco de contato entre ativos e suscetíveis, só que estamos forçando o retorno às aulas, nessas condições! O RS terá a sua volta em TODAS as séries. //28

Sabemos que vários pais não irão mandar seus filhos (a situação realmente não indica tranquilidade) e que não teremos o contingente total de alunos, mas mesmo assim será um aumento brusco na mobilidade, nessa situação já de patamares altos. Isso me deixa com muito receio. //29

Sei que muitos, nessa hora, vão pensar "mas as aulas são importantes". Nossa, eu sou o primeiro a concordar. Falei sobre isso aqui: //30

Para finalizar, lembremos do período em que estamos entrando (outono/inverno). Vejam os índices de SRAG do Brasil em 2019, 2020 e 2021. Estamos entrando em uma época de tradicional maior transmissibilidade com patamares de casos ativos mais altos que o pico de 2020! //31

Nem falo no estado em que estão os hospitais e os profissionais de saúde, né? Totalmente acabados, cansados, judiados e precisando urgentemente de uma folga, um período de baixa nos atendimentos. Pena que, com as atitudes atuais, reduzimos a chance dessa folga. //fim

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