Notas Não Aleatórias Profile picture
Anénha / Ana Arnt (ela/she) Bióloga de humanas, profª Unicamp, coordª @blogsunicamp Notas não aleatórias divulga ciência, biscoita, posta fotos de gatos e memes

May 6, 2021, 22 tweets

Sobre a Divulgação científica, as especialidades e os especialistas...
O que faz com que nós tenhamos parte de nossa carreira dedicada à Divulgação Científica (DC) e o que isto tem a ver com nossa formação?
Segue o fio!

Primeiro queria lembrar que algumas coisinhas que falarei aqui estão neste fio:

Vamos começar do princípio: área de formação.
Ela é fundamental para trabalharmos na Divulgação Científica. Temos, em um curso de graduação, uma introdução ampla a um campo de atuação que nos dá condições de atuar em uma profissão que exige ensino superior.
Até aí, nada de novo +

A pós-graduação (mestrado ou doutorado) são cursos em que nos especializamos em uma área específica, desenvolvendo uma PESQUISA nesta área. Mas a pós-graduação é mais do que isto. No Brasil, também é parte da formação para atuação como docente de nível superior.
Tá, mas e a DC? +

A DC pertence à área da COMUNICAÇÃO, que é considerada das Ciências Sociais Aplicadas.
Isto em um campo de formalidades e caixinhas acadêmicas - que são importantes para muitas coisas. No entanto, não dão conta de tudo, óbvio.

E como nossa formação se relaciona com a divulgação?

É aí que vários meandros se fazem presentes.
A divulgação científica é "tornar de domínio público o conhecimento científico", segundo o Eduardo Bessa - e esta é uma das definições mais bonitas que eu conheço.
A Divulgação é uma via de democratização do conhecimento científico+

Mas a DC tem lá seus embates...
- Existem aqueles que defendem o preciosismo da especialidade (mas e aí? Alguém que não é da comunicação poderia fazer DC?)
- Outros já apontam que a DC pode ser feita a partir da especialidade, mas ela é mais ampla do que nosso curso de pós.
+

(claro que há mais do que isso também...)
Aqui há uma certa dificuldade em delimitar. Por exemplo: meu doutorado é em Educação. Mas eu pesquisei uma revista de divulgação científica e os conteúdos de genética humana nesta revista.
Minha pesquisa falou sobre o quê?

De um modo amplo, eu abordei determinismo biológico, conceito de ciência, determinismo genético, eugenia, evolução e noções de sujeito.
Um dos temas que eu menos me sinto à vontade para falar é "Educação" no sentido mais usual do termo.
+

As áreas de formação, dependendo dos projetos de pesquisa, são bastante interdisciplinares - e precisam ser. Nenhum pesquisador passa incólume de estudar inúmeros textos, artigos, teses que atravessam nossa área.
As delimitações são tênues e nem sempre fazem sentido +

Além disso, não é como se, na ciência, nós parássemos de estudar após o mestrado ou doutorado.
Iniciar novos estudos, se jogar em áreas de pesquisa ou de atuação, buscando rigor no que se faz e se aprofundando em novas áreas é absolutamente COMUM no meio científico.
+

Além disso, nós trabalhamos em equipes interdisciplinares. Debatemos conceitos, artigos, áreas de conhecimento. Articulamos ideias para elaborar trabalhos conjuntos.
A DC busca democratizar conhecimento e deveria ser sobre humildade e reconhecimento de limites.
Limites?
+

Sim! Limites, pois nos possibilita ampliar mais e mais nossas condições de trabalho.
E eu usei aqui a MINHA experiência como parte do debate.
Precisa ter mestrado e doutorado para fazer Divulgação Científica?
Não. Não precisa.
Precisa buscar conhecimento técnico e científico.
+

precisa aprofundar o olhar e analisar com acurácia os dados.
É preciso, sim, se jogar em campos de conhecimento - e as especializações ajudam (e muito...).
Porém podem também nos deixar desnorteados achando que é só sobre isto que se trata.
E, ao fim e ao cabo, (tcharammm)+

podemos nos esquecer que nossa formação não é em COMUNICAÇÃO, por exemplo. E que fazer fio no twitter, cards no insta, podcasts ou vídeos não necessariamente me faz alguém entendedora da DC. Me faz alguém que está fazendo fios, cards, áudios e vídeos (risos).

Se formos comunicar apenas - e tão somente - nossa área de especialidade no sentido estrito do termo, estaríamos circulares e sem qualquer condição de estabelecer diálogo entre pares.
A pesquisa é, e deve ser, interdisciplinar - tanto quanto deve reconhecer seus limites.
+

parcerias são bem vindas, pois agregam conhecimento, nos possibilitam ampliar a visão e democratizar não apenas o nosso conhecimento específico e de nossa caixinha. Possibilitam que vejamos o conhecimento como integrado e passível de ser construído como deve ser: coletivamente.

A divulgação científica não está aqui para ser messiânica e salvadora de todos (ou não deveria estar aqui para isto).
A divulgação científica está aqui para ser acessível e acessada, pelo encantamento que temos pela ciência e por tudo o que ela nos possibilita entender do mundo +

E é por nos encantarmos por tudo o que o conhecimento nos possibilita que organizamos conteúdo, colaboramos com colegas, dialogamos com todos que for possível.
A democratização do conhecimento também não se faz por uma só pessoa - por ser democrática, busca ampliar seu escopo.

E se não for para mergulhar de cabeça em algo colaborativo, coletivo, compartilhado e, acima de tudo, HUMILDE em relação à construção do que queremos para nosso futuro, a partir de uma ciência para todos, a gente nem começa...
;-)

o fio de hoje eu nem vou pedir rt, vou só dedicar a todes da DC que tem sido colabs tão incríveis e potentes em tempos tão árduos
é nóix

Share this Scrolly Tale with your friends.

A Scrolly Tale is a new way to read Twitter threads with a more visually immersive experience.
Discover more beautiful Scrolly Tales like this.

Keep scrolling