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Divulgação de história, arqueologia e antropologia das Américas Pré-Colombianas. @precolombismos

May 9, 2021, 17 tweets

Como era o período de gravidez e o parto em tempos astecas?

A gestação é um período de muita importância para os humanos, o momento de dar à luz é o de trazer uma nova vida.

Para os astecas, não foi diferente, esses eram eventos especiais e muito sagrados.

Segue o fio🤰🏽

Antes de tudo, é importante entender que na cosmologia mexica o parto era considerado uma batalha divina, assim como a guerra, tanto é que, se uma mulher morresse no parto, ela viajaria a um dos mais elevados pós-mundos, assim como os homens guerreiros que morreram em combate.

Durante os nove meses de gestação, as mulheres mudavam completamente suas rotinas cotidianas, recebendo conselhos de sua família, de anciãos da comunidade e, principalmente, de sua parteira, as mulheres encarregadas de estar sempre acompanhando os processos da gravidez.

Assim que ficassem grávidas, a família da mulher agendava encontros cerimoniais e contratariam uma parteira.

A presença dos avôs e avós era de extrema importância porque eram eles que representavam a família e também simbolizavam Cipactonal e Oxomuco, o primeiro casal humano.

Já as tlamatlquiticitl, parteiras, deveriam possuir qualidades médicas e espirituais, elas eram aa responsáveis pelo destino da gravidez.

Durante o acompanhamento das grávidas, elas as preparavam medicamentos, alimentos, banhos especiais, massagens, orações, rituais, etc.

Os Temazcalli, casas de banho a vapor, também eram essenciais durante a gestação.

As parteiras massageavam os úteros das grávidas cuidadosamente em uma temperatura adequada para não prejudicar a mãe e o bebê.

Durante a ambientação, havia também o uso de ervas aromáticas.

Ervas especiais como a Cihuapahtli (Montanoa tomentosa) também eram usadas, o chá dessa planta aliviava dores e estimula os músculos do útero.

A planta foi e ainda é usada por parteiras no México para controlar o ciclo menstrual e facilitar contrações durante o trabalho.

Bebidas misturadas com as caudas de gambás também eram uma alternativa para trabalhos difíceis de parto.

Tal mistura funcionava como um importante expelente, pois suas caudas contém ocitocina, um hormônio que ajuda nas contrações uterinas e a reduzir o sangramento do parto.

O que fazer e não fazer durante a gravidez?

✅: Os ‘desejos de grávida’ eram vistos como necessidades que deveriam ser realizadas.

✅: Dietas consideradas saudáveis.

✅: O contato físico e as relações sexuais com o pai eram encorajadas durante os primeiros meses de gestação.

❌: Evitar o calor.

❌: Evitar dormir durante o dia.

❌: Não mascar chiclete.

❌: Evitar o que traz raiva e medo.

❌: Evitar esforços físicos.

❌: Evitar relações sexuais durante os últimos meses de gestação.

❌: Evitar comidas com cal.

Uma vez que o bebê nascesse, a parteira continuaria acompanhado a mãe, por mais alguns dias aconselhando situações e monitorando a produção do leite materno.

Os bebês eram lavados para que Chalchiuhtlicue, deusa das águas, purificasse seu coração e o tornasse bom e limpo.

Durante esses dias havia algumas cerimônias e eventos, como o enterro da placenta e o destino do cordão umbilical, o pronunciamento dos avôs e avós, assim como o ritual de nominação, geralmente escolhido a partir do Tonalamatl, um calendário-almanaque divinatório.

E o que fazer se a gestação não der frutos?

Caso o bebê falecesse dentro do útero, era comum a invocação ritualística da deusa Cihuacoatl para zelar pela mãe enquanto cirurgias com lâminas de obsidiana eram feitas para retirar o bebê do ventre da mulher.

Se uma mulher falecesse em parto, como dito mais acima, ela teria completado seus deveres como uma guerreira e seriam, então, transformadas em Mocihuaquetzqueh/Cihuateteoh, ‘semi-deusas’, que poderiam ser invocadas pelos povos nahuas e agir como mediadores entre eles e os deuses.

Tantos as Mocihuaquetzqueh quanto os homens que morreram em batalha, estavam destinados a caminhar atrás do sol em sua jornada de leste a oeste todos os dias.

Terminaremos a thread com um trecho de uma parteira direcionado a sua paciente do Códice Florentino.👇

“Minha filha, essa batalha é sua. O que podemos fazer por você?

Aqui estão suas mães, esse trabalho é seu, minha filha, pequena. Você é Quauhcíhuatl, trabalhe com ela!

Isso é, coloque toda sua força, emule Quauhcíhuatl, Cihuacoatl, Quilaztli!”

📄: Códice Florentino. L-VI.

Fontes:

Mexicolore: “Pregnancy in aztec times”

“El embarazo y el parto en la mujer mexica”, Arqueología Mexicana; Thelma D Sullivan.

“Historia general de las cosas de Nueva España”; Bernadino de Sahagún.

Códices Borbonicus, Florentino e Magliabechiano.

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