De 'casamento dos sonhos entre pastores' a acusações de pedofilia, estupro, tentativa de homicídio e ataques.
Bianca Toledo e Felipe Heiderich, missionários cristãos, casaram-se em outubro de 2013. “Não existe a menor possibilidade de eu não te fazer feliz, porque eu nasci para te amar!”, declarou Felipe em seu voto; entretanto, em menos de 3 anos, a chance “inexistente” se concretizou.
2 anos e 8 meses depois, em junho de 2016, Bianca entrou com um pedido de divórcio, seguido de uma denúncia contra o marido: ela acusou Felipe de estuprar seu enteado de 5 anos, filho de Bianca com o ex-esposo, na residência do casal no bairro Recreio dos Bandeirantes (RJ).
No período, Bianca fez a primeira de muitas postagens sobre o caso: um vídeo explicando que a separação fora motivada pela homossexualidade de Felipe e do abuso de seu filho. “Ele está atrelado com crime de pedofilia e eu estou aguardando a justiça do céu e da terra”, declarou.
Após o inquérito policial, o Ministério Público (MP) decidiu requisitar a prisão temporária de Felipe, que foi encarcerado na Cadeia Pública José Frederico Marques, no complexo penitenciário de Bangu. Após ficar preso por alguns dias, foi liberado para recorrer em liberdade.
O então senador e pastor Magno Malta (PR-ES), à época, foi taxativo ao se pronunciar contra Felipe, o classificando como “falso pastor”. Ademais, alegou que ele fora internado após uma tentativa de suicídio, e que, depois, confessou o abuso e assumiu sua homossexualidade.
Essa acusação regurgitava a publicação de Bianca, na qual ela dizia que, na clínica em que internaram Felipe, ele revelou que teria um quadro de “homossexualidade latente” (?) e que tentou suicídio após confessar ter abusado seu enteado de 5 anos.
“Na clínica psiquiatra, [ele] foi diagnosticado com uma psicose maníaca depressiva com neurose grave, múltiplas personalidades”, afirmou Bianca. Dois meses após ser libertado, Felipe se pronunciou nas redes sociais, dizendo que foi mantido em cárcere privado durante 8 dias.
“Fui dopado, levado para uma Clínica Psiquiátrica e mantido lá, dopado e por vezes amarrado”, desabafou. “Hoje temos provas de que fui refém e mantido em cárcere e coagido”. Além disso, atentou ao fato de que Bianca teria ignorado uma intimação do MP.
Os envolvidos foram intimados a prestar esclarecimentos na delegacia, mas Bianca não compareceu, pois estava numa viagem no exterior, disse Felipe. “Eu tenho, graças a Deus, liberdade de sair do meu país e voltar quando eu quiser. [...] quem não deve não teme”, retrucou a pastora
Quanto à suposta tentativa de suicídio, o pastor elucidou que tomou uma dose mais elevada de Rivotril por conta das acusações, que mitigaram sua capacidade de adormecer. “Fui acusado, julgado, maltratado, linchado e ninguém sequer me deu o benefício da dúvida”, desabafou.
A delegada responsável pelo caso afirmou, em julho de 2016, que o inquérito juntou apenas indícios, mas o estupro não foi provado. “A prova que temos são relatos testemunhais. Trabalhamos apenas com indícios, e não com provas cabais”, explicou Cristiana Bento.
A delegada da Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima asseverou que a denúncia foi fundamentada nos depoimentos das babás, do ex-casal e de laudos psicológicos e psiquiátricos da criança. Também afirmou que Felipe contribuiu plenamente com a investigação policial.
As babás afirmaram que o pastor ficava sozinho no quarto com a criança durante as viagens da mãe. Os relatos corroboravam a versão da denúncia, na qual afirmava-se que Felipe teria praticado vários atos libidinosos com o menino até 11 de junho de 2016.
Em julho do mesmo ano, Bianca fechou a igreja que fundou juntamente a Felipe, a Associação Mundial de Evangelização e Ensino (AME). Ademais, o pastor teve sua licença ministerial suspensa na Kingdom Global Ministry (KGM), conforme carta enviada pelo líder da igreja:
A missionária também expôs a intimidade do ex-marido, postando fotos em que ele estava maquiado e segurando uma bíblia ocultista. “Objetos encontrados em minha casa, no escritório do acusado, durante sua internação em hospital psiquiátrico após tentativa de suicídio", descreveu.
Na legenda, também asseverou que “Eu não tenho medo da mentira. O pai dele teme o meu Deus”, e que a convivência dos dois opunha o que Felipe pregava nos cultos. Pouco tempo depois da postagem, entretanto, Bianca apagou a publicação.
Durante o julgamento do caso, Felipe, Bianca, e a defesa de cada um continuaram a “trocar farpas”, geralmente invocando o apoio de Deus e reiterando a crença na Justiça. Nas publicações que atacavam a honra da oposição, se ressalva o amor e que não se incitava o ódio.
Em abril de 2019, o Ministério Público optou por pedir pela absolvição de Felipe, por falta de provas cabais que o incriminassem. O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro decidiu nesse sentido, absolvendo o réu. Após o sentenciamento, sua defesa postou uma nota:
Num trecho, afirmou-se que “O único laudo oficial produzido pela Polícia Civil deste Estado, por dois profissionais isentos, qualificados e de larga experiência, não concluiu pela existência de qualquer abuso”, e que o menino poderia ter sido coagido a dar falsas informações.
Bianca reagiu à decisão com nota própria, na qual assegurava ter cumprido seu papel de “MÃE”. “Nós queremos e confiamos na justiça e esta foi só a primeira instância de um processo longo e doloroso, mas que não desistirei até provar a verdade”, indicando a intenção de recorrer.
Foi interposto recurso à sentença absolutória. Por decisão unânime, a 1ª Câmara Criminal do TJRJ manteve a decisão da primeira instância e recusou a apelação. Leandro Meiuser, advogado de Felipe, disse não vislumbrar possibilidade de recurso ao STJ.
“Considero como praticamente nula a chance de reversão neste caso. Foi uma decisão unânime. Não há provas que indiquem o crime. A defesa pode até recorrer ao tribunal superior, mas nem vejo essa possibilidade. Não há mais o que se discutir”, explicou ao UOL.
Felipe comemorou a absolvição: “É um sonho isso acabar. O que eu mais ouvia de pessoas que me amavam era que a minha vida tinha acabado”. Por outro lado, lamentou as sequelas do processo: perdeu todo o patrimônio, perdeu 25kg e desenvolveu transtorno de estresse pós-traumático.
Além disso, o pastor ajuizou uma queixa contra a ex-esposa pelos crimes de sequestro, cárcere privado, injúria, difamação, calúnia e denunciação caluniosa. Mesmo durante o processo, o MP requisitou que Bianca fosse investigada por coação de vítimas, mas não foi feita apuração.
Bianca ressalvou que, na verdade, foi Felipe que recorreu para que fosse declarado inocente, mas que foi mantida a absolvição por falta de provas. Também desmentiu que ele teria ajuizado queixa-crime contra ela, pois não teria recebido intimação alguma.
Em março deste ano, Felipe revelou que estava se relacionando com o youtuber Bruno de Simone e que era bissexual. Concomitantemente, abriu mão de seu título eclesiástico de pastor, por conta de o relacionamento com o mesmo gênero ir contra os mandamentos evangélicos.
Em entrevista ao canal “Na Real”, cujo dono é seu namorado, Felipe insinuou que sua ex-esposa teria tentado assassiná-lo: ele teve de ir ao hospital após comer refeição preparada por Bianca, pois boca começou a sangrar e ele identificou que havia pó de vidro em sua gengiva.
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