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Área financeira. Formação: PUC, Coppead e Dom Cabral. Ex-subsecretário do Tesouro do Município RJ. Sócio proprietário do Flamengo. Link do canal do YouTube 👇

Jul 28, 2021, 20 tweets

1/
Hoje irei abordar um assunto um pouco mais técnico do que de costume. Falarei da extinção da taxa Libor. Estados, municípios e empresas com contratos de financiamento internacional têm se preocupado com o tema.
#Libor #Sofr
#Finanças
#SimplificaFarah
Segue o longo🧵

2/
#OqueÉaTaxaLibor?
LIBOR é uma taxa de juros média diária calculada pelos principais bancos do mundo nas transações interbancárias. Desde a década de 80, ela tem servido como a principal referência mundial para operações de créditos realizadas no mercado internacional.

3/
Por quase meio século, a Libor ajudou a balizar o crédito no mundo, além de mensurar custos de operações com derivativos, mercado futuro, swaps; servir de âncora para expectativas em relação aos juros internacionais e prêmios de liquidez e ser um indicador de saúde bancária.

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Ao usar como base de cálculo as transações entre os maiores bancos do mundo devido ao baixo risco, as taxas obtidas podem ser consideradas as menores do mercado internacional.
A Taxa Libor é sempre expressa em 360 dias, com capitalização linear (juros simples). Segue fórmula:

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A metodologia utilizada visa produzir uma taxa média dos empréstimos realizados entre os bancos que são líderes mundiais.
A seleção é feita com 8 a 16 instituições, em operações sem garantia. Na realidade, não há uma única taxa Libor, mas 35 como demonstra a imagem a seguir

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Como visto, a Libor envolve transações com 5 moedas e 7 prazos distintos. Porém, nem sempre há transações para todas as moedas em todos os prazos e, neste caso, a taxa não se baseia em operações efetivamente realizadas e sim sobre taxas que os bancos pretendiam praticar.

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Como na base de cálculo há operações não concretizadas, é possível que operadores do mercado façam pequenos ajustes em seus lances de modo a induzir um aumento ou redução na taxa, conforme conveniência.
Foi exatamente o que ocorreu segundo investigações de órgãos reguladores.

8/
Em 2012, os órgãos reguladores britânicos puniram bancos e agentes por supostos conluios entre eles de forma a arbitrarem a Taxa Libor em conveniência com seus interesses.
As investigações e punições expuseram as falhas na metodologia e o benchmark perdeu sua credibilidade.

9/
Desde então, por conta da preocupação com manipulações e liquidez do mercado, os bancos centrais vêm trabalhando para encontrar outra taxa que possa servir de referência.
As alternativas para substitução da Libor, em cada um dos 5 países, estão relacionadas no esquema abaixo:

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Já que as principais transações mundiais são em dólar, tratarei da taxa SOFR (Secured Overnight Financing Rate), escolhida pelos EUA
Como curiosidade, no Brasil, o interbancário tem como referência o Certificado de Depósito Interbancário (CDI). Seguem as diferenças p/a Libor

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Em 2014, o Federal Reserve Bank (FED NY) criou um comitê reunindo bancos, câmaras de compensação e a associação internacional de swaps e derivativos para identificar taxas referenciais alternativas com volume robusto. Assim, surgiu a SOFR. Abaixo um comparativo SOFR/Libor:

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Enquanto a Libor depende de expectativas e estava sendo mais teórica do que real, a SOFR é baseada em transações efetivamente concretizadas com garantia, além de ter um mercado de negociações significativamente maior do que aquele utilizado para mensurar a Libor.

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Tb merece atenção a ausência de um componente de crédito na mensuração da nova referência para moeda norte-americana. Em momentos de tensão do mercado, a Libor tenderia ao auto-ajuste, com base no fluxo de pagamentos e recebimentos dos bancos, o que não ocorrerá com a SOFR.

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Essas características tendem a gerar uma taxa de valor mais baixo, em média, porém poderá possuir uma maior oscilação (volatilidade).
O gráfico a seguir demonstra uma comparação da série histórica da Libor em US$ no prazo de um ano, da taxa SOFR e da SOFR semestral.

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O gráfico anterior mostra a SOFR abaixo da Libor em quase todo período. Mas, houve um pico em 17/09/19 (volatilidade). Como muitos contatos em Libor costumam ter pagamentos semestrais, a taxa a ser utilizada seria a média semestral (linha amarela), bem mais suave, portanto.

16/
A data-chave para a transição da LIBOR será em 31/12/21. Os bancos globalmente estão sendo incentivados a cessarem o seu uso a partir dessa data.
Em março, a Financial Conduct Authority (FCA) do Reino Unido publicou um anúncio sobre a descontinuidade da Libor nos prazos:

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Assim, os dias da Libor como benchmark estão contados e no fim deste ano ela já deverá deixar de ser utilizada. Logo, há um grande desafio para todas as partes envolvidas: mercado financeiro, governos, tomadores de crédito, sejam pessoas físicas ou jurídicas, entre outros.

18/
Há uma estimativa de mais de US$ 300 trilhões de contratos vigentes no mundo que possuem lastro na taxa Libor. Trata-se, assim, de um problema mundial, de grande proporções, com muitos envolvidos e no qual o Brasil não possui qualquer influência nas tratativas de solução.

19/
Todo esse volume financeiro em contratos precisará ser renegociado e ajustado para a nova taxa. Esse cenário não apenas abrirá espaço para arbitragens, como poderá desencadear uma série de processos judiciais relacionados à mudança da precificação de contratos existentes.

20/
A taxa Libor será extinta. É um movimento global e sobre o qual o Brasil não possui qualquer influência, mas sofrerá as consequências.
A Lei Complementar Federal 178/21 consentiu que os entes públicos possam aditivar os contratos que tiverem a Libor como indexador.

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