Apesar da discussão quanto à natureza política do nazismo, bem como a classificação dentro dos espectros ideológicos clássicos de esquerda ou direita, o objetivo desta thread não é novamente compilar uma bibliografia para argumentos que atestem este falso debate.
Sigam o fio!
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A disputa entre narrativas sobre a natureza do nazismo não dialoga com a metodologia histórica e sequer existiu no círculo acadêmico convencional – mesmo por aqueles que assumiram que o estudo subvertera o significado tradicional da direita, como Norbert Elias e Hannah Arendt.
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A historiografia séria e comprometida com a metodologia e os processos científicos, que envolvem os caminhos e os instrumentos usados para se fazer ciência, já demonstrou que se trata de uma pseudodiscussão.
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Existe, na historiografia tradicional, um consenso baseado em rotinas metodológicas e em padrões e fontes históricas validadas cientificamente que asseguram o campo da extrema-direita como orientação ideológica definitiva por parte do fenômeno do nazismo.
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Independentemente das origens e das motivações para o surgimento e a proliferação da ideia espúria de um “nazismo esquerdista”, o importante é compreender como ele influencia negativamente na transmissão das lições educativas do genocídio para as novas gerações.
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De que forma a popularização desta discussão ilusória e partidarizada compromete a construção de uma memória coletiva universal do Holocausto?
Quais os pressupostos desta retórica deturpada prejudicam a educação sobre a Shoá no século XXI?
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1) Negacionismos contemporâneos: o fato de que uma extrema-direita nostálgica de um passado ideal produziu o genocídio não pode ser transfigurado, sob risco de prejuízo da memória, do alerta contínuo e do legado educativo construído há mais de 70 anos: o “Nunca Mais”.
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2) Consequências da visão degenerada de que um dos legados do genocídio, a internacionalização dos direitos humanos, estaria supostamente ligado à esquerda política – e, por isso, não poderia conectar-se aos legados pedagógicos da Shoá.
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3) O fenômeno do ataque ao consenso antifascista: tal consenso identitário ocidental, construído rapidamente nos anos do pós-Guerra, tornou-se incômodo para aqueles que negam a natureza política do nazismo e descaracterizam o universalismo dos direitos humanos.
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Quanto à influência negativa deste falso debate, além do prejuízo imediato em iniciativas pedagógicas diversas (como escolas e museus), podemos ter que lidar como uma mácula que pode custar gerações para que seja sanada.
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Os negacionismos envolvem falsificações e confusões históricas, mas se alicerçam em atitudes política e ideologicamente fabricadas, que só poderão ser enfrentadas pela educação. Precisamos evitar que o discurso negacionista se transforme em hegemônico quanto à memória da Shoá.
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Para saber mais:
BAUER, Yehuda. The Holocaust in historical perspective. (1978)
BOBBIO, Norberto. Direita e esquerda: Razões e significados de uma distinção política. (2011)
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MORAES, Luís Edmundo de Souza. O Negacionismo e as Disputas de Memória: Reflexões sobre intelectuais de extrema-direita e a negação do Holocausto. (2008)
VIDAL-NAQUET, Pierre. Os assassinos da memória: um Eichmann de papel e outros ensaios sobre o revisionismo. (1998)
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