João Fellet Profile picture
Repórter da @BBCBrasil. joao.fellet@bbc.co.uk

Aug 11, 2021, 15 tweets

Poucos sabem, mas existe um deserto do tamanho da Inglaterra no interior do Brasil

Só que, diferentemente de desertos naturais como o Saara ou o Atacama, o nosso foi criado pela ação humana e fica numa região densamente povoada

E pior: ele está se expandindo

Segue o fio:

Este é um dos principais núcleos de desertificação no Semiárido brasileiro, nos arredores de Cabrobó, Pernambuco

Reparem como a paisagem mudou de 1964 a 2020

Hoje só resta algum verde ali em plantações irrigadas com a água do rio São Francisco

Este outro núcleo de desertificação fica no interior da Bahia. Em 1984, a paisagem ainda era relativamente homogênea

Em 2020, vê-se claramente o avanço da desertificação nos arredores do município de Irecê

Este mapa da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) mostra todas as áreas do Semiárido que estão em diferentes graus de desertificação

Mesmo para as que estão em estado moderado (cor azul), a reversão do processo é considerada muito difícil

Em teoria há desertos onde chove menos de 250 mm/ano

Mas conseguimos criar um deserto no Semiárido, onde chove + 300 mm

“Não era para termos um deserto no Brasil, mas hoje temos”, diz Humberto Barbosa, prof da UFAL e uma das maiores autoridades no tema

Aqui um núcleo no Piauí

Tudo começou há séculos, quando colonizadores passaram a derrubar a vegetação nativa da Caatinga

Muitas áreas desmatadas foram incendiadas e transformadas em pastagens para gado. O sobrepastoreio é uma das principais causas da desertificação no Semiárido

Ao pastar intensamente, os bois pisoteiam e compactam o solo. Com o tempo o capim não cresce mais, e a terra fica exposta

O prof Humberto Barbosa mediu temperaturas de até 48°C em solos degradados no interior de Alagoas

Não nasce mais nada ali

Nesse estágio, nem a chuva é capaz de trazer a vida de volta

"O solo dessas regiões foi perdendo a atividade biológica, embora as chuvas continuem acima do que se espera para uma região desértica. Esse que é o paradoxo", diz Barbosa

Se o fenômeno já era grave, as mudanças do clima tornaram o cenário ainda mais dramático

Entre 2012 e 2017, o Semiárido viveu a maior seca da história, fazendo com que a desertificação se expandisse

Hoje essas áreas ocupam 13% da região, o equivalente a três estados do RJ

Em Alagoas, quase um terço de todo o território do Estado está em desertificação. Na Paraíba e no Rio Grande do Norte, mais de 1/4

As consequências imediatas são aumento da fome e dos níveis de pobreza, êxodo rural e migração

E tudo tende a se agravar se a vegetação natural continuar a ser destruída

Porém, como mostramos nesta reportagem, a Caatinga tem enfrentado o maior número de queimadas dos últimos nove anos

É o bioma brasileiro onde os incêndios mais cresceram em 2021

bbc.com/portuguese/bra…

A mudança do clima também tende a agravar as condições

O último relatório do IPCC diz que o Semiárido deverá enfrentar secas ainda mais intensas e, como o resto do Brasil, um aumento da temperatura até 2 vezes maior que o aumento médio global na próxima década

O relatório anterior do IPCC já apontava um cenário sombrio. Segundo o texto, 97% do Semiárido está sujeito à desertificação

Ainda assim, por incrível que pareça, não há qualquer programa específico do governo federal pra monitorar o processo e combater a destruição da Caatinga

Todas as informações deste fio (e muitas outras) estão nesta reportagem que publicamos hoje

FIM

bbc.com/portuguese/bra…

Vários perguntando se há jeito de reverter a desertificação. Há iniciativas pontuais promissoras, mas replicá-las em grande escala ainda parece inviável

Mais urgente é conter a desertificação, protegendo a Caatinga e estimulando práticas agroecológicas fundaj.gov.br/index.php/docu….

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