Poucos sabem, mas existe um deserto do tamanho da Inglaterra no interior do Brasil
Só que, diferentemente de desertos naturais como o Saara ou o Atacama, o nosso foi criado pela ação humana e fica numa região densamente povoada
E pior: ele está se expandindo
Segue o fio:
Este é um dos principais núcleos de desertificação no Semiárido brasileiro, nos arredores de Cabrobó, Pernambuco
Reparem como a paisagem mudou de 1964 a 2020
Hoje só resta algum verde ali em plantações irrigadas com a água do rio São Francisco
Este outro núcleo de desertificação fica no interior da Bahia. Em 1984, a paisagem ainda era relativamente homogênea
Em 2020, vê-se claramente o avanço da desertificação nos arredores do município de Irecê
Este mapa da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) mostra todas as áreas do Semiárido que estão em diferentes graus de desertificação
Mesmo para as que estão em estado moderado (cor azul), a reversão do processo é considerada muito difícil
Em teoria há desertos onde chove menos de 250 mm/ano
Mas conseguimos criar um deserto no Semiárido, onde chove + 300 mm
“Não era para termos um deserto no Brasil, mas hoje temos”, diz Humberto Barbosa, prof da UFAL e uma das maiores autoridades no tema
Aqui um núcleo no Piauí
Tudo começou há séculos, quando colonizadores passaram a derrubar a vegetação nativa da Caatinga
Muitas áreas desmatadas foram incendiadas e transformadas em pastagens para gado. O sobrepastoreio é uma das principais causas da desertificação no Semiárido
Ao pastar intensamente, os bois pisoteiam e compactam o solo. Com o tempo o capim não cresce mais, e a terra fica exposta
O prof Humberto Barbosa mediu temperaturas de até 48°C em solos degradados no interior de Alagoas
Não nasce mais nada ali
Nesse estágio, nem a chuva é capaz de trazer a vida de volta
"O solo dessas regiões foi perdendo a atividade biológica, embora as chuvas continuem acima do que se espera para uma região desértica. Esse que é o paradoxo", diz Barbosa
Se o fenômeno já era grave, as mudanças do clima tornaram o cenário ainda mais dramático
Entre 2012 e 2017, o Semiárido viveu a maior seca da história, fazendo com que a desertificação se expandisse
Hoje essas áreas ocupam 13% da região, o equivalente a três estados do RJ
Em Alagoas, quase um terço de todo o território do Estado está em desertificação. Na Paraíba e no Rio Grande do Norte, mais de 1/4
As consequências imediatas são aumento da fome e dos níveis de pobreza, êxodo rural e migração
E tudo tende a se agravar se a vegetação natural continuar a ser destruída
Porém, como mostramos nesta reportagem, a Caatinga tem enfrentado o maior número de queimadas dos últimos nove anos
É o bioma brasileiro onde os incêndios mais cresceram em 2021
A mudança do clima também tende a agravar as condições
O último relatório do IPCC diz que o Semiárido deverá enfrentar secas ainda mais intensas e, como o resto do Brasil, um aumento da temperatura até 2 vezes maior que o aumento médio global na próxima década
O relatório anterior do IPCC já apontava um cenário sombrio. Segundo o texto, 97% do Semiárido está sujeito à desertificação
Ainda assim, por incrível que pareça, não há qualquer programa específico do governo federal pra monitorar o processo e combater a destruição da Caatinga
Todas as informações deste fio (e muitas outras) estão nesta reportagem que publicamos hoje
Vários perguntando se há jeito de reverter a desertificação. Há iniciativas pontuais promissoras, mas replicá-las em grande escala ainda parece inviável
Mais urgente é conter a desertificação, protegendo a Caatinga e estimulando práticas agroecológicas fundaj.gov.br/index.php/docu….
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