Rudá Ricci Profile picture
Sociólogo, trabalho com educação e gestão participativa. Presido o Instituto Cultiva

Aug 13, 2021, 18 tweets

Prometi um fio sobre o fechamento do ciclo aberto em 2018. Que ciclo foi esse? Da chegada ao poder da extrema-direita com laços com mobilizações de massa dessa corrente fanática. Lá vai:

1) Há quem faça uma leitura rasa da história recente do Brasil sugerindo simploriamente que 2013 abriu um ciclo que passa pelo ostracismo do Tiririca, a perda de identidade de Aécio Neves e José Serra, o impeachment de Dilma, a prisão de Lula e a vitória de Bolsonaro.

2) Trata-se de uma leitura apressada, sem profundidade alguma, que envolve incautos e espertalhões que querem cravar uma narrativa em que a extrema-direita aparece como irresistível, uma espécie de Godzilla vitaminada

3) A extrema-direita sempre existiu no Brasil e tem lastro na cultura escravagista psicopata. Segundo o Vox Populi e diversos outros institutos de pesquisa, amealha entre 10% e 15% dos brasileiros que se consideram adultos: 20 a 30 milhões de nativos de nosso país.

4) A aparição pública da extrema-direita tupiniquim surge em meio ao desatino da derrota de Aécio Neves. Já havia mobilização nos anos anteriores de ultraliberais e seus institutos envolvendo estudantes ressentidos de universidades. Mas, naufragavam até 2015. Este é o caso do MBL

5) Há diversos estudos que indicam uma movimentação de nossos empresários na direção do ultraliberalismo e na tomada do Estado brasileiro desde os anos 1980. Sugiro o livro (tese de doutorado) de Flávio Henrique Calheiros Casimiro

6) Contudo, a data do aparecimento da extrema-direita como ação de massas é 2015. Ocorre que em 2016 já apresentava declínio. No segundo semestre daquele ano, as manifestações das centrais sindicais já eram maiores que as da direita. Em abril de 2017 ocorreu a maior greve geral

7) na narrativa da lenda sobre 2013, o retorno à tona do PT e do movimento sindical em virtude da impopularidade do governo Temer some do mapa.

8) Acontece que houve uma série de convergências para destruir a candidatura de Lula. No frigir dos ovos, o PT é o único partido que esteve em todas eleições presidenciais que tiveram segundo turno desde 1989. Todas eleições.

9) Então, minha tese é que Bolsonaro vence as eleições com manobras ilegais (envolvendo a Lava Jato e atuação de quinta categoria do então juiz Sérgio Moro, todas desautorizadas nos últimos meses) já em meio ao declínio da repercussão do discurso de extrema-direita no Brasil.

10) Bolsonaro vence em 2018 com menos municípios em que sai vitorioso que seu adversário, Fernando Haddad (mais uma vez, o PT) .

11) Haddad, no 2o turno, recupera parte dos votos evangélicos que havia sido canalizada para a candidatura de Bolsonaro. Mas, tais dados não interessam a quem quer popularizar uma narrativa mágica. Em dez de 2018, pesquisas revelavam que 75% dos eleitores tinham boa expectativa

12) A partir daí, só decadência do apoio à Bolsonaro: de 75% para 48% ainda no primeiro semestre de 2019; de 48% para 35%; uma melhora com a implantação da ajuda emergencial para, em seguida, cair para menos de 30% e queda sequencial em 2021.

13) Mas, entre as elites, Bolsonaro mantinha apoio: alto empresariado paulista, parte significativa dos militares e comando do Centrão. Até chegar a tempestade perfeita: inflação, queda de emprego e renda familiar, pandemia, CPI da Pandemia, avanço do STF e manifestações de rua

14) E o barquinho cedeu de vez. A prisão de Beto Jefferson foi a gota d´água. Uma prisão que tem o poder de abalo subjetivo nos fanáticos bolsonaristas. Vincula, na memória, com a prisão de Sara Winter e seus 300

15) Minha outra tese é: o ciclo de 2018, aberto com a posse de Bolsonaro como presidente, se fechou. O que se pode esperar é uma reação ao estilo Trump: amalucada, exagerada e.... fracassada.

16) Bolsonaro é inconsistente politicamente. Sua base é fanática e minoritária. Mas, não é dócil. Não entrega os pontos. Tem nessa base fanática seu Exército de Brancaleone para criar problemas em 2023 e tentar "venezuelar" o Brasil.

17) Temos que nos preparar. Estamos virando uma página de nossa história. Mas, ela ainda está pregada na página anterior. Não será fácil virá-la em definitivo. E haverá muita marola, bravata e histeria. O fato é que o comando está voltando às nossas mãos. (FIM)

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